Fauci alerta: recusa à vacina e variante Delta agravam Covid nos EUA
A combinação da variante altamente contagiosa Delta e da sobra de vacinas colocou os Estados Unidos em um “período muito difícil” da pandemia de Covid-19, advertiu no domingo (12) o principal epidemiologista norte-americano, o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas.
Após a pandemia ser controlada com o início da vacinação em massa nos EUA sob o governo Biden, o quadro sanitário voltou a se deteriorar gravemente em poucos meses, ultrapassando agora o patamar de 1.500 mortos diários, porque uma minoria da população norte-americana, manipulada pelo negacionismo trumpista, vem recusando a imunização – além de abominar o uso preventivo de máscara facial.
O que já interfere até na recuperação da economia norte-americana. Agora, segundo os dados oficiais, 95% dos mortos por Covid-19 são de não-vacinados.
Com o atual nível de recusa nos EUA à vacinação, que em alguns Estados chega a 60% e é de pelo menos 25% no conjunto do país, não é possível deter a onda de infecções da variante Delta, mais contagiosa, vêm alertando os cientistas.
Crianças
A variante Delta também está fazendo um estrago nas crianças, ao contrário do início da pandemia. No final de agosto, a média diária de internações de crianças nos EUA girava em torno de 300, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), a agência de saúde pública dos EUA.
Em apenas uma semana de agosto, 180 mil novos casos de Covid em crianças foram diagnosticados no país.
Foi nesse quadro que, na semana passada, Biden determinou por ordem executiva [decreto] que as empresas com mais de 100 funcionários ajam para que todos se vacinem ou façam teste regularmente, assim como os funcionários e prestadores de serviços federais, especialmente no setor da saúde.
“Acredito que isso não só melhorará a saúde pública, mas dará às pessoas um pouco mais de paz de espírito”, afirmou o cirurgião-geral dos EUA, Dr. Vivek Murthy, avaliando os efeitos do decreto.
À CNN, Fauci disse acreditar que o decreto de Biden “vai mudar a situação porque não acho que as pessoas vão querer deixar de ir trabalhar ou deixar de ir à faculdade. Não vão fazer isso”.
“Gostaríamos que [a vacinação] acontecesse de forma totalmente voluntária, mas se isso não funcionar – advertiu -, você tem que ir para as alternativas”.
Para o cientista, a situação é tal que, se mais pessoas não forem persuadidas a serem vacinadas por atos de autoridades sanitárias e “mensageiros políticos confiáveis”, podem vir a ser necessários decretos adicionais em favor da proteção da saúde dos norte-americanos.
Da população elegível nos EUA, que atualmente está limitada a pessoas com 12 anos ou mais, 63% estão totalmente vacinados, de acordo com os dados do CDC.
Hospitais já sentem o impacto do atraso nas taxas de vacinação. O governador do Colorado Jared Polis deu o alarme na sexta-feira, dizendo: “Na verdade, temos a menor taxa disponível de UTI desde o início desta crise, em parte devido aos não vacinados com Covid e apenas outros tipos de trauma que sobem sazonalmente nesta época do ano”.
Polis disse que alguns hospitais de seu Estado “estão chegando muito perto de seus limites de capacidade” e que “isso não estaria acontecendo se as pessoas fossem vacinadas”.
Para o trumpismo, a ‘liberdade’ de espalhar o vírus e infectar mais gente é “inegociável”, com a presidente do Comitê Nacional Republicano, Ronna McDaniel, classificando de “não-americano e inconstitucional” o decreto que limita o alcance do negacionismo. “@JoeBiden nos vemos no tribunal” , escreveu a governadora Kristi Noem, de Dakota do Sul.
Sob fogo cruzado, o governador do Estado de Arkansas, Asa Hutchinson, um dos poucos republicanos que mudou de ponto de vista e passou a estimular a vacinação, alegou que as novas medidas “endurecem a resistência” que vem “tentando superar”. Após chamar o vírus de “muito sério e mortal”, Hutchinson asseverou, contra todas as evidências, que “estamos todos juntos na tentativa de conseguir um aumento do nível de vacinação na população”.
Texas
Por sua vez Greg Abbott, o governador republicano do Texas, que é inimigo feroz da máscara facial e das medidas preventivas, anunciou um decreto estadual para “proteger o direito dos texanos de escolher se seriam vacinados ou não”.
E é de uma médica pediatra do maior hospital do Texas, Christina Propst, o relato à BBC do quadro “trágico e hediondo” no estado com as hospitalizações de crianças sob a variante Delta.
“Um terço das crianças que chegam com Covid necessitam de cuidados intensivos”, assinalou. Isso geralmente significa que elas precisam de suporte respiratório. “É realmente doloroso ver crianças entubadas por Covid”, assinalou a Dra. Propst.
“Aqui no Texas, apenas 56% estão vacinadas com as duas doses. A essa altura do campeonato, isso é cruel”, completou.
__