Numa vitória estratégica, o exército sírio recuperou, na terça-feira (11), pela primeira vez desde 2012, o controle da principal rodovia do país, a M5, que une Alepo com a capital, Damasco, as duas maiores cidades da Síria.

A libertação da crucial ligação entre os dois maiores centros econômicos da Síria – e que passa ainda pelas principais cidades das províncias de Homs e Hama – ocorre depois de pesados confrontos entre as forças sírias e os extremistas e abre caminho para a futura fase da reconstrução. O governo sírio reiteradamente tem dito estar determinado a recuperar “até o último centímetro do país”.

“Unidades militares sírias tomaram a área de Al Rashidin 4”, anunciou em júbilo a agência de notícias estatal, Sana.

Agora, 43% do território da província de Idlib está libertado do controle exercido por terroristas reciclados da Al Qaeda (sob o novo nome fantasia de Hayat Tahrir al Sham, depois de terem sido Al Nusra por bom tempo) e dos “jihadistas moderados” pró-Turquia.

No avanço através do último pedaço da rodovia então ainda em posse dos jihadistas, próximo a Alepo, um helicóptero sírio foi derrubado, e os três tripulantes morreram.

Desde o outono de 2018, o exército sírio vinha se refreando em relação à libertação da província, em razão do acordo firmado em Sochi, sob mediação russa, de desescalada na região, para expulsão de terroristas e desarmamento das milícias “moderadas”, mais a instalação de postos de monitoramento russos e turcos no entorno e cessar-fogo.

Ataques dos jihadistas contra áreas civis e contra posições do exército sírio, ao arrepio do Memorando do Sochi, levaram a uma contundente resposta e em um mês as forças legalistas libertaram 600 quilômetros quadrados e, com isso, assumiram o controle da principal rodovia síria.

Ancara, alegando que o avanço sírio teria causado a morte de 13 militares turcos, agravou a interferência com o envio de mais soldados e tanques para a região.

Oito soldados sírios foram mortos em ataques turcos e uma centena de alvos teriam sido neutralizados. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu fazer o exército sírio pagar “um preço muito alto” por “atacar os militares turcos” em solo sírio – que nos termos de Sochi deveriam estar ajudando a desmobilizar o conflito, mas vinham principalmente servindo de retaguarda para os cortadores de cabeças e jihadistas.

Em comunicado, o governo de Damasco afirmou que a presença de militares turcos é “uma violação da soberania do território sírio e uma flagrante violação do direito internacional” e “não conseguirá reviver as organizações terroristas”.

A Síria também responsabilizou o regime turco pelas “consequências de tal incursão”. Segundo a mídia ocidental e saudita, é a ação síria de restaurar sua soberania que estaria empurrando centenas de milhares de civis para a fronteira turca. Como feito em outras áreas da Síria, o governo manteve abertos corredores humanitários.

A Rússia continua buscando mediar uma saída para a atual crise. Comunicado do Ministério da Defesa da Rússia reafirmou que “o verdadeiro motivo” da crise na zona de desescalada de Idlib é, infelizmente, “o fracasso dos nossos parceiros turcos em cumprir seus compromissos de separar os combatentes oposicionistas moderados dos terroristas”.

“A principal tarefa da Rússia e da Turquia na Síria continua sendo a erradicação de grupos terroristas internacionais que se estabeleceram em seu território para garantir o retorno dos sírios a uma vida pacífica. Estamos convencidos de que, não sucumbindo às provocações de terroristas e ao evitar decisões precipitadas inconsistentes, esta missão da Rússia e da Turquia será implementada com sucesso”, afirmou o comunicado.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, lembrou que o lado turco “assumiu uma obrigação de neutralizar grupos terroristas” em Idlib, sob acordos bilaterais. Mas “todos esses grupos estão montando ataques em Idlib ao exército sírio e estão agindo agressivamente contra instalações militares russas”, acrescentou.

Os presidentes Erdogan e Vladimir Putin conversaram por telefone sobre o impasse. O ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, afirmou que Ancara continuará trabalhando com Moscou para manter o cessar-fogo em Idlib e que “nos próximos dias” oficiais militares turcos chegariam a Moscou para detalhamento.

A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, ironizou o apelo do ministro da Defesa turca à Otan, quanto a Idlib. Ela lembrou o diagnóstico do presidente francês Emmanuel Macron de “morte cerebral” da Otan, e disse achar que [a Turquia] deveria pensar “duas vezes” antes de recorrer a ela. A porta-voz acrescentou, porém, “ser direito soberano de cada membro desta maravilhosa organização decidir o que deve fazer”. Embora, ponderou, a Otan não tivesse “potencial” de resolver crises na região.