Durante sua participação em painel promovido pela conferência Pour Le Brésil da universidade francesa Sciences Po, transmitido pela internet nesta terça-feira (17), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), falou sobre o peso da atual conjuntura nacional no desenvolvimento dos estados e municípios, das desigualdades sociais e criticou a visão da maioria da elite brasileira.

Ao falar sobre a gestão do estado, destacou: “É um grande desafio, sobretudo, por conta da conjuntura nacional. Venço a eleição para o governo do Maranhão em 2014, assumo em 2015, exatamente quando se instala a recessão em nosso país. E de lá para cá, esses impasses só se multiplicaram. Temos alguns de natureza estrutural — a exemplo da questão tributária fortemente regressiva e inconstitucional — e alguns elementos dessa conjuntura mais recente. É muito difícil, para um governo subnacional (estados e municípios) conseguir, sozinho, sobreviver e transformar realidades numa conjuntura tão hostil”.

O governador lembrou que “de 2015 para cá, tivemos problemas políticos e fiscais, uma luta desvairada e selvagem pelo poder, resultando num inconstitucional impeachment feito em 2016 e isso precipitou uma série de contendas políticas que resultaram em dois desastres: o primeiro, Bolsonaro; o segundo, a política econômica que ele implementa”.

Flávio continuou explicado que, neste cenário, “o principal adversário não está no plano local e sim neste ambiente nacional. Tenho que enfrentar uma herança de demandas de universalização de direitos, ou seja, tenho que ampliar serviços públicos imperativamente — porque eu não poderia negar serviços básicos de saúde; não poderia deixar de multiplicar os leitos de UTI por quatro como fizemos, de abrir 20 hospitais novos; mil obras educacionais — em meio a uma crise brutal de financiamento do Estado”.

Ele criticou a agenda econômica do governo Bolsonaro e o que ela significa na vida do podo: “Alguns querem fazer um ajuste abrupto, aqui e agora, que vai ser genocida”.

Flávio falou sobre os problemas em torno do orçamento 2021 e das dificuldades, para o financiamento público, trazidas pela Emenda Constitucional 95, que impõe teto de gastos e prevê apenas a reposição inflacionária: “Como a inflação está abaixo da meta, ano que vem não tem dinheiro para nada. Por isso estamos praticamente no mês de dezembro e não se fala do orçamento de 2021. Porque politicamente, o Bolsonaro não quer colocar o orçamento para debater antes do segundo turno das eleições. Só que quando chegar dezembro, é impossível votar uma emenda constitucional para mudar o teto e elaborar o orçamento de 2021. Então, é gravíssima a situação econômica porque não se sabe nem como sair dela”.

O governador também falou sobre o comportamento da elite: “Parte muito expressiva da elite brasileira no fundo, no fundo, nunca saiu da dualidade casa grande/senzala e morre de saudade do pelourinho. Não é apenas, portanto, a desigualdade, é a desigualdade com violência explícita porque a desigualdade, em si, já é uma violência institucionalizada. Mas, uma parte da elite brasileira tem ânsia até por violência física. Então, acho que é mais uma questão de você ter força ou ter hegemonia política, cultural capaz de colocar outra agenda”.

 

Por Priscila Lobregatte

 

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