“Foco é a luta contra Covid”, anunciou a nova chefe da OMC
A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala foi nomeada na segunda-feira (15) para chefiar a Organização Mundial do Comércio (OMC), principal órgão multilateral de resolução de divergências no comércio mundial, e que congrega 164 países membros. Seu antecessor, o brasileiro Roberto Azevedo, renunciou em 31 de agosto, um ano antes do término de seu mandato.
Em comunicado, Okonjo-Iweala afirmou que sua primeira prioridade será abordar as consequências econômicas e de saúde da pandemia da Covid-19 e chamou a “implementar as respostas políticas de que precisamos para fazer a economia global funcionar novamente”.
Okonjo-Iweala vinha presidindo o conselho da Gavi, uma aliança global de vacinas fundamental para garantir que os países em desenvolvimento tenham acesso aos imunizantes contra a Covid-19, que funciona em auxílio à OMS.
“A OMC pode contribuir muito mais para ajudar a parar a pandemia. Ninguém está seguro até que todos estejam seguros”, afirmou Okonjo-Iweal, que tomará posse no dia 1 de março.
Ela contestou, ainda a política míope de privilegiar uns poucos países no acesso, o que vem sendo chamado ironicamente de “O ‘nacionalismo das vacinas’, acrescentando que “não faz sentido, porque as variantes estão chegando. Se outros países não estiverem imunizados, irão existir consequências”, afirmou,segundo o jornal inglês Guardian.
No seu entender, os membros da OMC devem acelerar o processo de levantamento de restrições de exportação, quando estiverem bloqueando fornecimento de medicamentos e material médico.
Ex-ministra das Finanças da Nigéria e ex-dirigente do Banco Mundial, Okonjo-Iweala terá como missão tirar a OMC do impasse exacerbado pelo governo Trump, cujo bloqueio à nomeação de novos juízes deixou o tribunal de apelação da OMC, e principal mecanismo de solução de disputas comerciais, virtualmente congelado.
“Nossa organização enfrenta muitos desafios, mas trabalhando juntos podemos tornar a OMC mais forte, ágil e melhor adaptada às realidades de hoje”, acrescentou.
Durante o governo Trump, a OMC enveredou por uma situação de letargia, enquanto o chefe da Casa Branca declarava a “América em Primeiro”, desencadeava guerra de tarifas e sanções aos países concorrentes, perseguia empresas chinesas de alta tecnologia e exigia de todos vassalagem aos EUA.
Trump também acusava a OMC – aliás, criada sob égide de Washington e do Consenso de Washington – de “favorecer a China”.
Antes mesmo de sua designação, a economista de 66 anos já tinha amplo apoio de membros da OMC, incluindo China, União Europeia, União Africana, Japão e Austrália. No início deste mês, o governo Biden expressou “forte apoio” a Okonjo-Iweala e disse que ela “traz uma riqueza de conhecimento em economia e diplomacia internacional”.
Também a China deu boas vindas à eleição dela. “A China parabeniza Ngozi Okonjo-Iweala por sua nomeação como a nova diretora-geral da OMC”, disse o porta-voz do ministério do Comércio da China, acrescentando que “a Dra. Iweala possui ricas experiências no gerenciamento de organizações internacionais”.
“A China apoiará firmemente o sistema de comércio multilateral, participará ativamente na reforma da OMC, apoiará o trabalho do novo diretor-geral, para que a OMC dê maiores contribuições para melhorar a governança global e melhorar o bem-estar do mundo,” disse o representante chinês.
A escolha também repercutiu intensamente na África. “Vejo sua nomeação como uma validação da competência e das capacidades de liderança, assim como da excelência, das mulheres africanas, apesar das dificuldades e dos obstáculos sistemáticos que elas enfrentam”, disse Fadumo Dayib, a primeira candidata à presidência da Somália.
Por sua vez o ex-ministro Amara Nwankpa, que participou com ela do governo nigeriano na década passada, disse que a experiência de Okonjo-Iweala mostra que “ela traz para este trabalho habilidades impressionantes em negociações internacionais e capacidade de liderança para enfrentar os principais desafios que o planeta enfrenta atualmente”.
Nwankpa se disse “otimista de que o impacto dela no comércio global será positivo, visto que seus antecedentes sugerem que ela está fortemente comprometida com a redução da desigualdade, pobreza e corrupção em todo o mundo”. “Ela é exatamente a pessoa de quem o mundo precisa no comando do comércio internacional nestes tempos turbulentos”, concluiu.
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(PL)