Segundo o portal Ponzitracker – especializado em falcatruas com ‘investimento’ em ações, os chamados ‘esquemas de Ponzi -, o dinheiro atraído para esses fundos nos EUA alcançou o nível mais alto em uma década, US$ 3,5 bilhões, em 60 supostos esquemas detectados. Chama a atenção que esse valor é mais do que o dobro do constatado um ano antes.
O chamado Esquema de Ponzi é uma fraude em que a subtração de dinheiro dos ‘investidores’ é ocultada pelos fundos aportados por novos ‘investidores’. Quando se para de pedalar – isto é, de atrair investidores’ neófitos -, a casa cai. Os otários – perdão, os ‘investidores’ – são convencidos a aportar dinheiro com promessa de retorno a taxas altíssimas e, claro, totalmente seguras.
Com a bolsa de Wall Street há mais de dez anos em alta, sempre mais e mais pra cima, graças ao dinheiro fornecido pelos contribuintes e aos juros reais negativos ou quase, quando os falsários que agem nos nichos começam a decolar, é sempre um sinal a ser observado de que a coisa toda está prestes a explodir. Nesse caso, eles funcionam como o canário na mina, diante do gás vazando.
Durante o colapso financeiro de 2008, quando os gigantes de Wall Street foram à lona, e quase levaram o mundo junto, especulando com papeis tóxicos, os derivativos, nenhum banqueiro foi em cana, cabendo ao vigarista Bernard Madoff a discutível ‘honra’ de ser o bode expiatório na implosão do cassino global.
Ganhou fama – e 150 anos de cadeia – por uma fraude de US$ 65 bilhões, que atingiu milhares de incautos.
O que era uma gota no oceano de fraude da década de 2008, quando o resgate dos Esquemas de Ponzi graúdos, a banca de Wall Street, custou trilhões de dólares aos contribuintes, e enorme sofrimento ao povo.
O que são US$ 65 bilhões diante de um quatrilhão de dólares de derivativos empinados?
Os bancos eram ‘grandes demais para quebrar’ e a banqueirada, ‘rica demais para ir ver o sol nascer quadrado’. A chamada doutrina Holder, em homenagem ao secretário de Justiça de Obama, Eric Holder, que saiu do cargo para virar sócio do maior escritório de advocacia que atende a Wall Street.
Recentemente, Madoff pediu a um juiz sua libertação antecipada, por estar morrendo de doença renal terminal.
É verdade que o atual patamar dos esquemas Ponzi detectados, conforme o Ponzitracker, cujos dados são compilados por Jordan Maglich, advogado da Quarles & Brady, ainda é baixo em relação a 2008, e talvez seja cedo para dizer se o ano passado foi uma “anomalia”.
Conforme o Ponzitracker, alguns especialistas estão temerosos de que isso possa anunciar um retorno a “tempos mais sinistros”. “Talvez esse não seja o ano de 2008 novamente, mas as sementes estão sendo plantadas para o próximo massacre de investidores”, disse Andrew Stoltmann, advogado de fraude de investimentos com sede em Chicago.
Para ele, a alta aparentemente sem fim do mercado acionário e um ambiente de desregulamentação no nível federal, que podem levar os investidores a baixarem a guarda, são os dois principais fatores que impulsionam o crescimento dessas fraudes.
A isso se soma que a SEC – comissão de valores mobiliários dos EUA – reduziu no ano passado suas investigações de 869 para 827, de acordo com o figurino de Trump.
O que, segundo Stoltman, encoraja os picaretas a cometer fraudes financeiras. Só quando a farra na bolsa acaba, e os ‘investidores’ tentam resgatar suas economias, é que percebem que “não estavam lá”, disse o advogado.
O Ponzitracker faz um alerta aos candidatos a pato: “se parece bom demais para ser verdade, provavelmente é”. O site aconselha ainda a desconfiar de corretores que “prometem um alto retorno garantido de seu investimento por pouco ou nenhum risco”. É como na frase frequentemente atribuída ao bilionário Warren Buffett: se você estiver em uma mesa de pôquer e em cinco minutos não souber quem é o pato, o pato é você.