Exposto o plano de golpe de Trump
Em um movimento que se encaixa perfeitamente com a supressão de eleitores e conspirações para o roubo da eleição feitas pelo Partido Republicano, no domingo (1/11) foi revelado que o presidente Donald Trump planeja declarar vitória na noite da eleição, antes do término da contagem de todos os votos.
Por C. J. Atkins*
O jornalista Jonathan Swan relatou que Trump aparentemente tem discutido a trama com seu círculo íntimo há semanas.
A alegação de Trump de uma vitória na eleição visa mobilizar manifestações da direita em torno de acusações de que os democratas estão usando votos por correspondência para trapacear. Apoiadores de Trump – entre os quais legiões de extremistas de direita armados e supremacistas brancos – seriam direcionados a protestar nos locais de contagem e criar o caos nas ruas para apoiar os questionamentos legais do Partido Republicano. Seria uma repetição da estratégia da campanha de George W. Bush na Flórida em 2000, que enviou ativistas republicanos para intimidar os contadores de votos enquanto os advogados republicanos agiam nos tribunais.
Desta vez, pode haver várias Floridas, já que muitos estados podem ter resultados muito próximos, especialmente em campos de batalha fundamentais como a Pensilvânia.
Após a revelação, neste fim de semana, de seu plano de golpe, Trump negou, mas tentou novamente minar a legitimidade da contagem dos votos. No domingo (1/11), ele disse a repórteres que apenas os votos contados antes da meia-noite de terça-feira devem ser considerados válidos. “Acho terrível que não possamos saber os resultados de uma eleição na noite da eleição…. Nós iremos, assim que a eleição acabar, nós iremos com nossos advogados…”
Por meses Trump tem alimentado a raiva em sua base com falsas alegações de que todas as pesquisas de opinião que preveem sua queda iminente são “notícias falsas” e que a única maneira de perder a eleição é se ela for “fraudada”. Ele os preparou para uma ação imediata na noite da eleição.
A declaração prematura de uma vitória do Partido Republicano tentaria tirar vantagem da esperada “miragem vermelha” [miragem republicana] que poderia dar a aparência de uma vantagem substancial para Trump no início da noite de terça-feira. Os eleitores de Trump provavelmente votarão de forma esmagadora, em pessoa, no dia da eleição, tendo acreditado na mentira do presidente de que a votação pelo correio é fraudulenta. Esses votos pessoais serão contados rapidamente na noite da eleição, possivelmente dando a Trump uma vantagem inicial na contagem em vários estados-chave.
Os votos democratas, no entanto, provavelmente estarão fortemente concentrados nas cédulas de correspondência, ausentes e antecipadas – todas as quais normalmente levam mais tempo para serem contadas. As cédulas enviadas pelo correio devem ser removidas dos envelopes, verificadas quanto à sua exatidão antes de serem adicionadas à contagem. Em alguns estados, esse processo não pode nem mesmo começar no dia da eleição – o que significa que os votos dos democratas podem aparecer mais lentamente do que os republicanos. Alguns estados, como Ohio e Flórida, dizem que se empenharão para que todos os seus votos sejam contados na noite da eleição, enquanto outros podem demorar alguns dias.
A contagem pode ser ainda mais lenta devido à participação massiva e histórica na eleição de 2020. Na manhã de segunda-feira (02), mais de 94 milhões de pessoas já haviam votado, mais de dois terços do total de 2016. Antecipar a contagem ante o que se espera que seja uma avalanche de votos anti-Trump, é a principal motivação do esquema de declaração de vitória antecipada de Trump.
O exército de intimidação eleitoral do Partido Republicano já foi mobilizado neste fim de semana no Texas, Nova York, Nova Jersey e Geórgia. Na Interestadual 35 entre San Antonio e Austin na sexta-feira (30), uma caravana de dezenas de veículos com flâmulas de Trump cercou um ônibus de campanha de Biden e tentou tirá-lo da estrada. A emboscada forçou o cancelamento de dois eventos eleitorais democratas. O FBI está investigando.
