Flávio Bolsonaro | Foto: reprodução/Google

Flávio Bolsonaro se recusa a comparecer à acareação marcada pelo Ministério Público do Rio, para o dia 21 de setembro, entre ele e o empresário Paulo Marinho, que denunciou o vazamento da Operação Furna da Onça em 2018.

Marinho informou à Justiça que na época o senador eleito o procurou pessoalmente, quando o empresário ainda era aliado de Jair Bolsonaro, para pedir ajuda porque recebera uma informação privilegiada de que seria desencadeada uma operação que atingiria a ele e seu assessor Fabrício Queiroz. A informação teria sido passada por um delegado da PF.

A acareação entre os dois está marcada para o dia 21 deste mês, no Rio de Janeiro. A defesa do senador informou que ele não vai comparecer nesta data porque, por lei, parlamentares têm direito a marcar dia, local e hora para seus depoimentos. Flávio vem se recusando a colaborar com as investigações. Em mais uma manobra protelatória, os advogados de Flávio vão questionar ainda a atuação do procurador responsável pela investigação.

Mais do que fugir de dar as explicações, o filho mais velho do presidente não quer que o país saiba de nada sobre seus crimes. Ele conseguiu que a juíza da 33ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, Cristina Serra Feijó, censurasse a Rede Globo para que não seja noticiado nada sobre o processo de lavagem de dinheiro no gabinete do então deputado estadual, que é investigado pelo MP-RJ, juntamente com seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Além disso, a partir desta semana, começaram ameaças a integrantes do Ministério Público.

A Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Amperj), entidade que representa promotores e procuradores de Justiça, afirmou na segunda-feira, 7, que a ofensiva do senador Flávio Bolsonaro contra a promotora Patrícia do Couto Villela, que chefiou investigações contra ele à frente do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), é uma “flagrante tentativa de intimidação” e um “ataque” aos responsáveis pela apuração e ao próprio Ministério Público fluminense.

O inquérito cujas investigações foram comandadas por Villela chegou ao fim e a tendência é que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro seja denunciado pelo MPRJ sob a acusação de chefiar uma organização criminosa que promovia lavagem de dinheiro em seu gabinete na Assembleia Legislativa quando era deputado estadual.

Reportagem da revista Veja mostra que há um pedido de Flávio ao presidente do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Augusto Aras, para que seja “instaurada sindicância ou processo disciplinar para apuração de eventuais infrações e até mesmo possíveis crimes de abuso de autoridade que possam ter sido cometidos” por Vilela e pelo grupo de promotores comandado por ela. A entidade do MP considera esse tipo de pressão inaceitável.

“A digna promotora Patrícia do Couto Villela (…) sofreu representação mendaz perante o Conselho Nacional do Ministério Público, em flagrante tentativa de intimidação, que será vã, por ter exercido as suas atribuições com independência, sempre submetendo as questões ínsitas à reserva jurisdicional ao crivo do Poder Judiciário”, escreveu a entidade em nota assinada pelo presidente, Ertulei Laureano Matos, e pelo diretor de defesa de prerrogativas, Tulio Caiban Bruno. “Malsinada investida, conquanto personalizada, representa ataque a todos os membros do Grupo de Combate à

Corrupção, bem como à instituição do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro”, completa.

Na representação contra Villela, Flávio pede que ela seja investigada por eventual crime de abuso de autoridade e infrações disciplinares. Ele conseguiu que a promotora fosse intimada pelo CNMP a se explicar sobre um suposto arrombamento da porta da franquia Kopenhagen, pertencente a ele, no Shopping Via Parque, que teria ocorrido em uma ação deflagrada em dezembro de 2019 para colher provas no local.

A colegas de MP, Patrícia negou que a loja tenha sido arrombada — disse que um chaveiro foi acionado para destravar a porta e que isso era necessário porque havia o receio de que provas fossem apagadas a distância, pela internet. Flávio reclamou também ao CNMP de vazamentos à imprensa de informações do inquérito que corre contra ele, sob sigilo. O senador pediu que promotores do Gaecc fossem afastados do caso.

Se Flávio conseguir sucesso na pressão sobre o MP-RJ ele poderia usar isso para pedir a rejeição da denúncia pela Justiça, ou, se for aceita, para tentar anular provas e conseguir a sua absolvição. Na nota, a Amperj afirma que ofensiva de Flávio tem “o único intuito de desqualificar as investigações que têm evidenciado fatos graves contra a autoridade investigada”.