Flávio Dino: fala de Bolsonaro sobre fraudes ameaça eleições futuras
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), rechaçou, nesta terça-feira (10) a declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre supostas fraudes que teriam levado a eleição de 2018 para o segundo turno. Na opinião do governador, a fala de Bolsonaro é perigosa, não só por colocar em xeque a lisura do processo eleitoral em 2018, mas também porque questiona a segurança do sistema de voto brasileiro para pleitos futuros.
“É um gravíssimo ataque. Na medida em que o chefe de Estado, visitando outro país, dirige essa crítica ao processo eleitoral e à Justiça Eleitoral, isso pode atingir o passado e o futuro. Isso é algo nunca visto, é inusitado. Ameaça a imagem brasileira na seara internacional, além de ter essa repercussão dramática sobre a essência do regime democrático, que é a certeza de que os votos são conferidos e apurados com legitimidade”, criticou Flávio Dino, em entrevista ao programa Isso é Bahia, na Rádio A Tarde FM.
A declaração de Bolsonaro foi dada nesta segunda-feira (9), em evento nos Estados Unidos. Ele não apresentou ou citou qualquer indicativo oficial para justificar sua fala.
O governador do Maranhão pediu que a Polícia Federal investigue a acusação de Bolsonaro.
“É uma grave acusação, que deve vir seguida de provas e deve ser apurado pela Polícia Federal porque de duas uma: ou estamos diante de um fato gravíssimo, uma fraude eleitoral abrangendo a eleição presidencial, ou estamos diante de um outro fato gravíssimo, que é o presidente da República fazendo uma acusação falsa, destituída de elementos de prova”.
Candidatura em 2022
Constantemente apontado como possível candidato à Presidência da República, Flávio Dino, uma dos principais novos nomes da esquerda brasileira, confirmou que deve concorrer a algum cargo eletivo nas eleições de 2022, mas não disse qual. Além da Presidência, ele pode, no plano federal, tentar o Senado e a Câmara dos Deputados – ou também a vice em alguma chapa presidencial.
“Eu saí do cargo de juiz federal por decisão própria, para ingressar na política. Por coerência, claro que devo disputar as eleições de 2022, mas é uma decisão em 2022. O foco principal, hoje, é o governo do meu estado. É tempo de garantir a democracia, reduzir o desemprego. [Candidatura em 2022] Não é algo que preside minha vida. Cada dia com sua agonia”, argumentou.
Alianças fora da esquerda
Criticado pela aproximação com figuras de fora da esquerda, como o apresentador Luciano Huck, o governador defendeu que, em momento de situação política “grave” como a provocada pela forma de governar de Bolsonaro, é necessário ampliar as lideranças para fora de seu espectro político. Na avaliação dele, se atuar sozinha, a esquerda não será capaz de ajudar na superação de problemas enfrentados pelo país.
“É uma prova de humildade nossa entender que outras lideranças têm um papel muito grande em relação à manutenção das regras do jogo democrático. Isso não é aliança eleitoral, eu nunca defendi aliança com Luciano Huck, mas prefiro dialogar com essas personalidades do que vê-las eventualmente se alinhando a um projeto antipopular e antinacionalista. O importante hoje é garantir que cheguemos a 2022, que haja processo eleitoral”, afirmou. “Temos que fazer política mais ampla. Por isso considero que, diante da dimensão do gigantesco desafio que temos pela frente, temos que dialogar com partidos de várias frentes. Em um momento que exige muita coragem e humildade, você não se isola”, reforçou.
Protestos de domingo
Flávio Dino classificou como “imenso erro” a convocação, feita por Bolsonaro, para protestos a favor de si mesmo no próximo domingo, 15. A convocação das manifestações inclui ataques a instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o Judiciário.
“Temos a crise do dólar. Tivemos o pibinho, de 1,1%, descontrole cambial ameaçando finanças públicas e a inflação. Neste momento, é preciso de serenidade, diálogo, e não convocar uma manifestação pública antidemocrática para pressionar Congresso e o Supremo. As manifestações do dia 15 são uma forma de afastar controles previstos pela Constituição para alimentar seus intuitos inclusivistas, personalistas, de beneficiar familiares”, disse o governador, para quem há setores próximos a Bolsonaro querendo “uma ruptura, rasgar a Constituição”.