Rodrigo Londoño, líder histórico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

O presidente do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum(FARC), Rodrigo Londoño, líder histórico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, conhecido como Timochenko, reafirmou “o compromisso com os Acordos de Paz assinados com o governo em novembro de 2016” e sublinhou que “nossa palavra hoje é a paz e a reconciliação”.

“A grande maioria dos ex-guerrilheiros e ex-guerrilheiras segue comprometida com o estipulado. Ainda com todas as dificuldades ou perigos que espreitam, estamos com a paz”, acrescentou Londoño, diante do assassinato por parte de milicianos e agentes do Estado de mais de 800 lideranças do movimento sindical e popular.

Recordando o fundador das FARC, Pedro Antonio Marín, o camarada “Manuel Marulanda” ou “Tirofijo” (Tiro preciso), que morreu em 2008, Londoño destacou: “algo que ele nos ensinou foi a cumprir a palavra”. “Apesar dos obstáculos e dificuldades, estamos convictos que o caminho da paz é o acordado”, sublinhou.

Nosso partido, esclareceu Londoño, é terminantemente contrário ao retorno à luta armada por parte de um grupo extremamente minoritário, manifestado recentemente por Iván Márquez. “Mais de 90% dos ex-combatentes se mantêm com o processo de paz. Aqui estamos, modéstia à parte, os melhores”. E enviou uma mensagem ao presidente da Colômbia, Iván Duque: “eu lhe peço que nos unamos para mandar uma mensagem de otimismo aos ex-combatentes que continuam com o processo”. “Sinto vergonha pelo que fizeram os companheiros, porém é uma decisão individual que não representa a maioria”, assinalou.

Destacados líderes partidários como o ex-líder guerrilheiro “Carlos Antonio Lozada” – atual senador Julián Gallo – acreditam na capacidade de mobilização, para que, “finalmente o pactuado consiga se impor”. Mesmo achando compreensível o desespero de alguns frente à política aberta de perseguição e carnificina, a senadora Victoria Sandino ponderou que “o caminho não é a guerra e sim continuar insistindo na possibilidade da paz”.

O Conselho Nacional do partido FARC avaliou que “o longo documento” por meio do qual alguns pretendem justificar seu regresso às armas “se contrapõe ao concertado e assinado em Cuba com o Estado colombiano”. O partido, foi taxativo, “não compartilha nenhum dos seus termos” e “os Acordos de Paz incorporam o ponto culminante do velho anseio do povo colombiano em pôr fim ao conflito armado e semear a esperança de consolidar, definitivamente, a paz com justiça social em nosso país”.

Para o coletivo revolucionário, “proclamar a luta armada na Colômbia de hoje constitui um equivoco delirante. Milhões de compatriotas se somam ao clamor por um país em paz”. E mais: “Os ex-guerrilheiros e ex-guerrilheiras que demos o passo de deixar as armas, os fizemos com o profundo convencimento de que a guerra havia deixado de ser o caminho. Uma esmagadora maioria luta hoje na legalidade na forma pacífica por conseguir a total implementação do acordado em Havana. Seguiremos sem vacilação neste caminho. Nosso combate é pela Pátria. Ela não pode ser despedaçada por obra da venenosa voz da extrema direita nem dos descumprimentos do governo. Exigimos dele que cumpra integralmente os Acordos”.

A FARC reiterou que “os signatários do discurso romperam publicamente com nosso partido, protocolizaram sua renúncia e assumiram as consequências de seus atos”. “É certo que o cumprimento dos Acordos por parte do Estado marcha a passo paquidérmico e que os reincorporados temos passado por sérias dificuldades, em vários sentidos. Ninguém nega que existam importantes setores e interesses que trabalham incessantemente contra o pactado. Porém, nós, revolucionários, enfrentamos a adversidade com otimismo, valorizamos imensamente a palavra empenhada e não renunciamos aos nossos objetivos, por mais duro que seja este caminho”, pontuaram.

Valorizando a trajetória e o compromisso, o Coletivo Nacional das FARC faz uma exortação “ao povo colombiano, ao governo nacional e à comunidade internacional, aos empresários e sindicatos, ao movimento social e popular, aos ex-guerrilheiros e ex-guerrilheiras que assumiram o desafio da luta política aberta, a abraçar como nunca os Acordos de Havana e seu processo de implementação”. “Não é hora de vacilações. A guerra não pode ser o destino deste país. Seguiremos aqui, dispostos a dar tudo pela paz e a justiça social”, esclareceu.

“NOSSO FUTURO NÃO PODE SER A GUERRA”

Com a mesma determinação, o Partido Comunista Colombiano – União Patriótica lançou um comunicado totalmente contrário ao desânimo, frisando que “o anúncio do grupo de ex-dirigentes das FARC-EP de continuar na clandestinidade e persistir na luta armada representa um fato político com graves conseqüências para o processo de implementação do acordo de paz, assim como para a perspectiva da luta democrática no país”.

“Os evidentes e indiscutíveis descumprimentos de aspectos substanciais do acordo pactuado e as intenções reais da extrema direita, do governo atual e de setores da classe dominante por destruí-lo, e retornar à política da guerra e do medo, para justificar sua orientação reacionária e impedir qualquer reforma e abertura democrática, têm que ser superado com uma estratégia política que convoque e mobilize a mais ampla participação e intervenção cidadã nas cidades e campos de Colômbia”, assinala o documento, acrescentando que “é infame a atitude do governo de vincular a Venezuela na decisão dos ex-dirigentes”.

“Conforme a tradição política do Partido Comunista Colombiano e a União Patriótica de defesa da solução política negociada, convocamos a todos os setores comprometidos com a paz, ao movimento social e à comunidade internacional a defender o acordo e sua implementação em sua totalidade, a vida dos líderes sociais e políticos, os ex-combatentes em processo de reincorporação, e a não desfalecer na conquista da paz com justiça social”, conclui o documento.