Flávio Bolsonaro

O auditor-fiscal Christiano Paes Leme Botelho foi exonerado, na sexta-feira (04), do cargo de chefe do Escritório da Corregedoria da Receita Federal no Rio de Janeiro. Ele foi citado pela defesa do senador Flávio Bolsonaro no caso que investiga o esquema de lavagem de dinheiro montado em seu gabinete na época em era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Tanto a Receita como o antigo Coaf, este último perseguido por Bolsonaro até quase à extinção, e a própria Polícia Federal, já vinham sendo pressionados pelo Planalto. O Ministério Público do Rio denunciou, em novembro, Flávio Bolsonaro pelas práticas de lavagem de dinheiro. A acusação inclui ainda peculato, apropriação indébita e organização criminosa.

Flávio tenta desde o início do inquérito anular as provas de seus crimes. Seu argumento não é que elas não existem. É que elas teriam sido obtidas ilegalmente. Sua defesa tentou até no Supremo Tribunal Federal (STF) questionar a legalidade do relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que descobriu as movimentações suspeitas do assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, que chegaram a R$ 7 milhões em três anos.

Como não conseguiram anular o relatório do Coaf, passaram a pressionar a Receita Federal. Alegação era de que o órgão teria cometido irregularidades em relação à declaração de bens do filho de Jair Bolsonaro.

A quebra do sigilo bancário e fiscal dele, Flávio, e de dezenas de outros participantes do esquema criminoso levou a polícia a suspeitar que Flávio e sua mulher usaram imóveis e a loja de chocolates, que eles têm num Shopping na Barra da Tijuca, para lavar dinheiro desviado da Assembleia Legislativa do Rio.

Aí começou a pressão também sobre a Receita Federal. Até um encontro fora da agenda ocorreu em setembro entre Flávio, seu pai, Jair Bolsonaro, e o secretário do órgão, José Tostes. Sabe-se lá o que foi discutido nesta reunião.

Em agosto, o presidente já havia se reunido no Palácio do Planalto com advogados de Flávio Bolsonaro e convocou para o encontro o chefe do gabinete de segurança institucional, ministro Augusto Heleno, e o diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O objetivo deste encontro semiclandestino era identificar possíveis falhas na conduta da Receita Federal para livrar Flávio, mas eles não encontraram provas de qualquer irregularidade.

A pressão foi tão forte que o procurador-geral da República, Augusto Aras, foi obrigado a abrir uma apuração sobre a mobilização ilegal de órgãos do governo federal para tentar anular investigações do caso que envolve o senador Flávio Bolsonaro. Mas, até agora, Aras não deu nenhum passo concreto para esclarecer o caso.

Como não conseguiram nada contra a Receita Federal, Flávio e seus advogados começaram a alegar que houve irregularidades do auditor Christiano Paes Leme Botelho em outros casos.

Com isso, eles insinuavam que poderia ter acontecido também em relação ao caso de Flávio. A defesa chegou a citar situações semelhantes nas quais o auditor teria acessado, de forma irregular, dados de terceiros. Nada de concreto foi apresentado, apenas insinuações.

Agora saiu a exoneração de Christiano Paes Leme. No Diário Oficial veio como “exonerado a pedido”. Este também foi o caso do ex-chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Ele contou que recebeu um telefonema de Bolsonaro, dizendo, “olha, já está decidido, vou trocar a direção da PF”. E aí perguntou: “posso colocar que você sai a pedido?”. Desta vez, parece que ocorreu o mesmo com o auditor. Christiano estava no cargo havia pelo menos 15 anos e, durante este período, coordenou trabalhos que ajudaram a força-tarefa da Lava Jato em duas investigações contra auditores fiscais sob suspeita de cobrar propina de empresários investigados.