O antropólogo bolsonarista Edward Luz foi preso no último domingo (6) por tentar impedir a fiscalização do Ibama na Terra Indígena Ituna-Itatá, no Pará. A região teve recorde de desmatamento no ano de 2019.
Em um vídeo gravado pelo próprio Edward, é possível ver que ele foi advertido por agentes do Ibama que deveria se retirar de imediato da Terra Indígena Ituna-Itajá, o que se recusou a fazer.
O bolsonarista tentou impedir o trabalho dos fiscais do Ibama, que, segundo ele, não deveriam fazer fiscalização no local e, que ao fazerem, estariam desobedecendo as ordens de Salles.
No vídeo, ele diz que estava no local “para fazer cumprir a ordem ministerial, do senhor ministro Ricardo Salles, com qual me encontrei na última terça-feira, dia 11 de fevereiro, na 4ª. Câmara [Meio Ambiente] do Ministério Público Federal, onde ficou acordado que nenhum patrimônio de população em situação de fragilidade será destruído”.
Veja o vídeo:
Grande dia. ? Momento em que o autoproclamado “antropólogo de direta” Edward Luz é detido recusando-se a sair de terra indígena e ameaçando agente do Ibama. pic.twitter.com/LgFUfxp8cM
— Observatório do Clima (@obsclima) February 16, 2020
O procurador Daniel Azeredo, da 4ª Câmara desmentiu o antropólogo bolsonarista: “O antropólogo está sem qualquer razão. A operação do Ibama se desenrola dentro da lei, e ele não pode interferir ou atrapalhar”, afirmou.
Ituna Itatá, além de ser a Terra Indígena mais desmatada em 2019, é a mais desmatada em janeiro, deste ano, segundo monitoramento do Instituto Imazon.
A área é invadida por grileiros e posseiros, com apoio de políticos, principalmente o senador Zequinha Marinho (PSC-PA). Há cerca de um mês, o Ibama atua na área permanentemente para coibir ações ilegais.
Na terça-feira, Marinho e Edward estavam presentes em reunião com a 4ª Câmara para tratar do assunto, com a participação de Ricardo Salles. Daniel Azeredo foi um dos procuradores presentes.
Após a reunião, o senador e o suposto antropólogo gravaram um vídeo em que Marinho afirma que as operações do Ibama em Ituna Itatá haviam sido suspensas por um mês, até 11 de março. Nesse vídeo, ainda aparece o prefeito de Senador José Porfírio, Dirceu Biancardi (PSDB).
A repercussão do vídeo levou o MPF a divulgar uma nota desmentindo o senador Marinho e explicando que “ficou acordado que a fiscalização dentro da área reservada [Ituna Itatá] permanece.”
A ata da reunião registra que, ao contrário do acordo que Luz menciona no vídeo, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério Público Federal reafirmaram a legalidade da fiscalização na Terra Indígena Ituna-Itatá: “[MMA e MPF] esclareceram que há respaldo legal tanto para a retirada de pessoas quanto para a destruição de maquinário, uma vez que, além da existência de ato do Governo Federal definindo a atual terra indígena, a área em questão, embora ainda não demarcada, está protegida por ato formal de interdição da Funai, em razão da possibilidade de existência de índios isolados na região”.
Quem é Edward?
Edward é conhecido como o “antropólogo dos ruralistas”, pois, costumeiramente atua em favor de grupos. Ele foi expulso da Associação Brasileira de Antropólogos (ABA) em 2013. Segundo a entidade Edward “tinha e tem um comportamento que abalava e abala o nosso código de ética”.
O pai de Edward é pastor e tem o mesmo nome. Presidente da organização evangélica Missão Novas Tribos do Brasil, que já foi expulsa de terras indígenas por fazer contato ilegal com os nativos. Em 2011 Edward pai disse em entrevista ao The Intercept Brasil que o índio “ou vai ajoelhar voluntariamente, adorando [ao deus cristão], ou vai ajoelhar obrigatoriamente, temendo [ao deus cristão]”.
A Terra Indígena Ituna-Itatá, no Pará, teve recorde de desmatamento em 2019, de acordo com uma série histórica do governo, baseada em dados desde 2008. Foi a maior área desmatada em quilômetros quadrados e o maior aumento percentual de 2018 a 2019 entre as demais terras monitoradas.
A Ituna-Itatá tem 142 mil hectares, está em processo de demarcação e é protegida por uma portaria que estabelece “restrição de uso” desde 2011. Isso significa que a área está reservada para estudos e não pode ter outra destinação. As pesquisas investigam a suspeita de que o local abrigue povos isolados, ou seja, indígenas que não têm contato com o resto da população nem com outras tribos.