A escalada de “11 anos do Índice Dow Jones chega ao fim”, registrou o Wall Street Journal, acrescentando que o índice de ações blue-chip da Bolsa de Nova Iorque “cai mais de 20% em relação à alta de fevereiro, derrubado por temores de coronavírus”. Quase 1.500 pontos de baque.

Dito de outra forma, a bolha de tudo de Wall Street ameaça explodir no colo de Trump em pleno ano eleitoral, e o primeiro dominó, o Dow Jones, tombou na quarta-feira (11), logo depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter oficializado que a Covid-19 é uma “pandemia” e já afeta o mundo inteiro. Ao que se soma o impacto da guerra de preços no petróleo, da qual os produtores de fracking norte-americanos dificilmente escaparão ilesos.

O que torna mais urgente o enfrentamento do risco de recessão que paira sobre a economia global à medida que à fraca demanda se soma a desestruturação em curso das cadeias de suprimento globais, sob o contágio do coronavírus.

“Esta é a queda mais rápida da graça que eu já vi”, disse ao USA Today Megan Horneman, diretora da Verdence Capital Advisors. Três semanas desde o pico em fevereiro. “Eu jamais teria previsto que seria o coronavírus que poderia derrubar este mercado”.

Já o Standard & Poor’s 500, o principal índice das bolsas norte-americanas, escapou – ainda – por um fio de cabelo, ao chegar a 19,2% de perdas em relação à alta máxima de 19 de fevereiro. Não é melhor a expectativa para o Nasdaq (alta tecnologia).

A Boeing deu uma ajudinha no colapso do Dow, ao cair 18,2%.

Minutos após o Dow Jones ir ao chão, o Federal Reserve anunciou que estava elevando o socorro ao overnight – quebrado desde setembro do ano passado – de US$ 150 bilhões para US$ 175 bilhões, três dias depois de ter aumentado de US$ 50 bilhões para US$ 100 bilhões.

Essa alta, que deveria durar três dias (até esta quinta-feira) acaba de ser estendida até o meio de abril

No mesmo período, as “operações compromissadas” foram esticadas de duas semanas para um mês, com valor majorado para US$ 50 bilhões.

Os executivos-chefes dos quatro maiores bancos foram convocados à Casa Branca em caráter de urgência. Ali, o capo do Citibank, Michael Corbat, asseverou que “isso não é uma crise financeira” e que é “sólida a forma dos bancos”.

Na terça-feira da semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, cortara em caráter emergencial em 0,5 ponto percentual o juro básico, o que fez com que o juro real voltasse a ser negativo, -1,24%.

Com a reunião regulamentar do Fed marcada para os dias 17 e 18, aumenta a grita para novo corte no juro – ou a casa vai cair.

Buscando também não fazer tanto alarde sobre a periclitante situação da bolha de Wall Street, perdão, do estrago do coronavírus, o New York Times afirmou que “o custo econômico total não ficará claro por meses, mas há evidências crescentes de que isso será grave”.

“As companhias aéreas alertam para aviões vazios e enormes prejuízos financeiros. Uma queda acentuada nos preços do petróleo está ameaçando colocar as empresas de energia fora do negócio e milhares de trabalhadores americanos do fracking fora do trabalho. Os gargalos da cadeia de suprimentos estão forçando as fábricas ao redor do mundo a reduzir a produção, mesmo com uma queda na confiança do consumidor levantando dúvidas de que haverá demanda por seus produtos assim que a produção reiniciar”.

O secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, disse a congressistas na quarta-feira que o governo está considerando prestar ajuda a empresas que estão sob dificuldades em decorrência do surto de coronavírus – com as companhias aéreas “no topo da lista”, o que poderia vir na forma de garantia de empréstimos e outras medidas. Ele insistiu em que “não se trata de resgate, não estamos procurando resgate”. A United Airlines previu, no pior cenário, uma queda de receita de até 70% em abril e maio.

Na véspera, o próprio Trump já se referira à necessidade de socorrer as empresas de fracking endividadas e sob pressão após a derrubada no preço do petróleo.

“Se o governo Trump e o Congresso não conseguirem reunir rapidamente e montar um pacote considerável e responsável, uma recessão parece uma possibilidade real aqui”, disse ao NYT Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics.

“A economia já estava retrocedendo este ano”, observou Zandi. “Tudo o que precisaria era de um empurrão para colocar a economia de lado”.

De acordo com o jornal nova-iorquino, “há uma semana, poucos economistas pensavam que uma recessão era provável. Muitos pensaram que qualquer dano causado pelo vírus seria breve e que a economia passaria por uma recuperação acentuada em forma de “V”. As previsões se tornaram significativamente mais sombrias, no entanto, à medida que o vírus se espalhou nos Estados Unidos e à medida que os efeitos ao redor do mundo se tornaram mais pronunciados”.

Quarentenas e outras restrições têm como efeito colateral fazer crescer o risco de perda de emprego de prestadores de serviços, como empregadas de hotéis, vendedores de aeroporto, garçons – de baixa remuneração e menos propensos a ter recursos para resistir a um período de renda reduzida.

Isso pode piorar o impacto nos gastos dos consumidores, disse Michelle Meyer, economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch nos EUA. “Um choque de renda nessa população se torna um choque de consumo mais rapidamente e potencialmente mais profundo”.

Nesse quadro, Trump decidiu falar pela tevê, tentando passar a ideia de que está no comando do enfrentamento da pandemia nos EUA, depois de ter passado semanas dizendo que era quase uma “gripe comum” e que os números de mortalidade da OMS eram “falsos”. Aliás, como notou o ZeroHedge, precisou a bolsa quebrar para Trump se importar com o coronavírus.

O presidente bilionário buscou mascarar sua inércia no enfrentamento da epidemia, através do anúncio de que está proibida a entrada nos EUA de visitantes vindos da Europa.

Trump também está tentando usar o coronavírus como pretexto para desidratar a Previdência Social pública em bilhões, ao propor cortar a contribuição de 12% até o final do ano, o que já foi repudiado pelos sindicatos e pela oposição democrata. A primeira reação ao discurso de Trump foi que as bolsas abriram o dia seguinte em queda no mundo inteiro.