Em entrevista após o resultado eleitoral de 2018, o governador reeleito – no primeiro turno – do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), conversou com os jornalistas Josias de Souza e Leonardo Sakamoto, do Portal UOL na manhã desta terça-feira (30) sobre o papel da esquerda, a renovação e os rumos dessa força política.

Segundo Flávio Dino, para definir o papel da esquerda e da oposição democrática é preciso ter mais clareza sobre os rumos que irá tomar o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). “Não há nitidez de quais serão as principais medidas [do governo de Bolsonaro]”.

Porém, o governador acredita que o projeto que será aplicado deve ser o mesmo proposto em algumas ocasiões pelo próprio Bolsonaro e por seu vice, General Mourão tais como privatização das estatais e cortar direitos dos trabalhadores e aposentados. “Nós sabemos que ele tem uma agenda de slogan contra minorias, direitos de um modo geral. Porém, não houve possibilidade por conta de a dinâmica da campanha presidencial não ter ocorrido nenhum debate criterioso, quanto a materialidade disso. Nós sabemos, genericamente, que teremos uma agenda de privatizações e de redução de serviços públicos”.

Na visão de Flávio Dino, com esse apontamento, “é determinante que o papel da oposição democrática e de esquerda seja da crítica, em relação a quem governa. Eu prevejo, infelizmente, mais um ano de recessão, e, portanto, de dificuldades econômicas dramáticas. Seja em nível federal, estados e municípios”.

Cláusula de barreira

Com a reforma política aprovada em 2017, para continuarem recebendo verba do fundo partidário e o tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV, os partidos teriam que obter nas eleições para a Câmara dos Deputados, pelo menos 1,5% dos votos válidos. Entretanto, cerca de 14 partidos não conseguiram atingir esse número, entre eles, o PCdoB. Questionado sobre o caminho que o PCdoB deve seguir, Flávio Dino lembrou que a legenda chegou a 1,4% dos votos válidos, ficando bem próximo dos 1,5%.

“Provavelmente a solução legal será algum tipo de fusão partidária ou de incorporação. A curto prazo esse é o caminho legal para garantir o funcionamento da bancada. Na verdade, basta um partido, porque faltou 0,1, então nós estamos diante de várias opções que tem sido conduzida pela presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, e muito provavelmente até o final do ano a gente vai ter a resposta de um partido”.

Nordeste

Na entrevista, o governador também falou sobre o desempenho da esquerda na sua região, o Nordeste. Fernando Haddad (PT) teve ampla vitória nos nove estados da região (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), além da eleição de governadores do campo da esquerda. Para Dino, houve uma definição clara e madura da região sobre uma visão do desenvolvimento do país.

“Em relação ao Nordeste, houve uma definição clara, madura acerca de uma visão sobre o desenvolvimento do Brasil. Há, infelizmente, daqui e de acolá, um ou outro mais exaltado do pensamento de direita no país que diz assim: ‘O nordestino não sabe votar’. A uniformidade, a homogeneidade desse voto mostra que, ao contrário, há muita convicção em relação a uma visão de desenvolvimento que seja inclusiva e que leva em conta a temática da justiça social dos serviços públicos e o papel dos investimentos públicos”, disse.

Poder moderador

Enquanto juiz federal por 12 anos, antes de se filiar ao PCdoB, Flávio Dino avalia que o Supremo Tribunal Federal (STF) terá uma posição fundamental na luta contra eventuais movimentos de retrocesso do novo governo do presidente eleito.  “Tenho a avaliação de que o Supremo Tribunal em particular deve atuar fortemente como um poder moderador desses eventuais arroubos de retrocesso, não só no plano social, mas outros terrenos como da moral.  O Supremo tende a atuar equilibrando esse jogo até mais do que o próprio Congresso no primeiro momento”.

Para Flávio Dino, o Supremo deve agir contra eventuais atos de violência e perseguições. “O Supremo também deve caminhar nessa direção de ser importante poder de contenção de eventuais propósitos antidemocráticos e de proteção desse legado que é a Constituição de 1988”.

Confira a íntegra da entrevista: