Flávio Bolsonaro | Foto: Cristiano Mariz

A defesa de Flávio Bolsonaro confirmou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Presidência da República, foi usado para espionar as investigações do Ministério Público sobre o esquema de lavagem de dinheiro montado por ele em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando era deputado estadual.

Desde o início do escândalo, o “zero um” vem tentando anular as provas de seus crimes, obtidas pelo MP e a polícia.

Os advogados disseram que levaram ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República o que apontaram como “suspeitas de irregularidades das informações constantes dos Relatórios de Investigação Fiscal” lavrados em nome do senador.

O pretexto para a espionagem foi dizer que relatórios da Receita Federal feitos sobre os bens do senador diferiam, em muito, das características, do conteúdo e da forma dos mesmos relatórios elaborados em outros casos, “ressaltando-se, ainda, que os relatórios anteriores do mesmo órgão não apontavam qualquer indício de atividade atípica por parte do senador”.

Bolsonaro já havia perseguido furiosamente, até praticamente extinguir, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) por ele ter elaborado um relatório que apontava a movimentação suspeita de R$ 7 milhões na conta do comparsa de Flávio, Fabrício Queiroz, seu assessor na Alerj, entre os anos de 2014 e 2017. Depois interveio na Receita Federal e ameaçou demitir, como também fez com a Polícia Federal, o superintendente do órgão no Rio.

Esta clara tentativa de intimidar os membros do Ministério Público do Rio, a polícia e o Poder Judiciário visa a inventar um vício de origem e tornar inválidas as provas contra o senador.
Provas que indicam que o parlamentar lavava dinheiro com os salários devolvidos de seus servidores fantasmas na Alerj.

Esta é uma reação desesperada à decisão tomada na semana passada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) de impedir a anulação, pretendida por Flávio, de toda a investigação conduzida pelo juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, responsável por toda a primeira fase das investigações. O ministro Felix Fischer não viu nenhuma irregularidade nas investigações.

Sem a presença do parlamentar, então em isolamento por ter contraído Covid, as advogadas apresentaram as supostas atividades irregulares de auditores da Receita contra Flávio.

CPI

O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) iniciaram a coleta de assinaturas para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o uso do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para interferir em investigações do Ministério Público que envolvam familiares do presidente Jair Bolsonaro.

“É um ataque à Constituição e às leis do país o presidente da República usar seu cargo público e as instituições de inteligência para tentar livrar seu filho de uma investigação criminal, conduzida pelo Ministério Público. Não é assunto de segurança familiar, mas de blindagem da família contra a aplicação da lei. Vamos tomar todas as medidas para apurar esta gravíssima denúncia que, se comprovada, constitui claramente crime de responsabilidade”, disse o líder do PSB na Câmara.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chamou o Conselho de Ética do Senado, que ainda não tomou posição sobre o caso do senador Flávio, de “figurativo”.

A intenção é instalar uma CPI mista, mas, segundo os parlamentares, ainda não se sabe se o requerimento terá apoio no Congresso. “Esperamos que uma denúncia grave dessas mobilize os parlamentares e a partir de terça-feira começamos a coletar as assinaturas”, afirmou Randolfe.