Ato em Londres exige liberdade para Assange em meio a seu processo

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que transcorreu na segunda-feira (3), o famoso denunciante do grampo em massa da NSA no mundo inteiro, Edward Snowden, disse que as odes proferidas pelo secretário de Estado Anthony Blinken sobre a “liberdade de imprensa” e “segurança dos jornalistas no mundo inteiro” eram “inconciliáveis” com o processo dos EUA para extraditar o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, aberto por Trump e mantido pelo governo Biden.

“Isso seria mais persuasivo se a Casa Branca não estivesse buscando agressivamente uma sentença de 175 anos para o editor de jornalismo premiado de importância global – apesar dos apelos de todas as organizações importantes de liberdade de imprensa e direitos humanos”, tuitou Snowden.

Enquanto o próprio Biden falou sobre a importância dos “contadores da verdade que se recusam a ser intimidados” na celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, seu governo continua a buscando a extradição do editor do WikiLeaks, que denunciou os crimes de guerra dos EUA no Iraque e no Afeganistão, e por isso foi acusado pelo governo Trump junto a um tribunal britânico sob a Lei de Espionagem em 2019.

Assange continua preso de 2019 no presídio de segurança máxima de Belmarsh, conhecido como a ‘Guantánamo britânica’, depois de ter sido entregue pelo governo Moreno à polícia inglesa e no mesmo dia ser condenado por faltar a uma audiência por ter ido pedir asilo na Embaixada do Equador, em um caso forjado por um promotor sueco e depois fechado. Nem mesmo dentro da embaixada onde estava asilado ele escapou da vigilância da CIA, como veio à tona.

Embora o governo recém-instalado tenha revertido muitas das políticas de Trump, continua a buscar a extradição de Assange do Reino Unido, apesar de um coro de objeções de grupos de liberdade de imprensa. “Sim, entramos com um recurso e continuamos buscando a extradição”, disse o porta-voz do Departamento de Justiça, Marc Raimondi, no dia 12 de fevereiro, data limite.

24 entidades de direitos humanos haviam conclamado Biden a não apelar, em vão. Na carta, endereçada ao Departamento de Justiça, Fundação para a Liberdade de Imprensa, a Associação Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), a Anistia Internacional, o Comitê para a Proteção de Jornalistas, os Repórteres Sem Fronteiras, entre outras, afirmaram que a acusação de Assange representa uma grave ameaça à liberdade de imprensa já que “grande parte da conduta descrita na acusação é uma conduta que os jornalistas praticam rotineiramente”.

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa outras vozes reforçaram o coro pelo fim da perseguição a Assange, como o parlamentar australiano Andrew Wilkie . A companheira e mãe dos filhos de Assange, a advogada Stella Morris, afirmou que “não é exagero dizer que o uso da Lei de Espionagem de 1917 contra Julian é a maior e mais urgente ameaça à liberdade de imprensa e a uma sociedade livre”.

Ela assinalou que o indiciamento de Assange sob a Lei de Espionagem norte-americana “coloca um laço de corda no pescoço de cada repórter”.

“Julian não é simplesmente inocente. Ele está sendo punido por fazer a coisa certa, por expor a morte injusta de jornalistas e milhares de civis, por documentar crimes de guerra”, denunciou Stella.

“Não há qualquer alegação de que Julian fez qualquer coisa que pudesse ser construída como espionagem – o governo dos EUA o acusa de publicar informação ao público. As mesmas publicações que fizeram Julian ganhar os mais prestigiosos prêmios de jornalismo”.

Ela acrescentou que Assange é conhecido por seu trabalho corajoso de editor, “mas também é um filho, um pai e um irmão. Ele tem ajudado a trazer justiça para as vítimas dos abusos do Estado e das corporações no mundo inteiro”.

“Libertem Assange agora”, convocou.

“Por uma questão de princípio, ninguém deveria ter que experimentar o que Assange tem suportado nos últimos 10 anos simplesmente para publicar informações de interesse público. Ele não deveria ter que passar mais um momento injustamente privado de sua liberdade. Apelamos novamente para sua libertação imediata por motivos substantivos, bem como humanitários ”, havia afirmado a diretora de campanhas internacionais dos RDF, Rebbeca Vincent, quando a juíza Vanessa Baraitser se recusou a conceder liberdade condicional ao jornalista em 6 de janeiro e asseverou que o surto de Covid-19 em Belmarsh estava sob controle.

Baraitser decidiu contra a extradição, mas estritamente devido ao estado de saúde mental de Assange e risco de suicídio caso fosse levado para os porões da CIA na Virgínia. RFS havia considerado a decisão de manter Assange preso durante a apelação a ser feita pelo governo dos EUA como “um passo desnecessariamente cruel”. “As questões de saúde mental que serviram de fundamento para evitar a extradição dele somente serão exacerbadas pela detenção prolongada, e sua saúde física também permanece em risco”. Vincent acrescentou que essa decisão “era a mais recente de uma longa linha de medidas desproporcionalmente punitivas contra Assange”.

A perseguição a Assange tem sido comparada à que foi movida pelo governo Nixon contra Daniel Elsberg, por revelar a verdade sobre a Guerra do Vietnã, ao tornar público os Papéis do Pentágono, na década de 1970.

James Goodale, que representou o New York Times quando Nixon tentou impedi-lo de publicar os Papéis do Pentágono, disse recentemente ao jornalista Kevin Gosztola que “não achava que [Assange] deva ser julgado sob a Lei de Espionagem, porque a lei foi projetada para espionagem e não por relatar a verdade, que foi o que Assange fez”.

Um dos documentos mostrados por Assange, a execução de jornalistas e civis desarmados em Bagdá, e um pai de família que tentou socorrer os feridos, quando levava os filhos para a escola, por um helicóptero de guerra Apache, que pede autorização ao comando para matar as vítimas, ficou conhecido como “Assassinato Colateral”.

A perseguição a Assange também é uma violação da Jurisprudência de Nuremberg. Os fatos provados e divulgados por Assange constituem crimes de guerra e contra a Humanidade mas, sinal dos tempos, são os criminosos de guerra – os mandantes e os executores – que seguem em liberdade, enquanto é o denunciante Assange que segue perseguido e ameaçado.