Senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ),

Em mais uma tentativa de obstruir o trabalho do Ministério Público do Rio, a defesa do senador Flávio Bolsonaro entrou, na noite de quarta-feira (18), com pedido junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que sejam suspensas as investigações sobre o esquema de lavagem de dinheiro montado em seu gabinete, à época em que era deputado estadual.
A investigação foi retomada depois que o plenário do Supremo derrubou em novembro a decisão liminar de suspendê-la, dada a Flávio em julho deste ano pelo presidente do Supremo, ministro Dias Tofolli.
O relator do pedido será o ministro Gilmar Mendes.
Relatório do MP/RJ revelou ligações do gabinete de Flávio com funcionários fantasmas e até com milicianos que recebiam pelo gabinete do deputado sem trabalhar. Parte dos salários eram devolvidos para a conta de Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira) detectou uma movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre 2016 e 2017. Esse valor chegou a R$ 7 milhões quando a análise retroagiu até o ano de 2014. O MP afirma que o dinheiro recebido ilegalmente pelo parlamentar foi lavado com compra e venda de imóveis com preço subfaturado e em sua loja de chocolates.
IMÓVEIS
Na compra de dois imóveis, em 27 de novembro de 2012, o senador depositou R$ 638,4 mil em dinheiro vivo na conta do corretor. Oficialmente, no dia da compra, o senador depositou, em cheque, o valor correspondente a R$ 310 mil pela compra dos dois apartamentos. No mesmo dia em que foram assinadas as escrituras de compra e venda dos dois apartamentos e depositados os cheques de pagamento, a conta do corretor Glenn Dillard recebeu depósitos em dinheiro do parlamentar e de sua mulher.
A linha de investigação é a de que o senador e sua mulher, Fernanda, declararam um preço menor do que o imóvel valia no momento do registro de sua compra. Dessa forma, o procurador, o americano Glenn Dillard, receberia um dinheiro “por fora” para os pagamentos de valores não declarados nas escrituras.
Quando os imóveis foram vendidos, em fevereiro de 2014, Flavio Bolsonaro declarou um lucro de 292% com a operação, enquanto a valorização imobiliária na região não ultrapassou 11% no mesmo período. Segundo o MP, Flávio ocultou ganho ilícito vindos dos depósitos de fantasmas com esse tipo de operação.
Outra suspeita do MP/RJ é de que foram lavados recursos ilegais através da franquia da Kopenhagen do senador. O volume de depósitos em dinheiro vivo na conta da franquia era desproporcional em relação a negócios semelhantes, afirma o Ministério Público do Rio de Janeiro.
Os investigadores afirmam também que a entrada dos recursos em espécie em favor da empresa coincidia com datas em que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, arrecadava parte dos salários dos empregados do então deputado estadual.
CHOCOLATE
O volume que teria sido “lavado” na loja de chocolate, segundo o Ministério Público, pode chegar a R$ 1,6 milhão entre 2015 e 2018. Os depósitos de dinheiro vivo nas contas da loja teriam como objetivo “esquentar” os recursos obtidos ilegalmente, segundo a Promotoria.
Eles poderiam simular vendas fictícias feitas pela empresa, dando aparência legal ao recebimento. Desde que Flávio assumiu a franquia até 2018, o volume de depósitos em dinheiro vivo foi o equivalente a cerca de 37,5% dos recebimentos por cartões de débito e crédito – de 2015 a 2017, esse percentual chegou a 41,8%. Em depoimento ao Ministério Público, o antigo proprietário da loja afirmou que essa proporção girava em torno de 20%.
O relatório do MP faz parte do pedido de busca e apreensão realizada nesta quarta-feira (18) contra 24 alvos, entre os quais Fabrício Queiroz, e parentes dele e de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.
Pelo menos 13 funcionários que devolviam parte dos salários foram identificados pelo MP/RJ. Entre eles estão a mulher e a mãe do miliciano foragido Adriano Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, espécie de central de assassinos de aluguel das milícias do Rio.
