Ao longo da história do Brasil, desde a Proclamação da República, a cadeira presidencial esteve ocupada por políticos bastante plurais em suas ideologias e prioridades de governo. Entretanto, gestão após gestão, em meio às diferenças, as tratativas referentes à política externa brasileira tiveram as marcas da seriedade e do equilíbrio, buscando um caminho condizente com a Constituição Federal. Esta, em seu artigo 4º, de forma muito clara, elenca os princípios que devem reger as relações internacionais neste país. O que se vê no atual governo, infelizmente, é a escolha de um caminho de preocupante e inédita ruptura.

Por Flávio Dino*

O reconhecido posicionamento de independência do Brasil em sua política externa deu lugar a uma espécie de sombreamento nunca antes visto, pelo qual seguem-se diretrizes unilaterais de um país, no caso os Estados Unidos, em alinhamento quase que automático. E, o pior, com evidências reiteradas de tratar-se de uma relação platônica, de mão única, com escassos resultados e graves contradições.

O resultado desse desequilíbrio está às claras. O Brasil perdeu em larga medida o “poder brando” no mundo, isto é, a capacidade de influenciar outras nações e, principalmente, de estabelecer relações de confiança. Perdemos a dimensão do profissionalismo que sempre marcou a diplomacia brasileira em franco desrespeito à memória institucional do Itamaraty.

Isto é tão grave quanto a construção de uma imagem externa com indicadores vergonhosos, a exemplo da incapacidade de gestão, priorização de duvidosos interesses familiares e secundarização de agendas fundamentais ao desenvolvimento da Nação, como educação, saúde, direitos humanos e meio ambiente.