Flávio Dino desmente no Vaticano representante do governo Bolsonaro
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), rebateu nesta segunda-feira (28), no Vaticano, durante reunião da Cúpula dos Governadores dos estados Pan Amazônia, as declarações do secretário de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania do Ministério das Relações Exteriores, Fábio Mendes Marzano. Segundo Marzanos, não há crise ambiental na Amazônia, principal motivo que levou o Papa Francisco a promover o debate.
“Não se justifica falar em crise ambiental no Brasil”, afirmou o representante do governo Bolsonaro, posicionando-se contra a avaliação feita no Sínodo da Amazônia.
Durante a participação na Cúpula, o governador Flávio Dino lembrou que o Brasil experimentou dois momentos recentes que provam a existência de uma grave crise ambiental: as queimadas na Amazônia e, atualmente, o derramamento de óleo nas praias do nordeste.
Para o governador do Maranhão, a reunião tem o importante papel de combater o discurso de negação de uma crise ambiental e de enfrentar as consequências e impactos com rapidez que é exigida nessas situações.
“Bebendo da fonte do Sínodo da Amazônia, é preciso enfrentar o negacionismo e, ao mesmo tempo, enfrentar os discursos equivocados sobre a soberania nacional. A soberania nacional não é um valor que impeça a cooperação entre os povos, ao contrário, exige”, defendeu Flávio Dino.
Na oportunidade, o governador do Maranhão destacou ainda a importância dos países se comprometerem com as populações indígenas e demais povos tradicionais.
“Me parece algo fundamental, sobretudo no que se refere à defesa dos territórios que estão, infelizmente, ameaçados por uma lógica integracionista, assimilacionista, que visa, na verdade, negar a dignidade dos povos tradicionais”, destacou Flávio Dino.
Ele apresentou a experiência do Maranhão, que produziu um Plano Plurianual dedicado aos indígenas, sugerindo esta como uma alternativa específica também no documento final da Cúpula.
No discurso, Flávio Dino pontuou a necessidade urgente de combater, como foi orientado no Sínodo, o antagonismo do superdesenvolvimento, em que nações ricas e privilegiadas consomem em excesso, e o subdesenvolvimento, com nações excessivamente pobres.
“(É preciso) que sejam lembradas que as responsabilidades dos conceitos das nações sejam diferenciadas, na medida em que os mais fortes devem, de fato, cumprir os seus compromissos atinentes à fonte de financiamento de um novo modelo de desenvolvimento equilibrado, sustentável para a Amazônia e para a humanidade”, ressaltou.
No evento, o Monsenhor Marcelo Sanchez Sorondo, representando o Papa Francisco, fez um discurso em defesa dos mais pobres, dos direitos humanos e contra o tráfico de drogas na região.
Distanciamento de Bolsonaro
A reunião foi proposta pelo Consórcio de Governadores da Amazônia Brasileira, da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN-A). Representantes de outros países da América Latina também participaram. A tentativa, segundo os participantes, foi mostrar no cenário internacional que os governos locais querem se aproximar de quem está disposto a dar dinheiro para manter a floresta em pé.
No encontro, os governadores reconheceram que a imagem que tentam reforçar contrasta com o posicionamento de Bolsonaro em questões ambientais. Desde que assumiu, o presidente tem defendido a exploração econômica da Amazônia e a liberação da mineração em terras indígenas. Bolsonaro também vem sendo acusado de incentivar, com o enfraquecimento da fiscalização, o aumento de ocupações ilegais e desmatamento.
Para conservar a floresta, o grupo está em busca de dinheiro no exterior. Nos últimos meses, novos repasses do Fundo Amazônia, criado em 2008 para financiar projetos com foco na redução do desmatamento e que conta com recursos da Noruega e Alemanha, foram suspensos.
“Defendemos o retorno imediato do Fundo”, afirma Flávio Dino. “Queremos participar da implementação desses projetos que estão associados a metas, não queremos dinheiro distribuído graciosamente”.
Além de Flávio Dino, participaram do encontro no Vaticano os governadores do Amazonas, Wilson Lima (PSC); Amapá, Waldez Góes (PDT) e do Pará, Helder Barbalho (MDB). O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também participou, apesar de seu estado não fazer tecnicamente parte da Amazônia Legal. Já os governadores de Mato Grosso, Acre, Tocantins, Rondônia e Roraima não compareceram.