Raimunda Veras Magalhães e Daniele Mendonça, mãe e mulher do miliciano foragido foram nomeadas no gabinete de Flávio a pedido do próprio Adriano, que já havia sido homenageado por Flávio com a Medalha Tiradentes por seus “altos serviços prestados à sociedade”.
Queiroz chegou a demonstrar preocupação com a manutenção de Danielle Mendonça como funcionária fantasma na Alerj devido às eleições de 2018 e o receio de que o aumento da exposição do deputado estadual Flávio Bolsonaro levasse a imprensa a descobrir a esposa do miliciano em seu gabinete. Ele exonerou a funcionária assim que estourou o escândalo.
Flávio Bolsonaro alegou que todos os funcionários trabalhavam no gabinete, inclusive os que residem no município de Resende e não pisavam no gabinete. Disse também que está sendo perseguido e pediu para que o STF anule as provas obtidas pelo MP/RJ até agora.
AGRESSÃO
Já Bolsonaro não esconde seu nervosismo com as denúncias contra o filho Flávio. Ele criticou duramente na manhã desta sexta-feira (20) o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), e responsabilizou o governador do Rio pelas investigações.
“Pelo que parece, uma filha do juiz da 27ª Vara Criminal do Rio, Flávio Itabaiana, seria funcionária fantasma do governo do Rio de Janeiro”, insinuou. Itabaiana foi o magistrado que autorizou os mandados solicitados pelo MP fluminense.
“Você já viu o MP do Estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer gente pública do Estado? E olha que o estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Vocês já perguntaram pro governador Witzel porque a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele? Já perguntaram? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do MP (para) ver se vai investigar o Witzel?”, disse Bolsonaro nesta sexta-feira (20), na saída do Palácio da Alvorada. Bolsonaro criticou a decisão de Itabaiana, feita em abril, que resultou na quebra do sigilo de 86 pessoas e nove empresas ligadas a Flávio no tempo em que ele era deputado pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). “Vocês perguntaram para o juiz Itabaiana como é que ele quebra 93 sigilos em cinco linhas? Fizeram busca e apreensão em casas de pessoas que não tinham nada a ver com isso”, afirmou.
Ele também rebateu as acusações de que seu filho teria utilizado a franquia de chocolates para lavar o dinheiro.
“Arrombaram a loja de chocolate do meu filho. Se tivesse, se tivesse, se tivesse algo errado, não teria sumido? As franquias são controladas. Não é o cara que abre uma franquia e a matriz abandona. Ninguém lava dinheiro em franquia”, disse.
“Acusaram ele de estar ganhando mais na casa de chocolate. O que acontece, quem leva mais cliente para lá, ele leva um montão de gente importante, ganha mais. É mesma coisa chegar para o, deixa eu ver, o Neymar e (perguntar) “por que está ganhando mais do que outros jogadores?”. Porque ele é o mais importante. Não é comunismo”, emendou.
“Você tem a nota fiscal desse relógio no teu braço? Não tem. Você tem nota fiscal do teu sapato? Você tem do teu carro, o documento. Tudo para o outro lado tem que ter nota fiscal e comprovante. Eu conheço o Queiroz desde 1985, nunca tive problema. Pescava comigo, andava comigo no Rio de Janeiro. Tinha que ter segurança comigo, andava com meu filho. Se ele fez besteira, responda pelos atos dele”, disse o presidente.
E continuou: “Você pretende se casar comigo? Responde. Você não gosta de louro de olhos azuis?”, questionou Bolsonaro, diante das risadas de apoiadores que o aguardavam na porta do Palácio da Alvorada. “Não seja preconceituoso. Vou te processar por homofobia. Você é homofóbico”, ironizou o presidente diante da não resposta do profissional.
Ao ser questionado sobre o cheque recebido pela primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo ex-assessor de seu filho, Fabrício Queiroz, no valor de R$ 24 mil, o presidente disse se tratar de um pagamento de empréstimo que ele havia feito. “Pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, está certo? Querem comprovante de tudo.”, concluiu o presidente.