O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), que tinha ligações íntimas e muito antigas com o miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime assassinado na Bahia, tornou-se alvo de uma representação no Conselho de Ética do Senado Federal, que pode resultar na perda do mandato por quebra de decoro parlamentar.
O pedido a cassação do mandato do senador foi protocolado na quarta-feira (19), por uma comitiva de parlamentares da Rede, Psol e PT. No documento entregue ao Conselho de Ética, os partidos argumentam que o motivo principal da representação contra Flávio Bolsonaro “é sua ligação forte e longeva com as milícias no Rio de Janeiro”.
Para o líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), o “zero um” de Jair Bolsonaro precisa “explicar suas relações com pessoas ligadas às milícias”. O parlamentar ressalta que “as investigações das autoridades cariocas trazem indícios contundentes desta relação e a sociedade brasileira carece de explicações, especialmente por se tratar de um parlamentar e filho do presidente da República”.
A representação relaciona relatos de investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC) do Ministério Público do Rio de Janeiro. A suspeita da existência de um esquema de “rachadinha”, isto é, apropriação indébita de salários de assessores, e lavagem de dinheiro, entre outros crimes, são investigados pelas autoridades.
Adriano da Nobrega, um ex-capitão do Bope, foi morto em uma operação policial realizada na Bahia e era peça chave nas investigações envolvendo os crimes de Flávio Bolsonaro. Quando deputado estadual no Rio, Flávio empregou a mãe e a ex-esposa de Adriano, sendo que ambas faziam parte do esquema da “rachadinha”.
O dinheiro do esquema criminoso era recolhido por Fabrício Queiroz, outro assessor de então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Queiroz, ex-colega de Adriano na polícia, emergiu no cenário nacional devido ao escândalo do Coaf, que detectou movimentações financeiras suspeitas na conta do ex-assessor do filho de Jair Messias.
Porém, as relações do hoje senador com Adriano da Nobrega não ficam na contratação de parentes. Por duas vezes, o ex-capitão – expulso da PM por envolvimento com a máfia do jogo do bicho – foi homenageado por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A representação é assinada pelos presidentes dos três partidos: Juliano Medeiros (Psol), Pedro Ivo de Souza Batista (Rede) e Gleisi Hoffmann (PT).
Para o presidente do Psol, Flávio não tem condições de exercer o mandato por suas ligações com as milícias. “É um crime continuado. Ele também é acusado de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção e associação criminosa. Não é possível conviver com um senador que tenha tido essas práticas no seu currículo como deputado estadual”, disse ao site Congresso em Foco. “Ele não tem decoro nem é ético”, acrescentou.
Além do afastamento do senador, os dirigentes partidários pedem que pessoas ligadas ao senador sejam ouvidas pelo Conselho de Ética, entre elas Fabrício Queiroz.
O pedido de cassação foi entregue em uma reunião com o presidente do conselho, Jayme Campos (DEM-MT). O senador afirmou aos parlamentares que “agirá conforme estipulam as regras e os prazos da Constituição Federal e o regimento interno da Casa” e que tem “a consciência tranquila quanto à sua imparcialidade durante o processo”.