O governo ultradireitista da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, enfrenta intensa pressão da oposição após centenas de apoiadores do fascismo se manifestarem em praça pública, realizando gestos proibidos por lei, sem intervenção policial. O evento em Roma no domingo (07) relembra o assassinato de dois jovens neofascistas em 1978, por militantes antifascistas, mas assustou pelas similaridades com o período nazifascista que levou à derrota da Itália na Segunda Guerra Mundial.

O encontro, realizado em frente à antiga sede do partido Movimento Social Italiano (MSI), fundado por seguidores de Benito Mussolini após a Segunda Guerra Mundial, ocorre anualmente para homenagear os jovens mortos em 1978. As imagens viralizaram nas redes sociais, reacendendo o debate sobre a proibição de grupos que apoiam publicamente o fascismo e o totalitarismo.

Durante a manifestação, apoiadores vestidos de preto fizeram a saudação fascista enquanto gritavam “presente”, após o anúncio dos nomes dos três jovens mortos. Líderes da oposição, incluindo Elly Schlein, do Partido Democrático (PD), exigem que Meloni explique por que a polícia não interveio. “Roma, janeiro de 2024. Parece 1924”, afirmou Schlein, em seu perfil no Instagram, se referindo à época em que Mussolini estava no poder.

A líder da oposição destacou o contraste com a ação policial em um incidente anterior no Teatro Scala de Milão, onde um indivíduo foi retirado por gritar “longa vida à Itália antifascista”. Schlein questionou a postura de Meloni e instou o governo a dissolver grupos neofascistas, conforme previsto na Constituição. Ela exigiu que Meloni condene publicamente o ocorrido e que o governo reprima os “apologistas do fascismo de todas as maneiras possíveis”.

O Movimento Cinco Estrelas anunciou uma queixa por “apologia ao fascismo”, buscando avaliação sobre os crimes cometidos pelos manifestantes. Grupos neofascistas, embora proibidos pela Constituição, têm contornado a lei usando novos nomes. O partido Irmãos da Itália, fundado por Meloni, é considerado um descendente político do MSI.

Líderes da comunidade judaica italiana expressaram revolta, ressaltando que lembrar vítimas da violência política é correto, mas não deve envolver gestos fascistas. Sob pressão da imprensa, Antonio Tajani, ministro do Exterior, condenou qualquer celebração da ditadura, enfatizando a proibição da apologia ao fascismo.

Giorgia Meloni, embora busque se distanciar da imagem de Mussolini, enfrenta críticas. Em nota, sua legenda acusou os críticos de “usarem a memória da morte trágica de três jovens pelo ódio comunista para fazerem propaganda macabra”. O vice-presidente do Parlamento, Fabio Rampelli, afirmou que o partido Irmãos da Itália está “anos-luz” dos manifestantes fascistas.

O episódio reacende um debate sobre a presença de manifestações pró-fascistas na Itália, enquanto a oposição pressiona por ações governamentais firmes contra grupos neofascistas, respeitando os princípios constitucionais e a proibição do fascismo no país.

“O mais incrível é que essa demonstração de apologia ao fascismo seja permitida na Itália, enquanto na Alemanha e em outros países todos teriam sido presos”, afirmou o jornalista italiano Paolo Berizzi, do jornal italiano La Repubblica, ao diário britânico The Guardian.

(por Cezar Xavier)