Fim do auxílio emergencial e desemprego prejudicam consumo familiar
Apesar da crise ter explodido no ano da pandemia, a taxa de desemprego do Brasil – que em 2020, atingiu o patamar mais elevado do último período – se mantém na casa dos dois dígitos já há cinco anos, observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), que avalia ser esse um dos maiores obstáculos “ao crescimento do PIB e ao avanço da produtividade do país”.
“Com o desemprego muito elevado e alguma melhora muito concentrada em ocupações informais e “bicos”, a massa de rendimentos efetivamente recebidos, que funciona como a base do consumo, voltou a piorar registrando -8,7% no 3º trim/20 e -10% no 4º trim/20 frente ao mesmo período o ano anterior. O rendimento real efetivo ficou no negativo (-1% no 4º trim/20), algo que não ocorria desde o final de 2016”, apontou o IEDI ao analisar os dados do desemprego divulgados pelo IBGE na sexta-feira (26).
“No 4º trim/20, a amenização da queda do emprego em comparação com igual período do ano anterior veio sobretudo do trabalho por conta própria, que representa os chamados “bicos” e do emprego sem carteira. Estas categorias tendem a ter rendimentos menores e mais instáveis, o que na ausência do auxílio emergencial pago pelo governo até o final de 2020, compromete a recomposição do consumo das famílias”. O rendimento real efetivo ficou no negativo (-1%) no encerrar do ano – algo que não ocorria desde o final de 2016.
Para o instituto de estudos da indústria, “níveis tão altos de desemprego e por tanto tempo dificultam o retorno das pessoas ao mercado de trabalho, tornam suas competências obsoletas e impõem obstáculos ao crescimento do PIB e ao avanço da produtividade do país”..
A taxa de desocupação aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD-Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) chegou ao recorde da série histórica no terceiro trimestre de 2020. Ao todo, são 13,9 milhões de desempregados, representando uma alta de +19,7% em relação ao quarto trimestre de 2019.
De acordo com o IBGE, o patamar médio da taxa de desocupação ficou em 13,5% e, a despeito da flexibilização das medidas de isolamento no segundo semestre, a taxa encerrou o quarto trimestre (out-nov-dez) em 13,9%.
Destruição massiva de postos de trabalho
“Mas o dado que melhor ilustra a dramaticidade do quadro do emprego no país é a comparação com o final de 2014, isto é, antes da destruição massiva de postos de trabalho dos últimos anos. O contingente de desocupados no 4º trim/20 mais do que dobrou no período: +117% ante 4º trim/14”, destacou o IEDI.
E prosseguiu: “De 2014 a 2020, o país não conseguiu criar vagas para ocupar todos os jovens que entraram no mercado de trabalho nem para manter empregados os que já estavam ocupados. Do 4º trim/14 ao 4º trim/20, a ocupação total do país recuou -7% ou 6,2 milhões de ocupados a menos”.
Para o IEDI, a pandemia contribuiu para a deterioração desse quadro. “Na média de 2020, as perdas mais graves vieram do trabalho doméstico, do trabalho sem carteira assinada e de empregadores, refletindo a falência de muitas empresas no período. O emprego com carteira, menos vulnerável às oscilações da atividade econômica geral e que contou com programas emergenciais de proteção durante a pandemia, caiu tanto quanto o total da ocupação. O setor público, provavelmente devido ao aumento dos serviços de saúde, foi o único tipo de emprego a crescer em 2020”, diz o instituto.
Na grande maioria das comparações entre os trimestres de 2020 e 2019, houve quedas na ocupação total, emprego com carteira assinada, emprego sem carteira assinada, trabalho por conta própria e, também, empregador.
“A ocupação média anual em 2020 ficou 7,9% abaixo da de 2019 e, embora o desempenho no 4º trim/20 não tenha sido tão negativo como dos dois trimestres anteriores, o declínio de ocupação continuou intenso, como mostram as variações interanuais a seguir”.
• Ocupação total: +0,4% no 1º trim/20; –10,7% no 2º trim/20; –12,1% no 3º trim/20 e -8,9% no 4º trim/20;
• Emprego com carteira assinada: +0,5%; -9,2%; -11,2% e -11,2%, respectivamente;
• Emprego sem carteira assinada: -0,9%; -24,9%; -23,9% e -15,8%;
• Trabalhador por conta própria: +1,7%; -10,3%; -10,8% e -5,2%;
• Empregador: -1,1%; -9,5%; -11,6% e -11,7%;
• Trabalho doméstico: -2,2%; -24,6%; -26,5% e -22,9%;
• Setor público: +2,6%; +6,0%; +1,2% e +4,5%, respectivamente.