Ferroviários em greve em defesa do emprego e reajustes salariais | Foto: John Sibley/Reuters

A Inglaterra vive uma nova onda de greves nos transportes, correios e portos convocadas pelos principais sindicatos britânicos RMT, TSSA e Unite, a partir desta quinta-feira (18), dando continuidade ao maior movimento social do gênero em décadas diante da inflação crescente e do poder de compra em colapso.

Em todos os lugares do país, o lema é o mesmo: os trabalhadores exigem reajustes salariais correspondentes à inflação, que atingiu 10,1% em 12 meses em julho e pode superar 13% em outubro, segundo projeções do Banco da Inglaterra. O governo e os sindicatos patronais se recusam a realizar acordos salariais justos e fornecer melhores condições de trabalho.

“O poder de compra está sendo consumido em velocidade recorde pelo aumento dos preços, o que demonstra a necessidade vital de defender o valor dos salários”, disse Sharon Graham, secretária-geral do Unite, sindicato dos funcionários dos aeroportos.

O movimento, que envolve dezenas de milhares de trabalhadores, começou em junho e é considerada a maior paralisação dos trabalhadores ingleses nos últimos 30 anos.

Nestes dias de férias escolares de verão, a Network Rail – administração pública da rede ferroviária – alertou que circularia apenas um de cada cinco trens e pediu à população que “usasse os trens somente se absolutamente necessário”.

Na sexta-feira (19), toda a rede de transportes de Londres ficará praticamente paralisada e continuará assim por todo o fim de semana.

O maior movimento de greve ferroviária desde 1989, no final dos anos Thatcher, pode “continuar indefinidamente”, advertiu o secretário-geral do sindicato dos trabalhadores ferroviários, marítimos e de transporte (RMT), Mick Lynch, na quinta-feira.

A mobilização acontece nos mais variados setores. No domingo (21), os estivadores do porto de Felixstowe (leste da Inglaterra), o maior porto de carga do país, iniciarão uma greve de oito dias, ameaçando interromper grande parte do tráfego de cargas.

Convocados pelo sindicato do setor CWU, mais de 115 mil funcionários dos correios planejam quatro dias de greve entre o final de agosto e o início de setembro, enquanto 40 mil trabalhadores da operadora de telecomunicações BT farão sua primeira greve em 35 anos.

Ações semelhantes estão planejadas ou já ocorreram em depósitos da Amazon, entre advogados criminais e coletores de lixo.

Algumas greves como a dos funcionários de uma empresa de abastecimento de combustível no Aeroporto Internacional de Heathrow, em Londres, foram evitadas de última hora graças a ofertas de aumento salarial consideradas satisfatórias. A equipe de terra da British Airways, que pedia como mínimo o restabelecimento dos salários cortados em 10% durante a pandemia, aceitou um aumento de 13% e desistiu da paralisação.

Mas os ferroviários mantêm a greve, já que as negociações com uma multidão de operadores estão congeladas.

Os sindicatos também denunciam a decisão do governo de modificar a lei para permitir que trabalhadores temporários substituam os grevistas.

A famosa loja de departamentos de luxo de Londres Harrods foi a “primeira empresa a ameaçar seus funcionários” de recorrer a essa lei, em meio a uma votação de funcionários sobre uma proposta de greve, segundo a Unite.

Os movimentos sociais podem continuar depois do verão e se estender aos trabalhadores da educação e saúde, categorias nas quais os sindicatos consideram as ofertas de aumentos salariais de 4% de “miseráveis”.

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Papiro (BL)