Dr. Anthony Fauci, director of the National Institute of Allergy and Infectious Diseases, speaks during a briefing on coronavirus in the Brady press briefing room at the White House, Saturday, March 14, 2020, in Washington. (AP Photo/Alex Brandon)

Anthony Fauci, o mais respeitado epidemiologista e principal especialista em doenças infecciosas do governo dos EUA, afirmou na terça-feira, 30 de junho, que o país “não está no controle” da pandemia do coronavírus. E fez a assustadora advertência de que os casos da COVID-19 nos Estados Unidos podem subir para 100 mil por dia se a tendência atual “não mudar”.

Em audiência realizada pelo Comitê de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões do Senado, Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, disse que o país está “indo na direção errada”, à medida que o número de casos da COVID-19 aumenta em todo o país. “Não posso fazer uma previsão precisa, mas será muito perturbador”, disse

“Agora, temos mais de 40 mil novos casos por dia. Eu não ficaria surpreso se subirmos para 100 mil por dia se isso não se reverter. E por isso estou muito preocupado”, afirmou.

“Ou você vê pessoas confinadas ou você vê pessoas em bares, sem máscaras, sem evitar multidões, sem prestar atenção ao distanciamento físico”, resumiu o epidemiologista.

Na tarde de quarta-feira, 1º de julho, o país estava com 2.638.835 casos confirmados e 127.485 mortos, de acordo com uma contagem da Universidade Johns Hopkins. E ainda com o agravante de que em dez dos 15 Estados que enfrentam uma segunda onda sem ter encerrado a primeira, o uso de máscaras não é obrigatório.

Todos são Estados governados por republicanos, que seguem a cartilha do presidente Trump, o primeiro a recusar-se a portar a proteção facial em público. Robert Redfield, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), indicou o uso universal de máscara como uma das “coisas mais importante a fazer.”

Fauci disse que ele não poderia fazer uma estimativa exata das mortes, pois precisariam de um modelo. Suas declarações aconteceram no momento em que o número de novos casos divulgados diariamente nos Estados Unidos está superando o do mês de abril, quando a pandemia teve seu centro no estado de Washington e outras partes do país, especialmente a área de Nova York.

O especialista alertou que alguns Estados estão “saltando sobre” os pontos de verificação nas diretrizes federais de reabertura e que isso está levando a novos pontos críticos em Estados como Texas, Flórida e Arizona. Na zona de Tampa, na Florida, por exemplo, ao longo da costa do Golfo do México, nos dias da segunda quinzena do mês de junho a quantidade de gente era tão grande que as autoridades tomaram a medida extraordinária de fechar os estacionamentos não por conta do Covid-19, mas porque já estavam cheios.

Segundo os dados divulgados pelo Instituto, cerca de 50% de todos os novos casos são provenientes desses três Estados e mais a Califórnia.

Fauci disse que mesmo os Estados e localidades que “fizeram certo” em relação à reabertura ainda têm indivíduos que desconsideram as medidas de distanciamento social e o uso de máscaras enquanto em saídas sociais.

“Neste surto viral, estamos vendo mais testes sendo feitos, mas também estamos testemunhando uma porcentagem maior de resultados positivos. Isso indica que mais infecção é o problema – não mais testes”, disse Robert Schooley, professor de medicina da Divisão de Doenças Infecciosas e Saúde Pública Global da Universidade da Califórnia, em San Diego, à Agência Xinhua.

“À medida que a epidemia aumenta, hospitais e UTIs estão operando com a máxima capacidade no Arizona, Texas, Alabama e em outros lugares. O número de mortes aumentará se a epidemia não for controlada”, disse Schooley.

Enquanto a Flórida é um dos focos da Covid-19 no país, cerca de 200 médicos advertiram ao prefeito de Jacksonville, Lenny Curry, que permitir o ato em que o presidente Donald Trump lançará a candidatura republicana seria “extremadamente perigoso”. Os assinantes da carta sublinham que a Convenção Nacional Republicana deveria adiar o ato, marcado para 27 de agosto, ou ver outro jeito de fazer essa atividade política. Além disso, assinalaram que Curry tinha que determinar o uso obrigatório de máscaras na cidade, uma simples ação que não deixaria a pandemia à mercê das atitudes de Trump, que se recusa a usar qualquer proteção e submete a população a um grave mau exemplo contra o cuidado mais elementar. Já o presidente, longe de se manifestar sobre estes temas, republicou, no domingo passado, um vídeo de um de seus apoiadores gritando “White Power” (“Poder Branco”), estimulando o preconceito, a violência racial em meio a semanas de levante nacional contra o racismo e a desigualdade social em manifestações que atravessam os Estados Unidos de norte a sul e de costa a costa.

Com a situação piorando, tímidas medidas estão sendo tomadas. O governador do Arizona ordenou o fechamento imediato de bares, cinemas, ginásios e piscinas que tinham autorização para funcionar. As praias da Flórida não abrirão no próximo final de semana como estava pautado. Há alguns dias, o Estado de Texas voltou atrás na reabertura de mais comércios.

Os governadores democratas de Oregon e Kansas anunciaram a obrigatoriedade do uso de máscaras. Também é obrigatório desde o início da semana em Miami. Seu prefeito, Dan Gelber, disse que haverá multas para aqueles que não as usarem.