Os cortes de verbas no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para 2022 e as consequências devastadoras para a área no Brasil mobilizam pesquisadores e pesquisadoras em todo o país.

O anúncio do corte foi feito no início deste mês quando o Ministério da Economia apresentou à Comissão Mista do Orçamento que a pasta ficaria com R$ 89,8 milhões. As entidades científicas dizem que a pasta receberia R$ 690 milhões. As entidades alegam que 90% do volume mudou de destinação em cima da hora.

Ao Portal PCdoB, a presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), integrante da direção nacional do PCdoB, Flávia Calé, disse que “é o menor orçamento do século 21 e não há dúvidas de que o governo Bolsonaro tem um projeto de destruição nacional”, afirmou.

Flávia Calé, presidenta da ANPG

Segundo ela, o momento vivido pela ciência brasileira é dramático. “Talvez seja o pior momento da sua história”, definiu.

Com várias performances de luta, na última terça-feira (26), mais de 40 entidades e organizações científicas, entre elas, a ANPG e a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), realizaram ações nas redes sociais para denunciar os cortes realizados pelo governo de Jair Bolsonaro. “É um projeto nefasto e de destruição e a gente precisa tirar o Bolsonaro Já”, declarou Flávia Calé.

Com a hastag #SOSCiência , a ação foi um dos assuntos mais comentados dos Trend Topics do Twitter. O #SOSCiência realizou atividades presenciais e on-line para denunciar o mais recente ataque à ciência que foi a retirada de 600 milhões de reais do orçamento do MCTI para ser distribuído entre outros ministérios.

Soberania fragilizada

A situação de estudiosos e pesquisadores da área de ciência e tecnologia no Brasil é alarmante desde que a extrema direita assumiu o governo federal. Há cerca de 30 mil trabalhos científicos sem investimentos e que estão paralisados, estudantes da área também não recebem bolsas para continuarem os estudos.

A melhor forma de fragilizar a soberania de uma nação é atacar a ciência, salientou a dirigente da entidade. Ela explicou também que no contexto da economia do conhecimento, o mundo está dividido entre os países que consomem e que produzem tecnologia. “O projeto do Bolsonaro e do Guedes, amplamente dito por eles, é que é mais barato comprar tecnologia do que produzir.  Então o Brasil se insere nessa economia do conhecimento no século 21, nessa reconfiguração da geopolítica, como consumidor de tecnologia, numa condição de subalternidade”, analisou Flávia Calé.

Cortes comprometem combate à Covid-19

A presidenta da ANPG considerou alarmante o desvio de recursos do MCTI para outras pastas, principalmente num momento de pandemia. Ela explicou que os 600 milhões fazem parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A verba do Fundo é obrigatória para o investimento em ciência. O Edital Universal do CNPq e o financiamento de infraestrutura de pesquisa, como importação de insumos, reagentes e equipamentos, eram duas das áreas e projetos que deveriam ser financiados pela verba que foi desviada para outras pastas, informou Flávia.

“O que nós deixaremos de descobrir quando pesquisas não são realizadas? Esse é um debate importante”, destacou a dirigente. Ela lembrou que os cortes de Bolsonaro comprometeram no ano passado a detecção de novas variantes da Covid-19.  “O projeto de decodificação do genoma da Covid-19 diminuiu por falta de insumo. O baixo investimento fez a linha de pesquisa diminuir o número de decodificação de genomas quando o Brasil estava sendo um laboratório de novas variantes da Covid”, exemplificou.

Valorizar jovens pesquisadores brasileiros

Uma das bandeiras dos protestos organizados pela ANPG é que a reposição dos cortes no orçamento do MCTI venha do orçamento da União e não dos recursos do FNDCT. “A verba do FNDCT deve servir para investimentos estratégicos e nós estamos defendendo como investimento estratégico a valorização da carreira científica. É preciso valorizar os jovens pesquisadores no Brasil”.

Flávia lembrou que é a bolsa de estudos que remunera o trabalho da pós-graduação. “Os pós-graduandos são estudantes, mas também são profissionais”, afirmou. Segundo ela, a bolsa não alcança nem metade dos pós-graduandos do país e está há 8 anos sem reajuste, o que implica em uma perda de 60% no poder de compra.

“Essa luta pelo reajuste da bolsa esteve no centro da nossa discussão e nós defendemos que o FNDCT seja investido exatamente na formação e valorização dos talentos do país porque ciência se faz é com pessoas. Uma máquina sozinha não faz ciência, mas mentes, pessoas altamente qualificadas, com formação de excelência podem desenvolver a ciência”, completou ela.

Por Railídia Carvalho