Colombiano e Catarina: família espera Justiça há dez anos

Em nota divulgada no último domingo (28), familiares de Paulo Colombiano e Catarina Galindo, denunciaram a morosidade e o racismo da Justiça brasileira.  O casal foi assassinado em Salvador há dez anos, completos nesta semana. Os acusados de serem os mandantes do crime continuam em liberdade.

A nota classifica a Justiça como “elitista, seletiva e estruturalmente lenta” e dizem não estranhar “o fato de dois homens brancos e ricos terem mandado matar duas pessoas negras e estarem livres por tempo indeterminado”.

Paulo Colombiano era diretor-tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários e foi morto após uma investigação interna relacionada a irregularidades no pagamento dos gastos com plano de saúde.

Cinco pessoas respondem ao processo relacionado ao crime. Sendo dois deles os donos da Mastermed, empresa que prestava serviço de plano de saúde ao sindicato, Claudomiro e Cássio Santana. Todos foram presos em 2012, mas saíram da prisão cerca de 20 dias depois.

“Passados dez anos do crime sem que os acusados compareçam a um júri popular, chega a ser vergonhosa e revoltante a constatação de que a impunidade reina”, afirmam na nota.

Leia a íntegra:

Assassinatos de Colombiano e Catarina: Uma década de impunidade

No dia 29/06 (segunda-feira), chegamos a 10 anos do cruel e brutal assassinato de nossos entes queridos Paulo Colombiano e Catarina Galindo. A investigação policial concluiu, com provas robustas, que os mandantes do crime foram os irmãos Claudomiro e Cássio Santana, tese corroborada pelo Ministério Público da Bahia. O motivo do crime é conhecido: Paulo Colombiano tinha sugerido rever o contrato do plano de saúde do Sindicato dos Rodoviários da empresa Mastermed, de propriedade dos acusados, considerado por ele lesivo aos interesses da categoria. Os executores identificados foram os funcionários dos irmãos, Edilson Duarte de Araújo, Adailton de Jesus e Wagner Luiz Lopes.

Para nós, não foi surpresa o resultado da investigação, na medida em que Colombiano comunicara, pouco tempo antes do crime, a amigos e familiares, que estava recebendo ameaças de morte por conta de ter proposto a revisão de um extorsivo plano, que injetava milhões nas contas dos dois empresários milionários.

Todos sabemos que a justiça brasileira é elitista, seletiva e estruturalmente lenta. Não é estranho o fato de dois homens brancos e ricos terem mandado matar duas pessoas negras e estarem livres por tempo indeterminado. Se fosse o contrário, dois negros terem planejado executar dois brancos ricos, certamente eles seriam jogados imediatamente numa penitenciária, com a hipótese não rara de nem haver a abertura correta de um processo judicial, com a decretação de prisão preventiva interminável, por exemplo. O fato de um deles, o Claudomiro Santana, ser oficial aposentado da Polícia Militar, é outro elemento que se encaixa no roteiro da impunidade de alguns criminosos oriundos dessa corporação.

Desde o início, era previsto que uma banca de advogados contratados a peso de ouro pelos criminosos faria toda a sorte de chicana jurídica para postergar indefinidamente o processo. Mas, passados dez anos do crime sem que os acusados compareçam a um júri popular, chega a ser vergonhosa e revoltante a constatação de que a impunidade reina. É mais revoltante ainda saber que, no estágio em que se encontra o processo – e com todas as próximas manobras de procrastinação que virão da defesa -, os criminosos ainda vão curtir a boa vida de endinheirados por muito tempo, sem que sejam efetivamente julgados e condenados.

Neste momento dos dez anos do bárbaro crime cometido por usura e avareza de assassinos gananciosos e covardes, cobramos mais uma vez que a justiça baiana trate desse caso com o empenho e a celeridade necessárias que a situação requer.

Não suportamos mais conviver com a ideia de que os responsáveis pela morte de nossos parentes possam vir a escapar de um julgamento.

Exigimos que o Tribunal de Justiça da Bahia tome providências urgentes para punir os responsáveis por esse brutal crime que chocou a sociedade baiana.

Salvador – BA, 28 de junho de 2020

Familiares de Colombiano e Catarina