No domingo (1/11), uma brigada pró Trump semelhante ocupou a ponte Mario Cuomo, bloqueando o tráfego em uma das rodovias mais movimentadas na área metropolitana fortemente democrática de Nova York. O senador do estado David Carlucci chamou a ação de “agressiva, perigosa e imprudente”. Eles fizeram o mesmo na Garden State Parkway em Nova Jersey, em South Amboy.
Em Roma (Geórgia), onde Trump realizou um comício no domingo, funcionários do Partido Democrata cancelaram no último minuto um evento presencial planejado e deram uma entrevista coletiva virtual por causa de uma “grande presença de milícia” na cidade. A chegada de muitos apoiadores de Trump fortemente armados deu às autoridades “motivos para acreditar que pode haver pessoas procurando problemas hoje”, disse a comissária municipal Wendy Davis. Ela disse que Trump “parece estar jogando lenha na fogueira do medo e do ódio”.
A máquina de intimidação do eleitor de Trump pode ter feito movimentos, mas seu plano para um golpe eleitoral encontrou muitos obstáculos no fim de semana. Enquanto suas tropas de assalto suburbanas tiravam o ônibus da campanha de Biden da estrada, os advogados do Partido Republicano tentavam anular 127.000 cédulas no condado de Harris, que inclui Houston e é fortemente democrata, sob a alegação infundada de que os eleitores não deveriam ser autorizados a postar suas cédulas em caixas drive-through.
A Suprema Corte do Texas rejeitou o processo frívolo dos republicanos, mas eles estão encaminhando para o tribunal federal. Respondendo ao ridículo do processo do Partido Republicano, a advogada do condado de Harris, Susan Hays, chamou isso de supressão eleitoral. “É uma loucura”, disse ela. “Os votos devem ser contados.”
Embora tenha chegado com semanas de atraso, outro tribunal tomou medidas para tentar mitigar alguns dos danos causados por Louis DeJoy, ligado a Trump, que sabotou os Correios em uma tentativa de retardar a entrega de cédulas pelo correio. Durante todo o verão e no outono, DeJoy destruiu caixas de correio em bairros negros, latinos e da classe trabalhadora, destruiu máquinas de triagem de correspondência e prejudicando a capacidade dos trabalhadores dos correios de entregar no prazo a correspondência relacionada à eleição.
O juiz distrital Emmet Sullivan emitiu uma decisão no domingo ordenando que o Correio dos EUA reforce seus “procedimentos de entrega especial” e use sua Express Mail Network – o serviço de entrega mais rápido – para garantir a “entrega de todas as cédulas possíveis até o horário de corte no dia da eleição”. A ordem exige que os gerentes dos correios tomem “medidas extraordinárias” para limpar e processar todas as cédulas no mesmo dia ou o mais tardar da manhã seguinte até 7 de novembro. Também exige que cada envelope da cédula seja claramente carimbado.
Uma votação esmagadora contra Trump no dia da eleição é necessária para alargar as margens, ajudar a solidificar o controle de Biden sobre o Colégio Eleitoral e dar um curto-circuito no planejado golpe eleitoral de Trump. Quanto maior for a perda de Trump no voto popular, mais difícil será para ele intimidar a contagem de votos e mobilizar sua base para assediar os locais de votação. Os esforços dos advogados do Partido Republicano para usar os tribunais para roubar a eleição – incluindo até a Suprema Corte dominada pelos republicanos – serão prejudicados se o voto anti-Trump for esmagador.
Uma ampla coalizão de organizações democráticas e populares já se prepara para garantir que todos os votos sejam contados e que os resultados sejam garantidos.
Há um site, o Proteja os Resultados, com detalhes sobre as ações locais a partir de agora até o dia da eleição e além para impedir um golpe.
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*C.J. Atkins é editor-chefe de “People’s World”.