O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, em entrevista à jornalista
Míriam Leitão na GloboNews, segunda-feira (16/3), afirmou que o Brasil vai passar por uma
recessão e que o governo deve aumentar os gastos para conter a crise na saúde e reduzir os
efeitos da crise econômica. “Cabe uma resposta muito enérgica, específica para esse caso, e
para isso não deveria ter limite”, declarou.
“A calamidade é raríssima, não acontece toda hora, e é global. Hoje isso é muito forte, precisa
ser tratada de maneira rápida e firme e custa dinheiro. Não tem jeito”.
Segundo ele, “aumentar o gasto está correto e está previsto na lei. A Lei de Responsabilidade
Fiscal, a PEC do teto de gastos, todas preveem situação de calamidade, e essa é, sem dúvida,
de calamidade. São gastos temporários que tenham a ver com medicina, em reduzir o impacto
social da crise, o impacto das empresas. Muitas empresas vão ter que fechar,
temporariamente, mas é doloroso”.
Dado a natureza da crise, com o pânico provocado pelo coronavírus, os gastos se retraem,
ressaltou o economista. Pelo lado da oferta, “muita gente não vai poder trabalhar, não deve
trabalhar. Quem puder ficar em casa deve ficar, essa é uma recomendação muito clara da
experiência internacional, eu estou trabalhando em casa, remotamente. Têm custos
econômicos a curto prazo, mas minimizam os custos de saúde”.
Armínio Fraga alertou ainda para o aumento do desemprego que “já não ia muito bem das
pernas há muito tempo”. “Com a recuperação fraca, veio o vírus, aí não há dúvida de que o
desemprego aumenta. Espera-se que seja temporário, vai depender de muita coisa”.
Ele defendeu o socorro “as pessoas no geral e os mais pobres com certeza”, citando, como
exemplo, “as pessoas que forem obrigadas a ficar em casa terem algum tipo de assistência”.

Para ele, reduzir juros e aumentar gastos ajudam, mas o Brasil precisa investir a longo prazo e
não está investimento. “Mas, neste momento, é acertar na veia o problema que é temporário.
Os limites devem ser bastantes folgados, fora da meta. A meta é outro assunto”, defendeu o
economista com posição histórica no terreno do neoliberalismo.
Ao comentar a manifestação de Bolsonaro, cumprimentando apoiadores em frente ao Palácio,
que gerou enorme reação de especialistas em saúde pública e de políticos, Armínio Frago disse
que sentiu pena das pessoas que estavam ali e disse que Bolsonaro “não deu um bom
exemplo”. “É um caso triste, há muito obscurantismo”.
“Temos cuidados com meio ambiente, temos uma agenda neoliberal, mas temos cuidado com
a qualidade da vida das pessoas”, declarou.
Ele defendeu as instituições democráticas e disse que “é impossível o Brasil se desenvolver
plenamente sem uma democracia plena, vibrante, aberta, plural. E isso, hoje, está sob
ameaça”.