Sessão Deliberativa Remota (SDR) do Senado Federal realizada a partir da sala de controle da Secretaria de Tecnologia da Informação (Prodasen). Ordem do dia. Na pauta o Projeto de Lei (PL) 1.013/2020, que suspende, durante a pandemia da covid-19, os pagamentos das parcelas devidas pelos clubes ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). Toma posse o senador Ney Suassuna (Republicanos-PB), em virtude de licença do titular, senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB). Em destaque, 3º secretário da Mesa Diretora do Senado Federal, senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

A ex-assessora do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Luiza Souza Paes, confessou, em depoimento ao Ministério Público, ter devolvido a maior parte de seu salário para o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema da lavagem de dinheiro comandado pelo filho do presidente Jair Bolsonaro.

A informação foi dada em setembro ao MP-RJ. Ela disse que repassou cerca de R$ 160 mil a Queiroz por meio de depósitos e entrega de dinheiro em espécie. O MP-RJ já havia identificado R$ 155,7 mil em repasses dela ao PM aposentado. Luiza foi a primeira ex-funcionária do senador a confirmar o esquema descrito pela Promotoria e dar detalhes sobre sua operação.

O depoimento da ex-funcionária fantasma faz parte da denúncia oferecida nesta terça-feira (3) contra o senador por liderar uma organização criminosa para a prática de peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita. Além de Flávio Bolsonaro e Queiroz, outras 15 pessoas foram denunciadas. A ex-assessora ficou apenas um ano nomeada no gabinete de Flávio, mas depois ocupou cargos na estrutura da Assembleia, como a TV Alerj e o Departamento de Planos e Orçamento.

Queiroz é apontado como o mandachuva e a pessoa designada por Flávio para recolher os salários de funcionários fantasmas do antigo gabinete do deputado e pelo pagamento de despesas pessoais do agora senador com o dinheiro proveniente da lavagem. Ela diz que só soube do esquema no dia em que foi nomeada para o cargo, em agosto de 2011. Luiza afirmou que foi empregada no gabinete quando concluía o curso de Estatística. Ela havia pedido a Queiroz, amigo de seu pai, um estágio.

Luiza era obrigada a devolver 90% do salário, o que significou que ela ficava com R$ 700 mensais, segundo relatou ao MP-RJ. De acordo com o depoimento, ela devolvia não apenas seu salário líquido, mas também benefícios pagos pela Assembleia e até a restituição do imposto de renda.

Queiroz começou a ser investigado em janeiro de 2018. Naquele mês, o MP-RJ recebeu um relatório do Coaf apontando a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Depois outro relatório mostrou que ele movimentou R$ 7 milhões de 2014 a 2017.

Amigo do presidente há mais de 30 anos, Queiroz levou também para o gabinete a mãe e a ex-mulher do miliciano e assassino de aluguel, Adriano da Nóbrega. Raimunda Veras, mãe de Adriano, e Danielle Mendonça da Nóbrega, sua ex-mulher, repassavam dinheiro recebido do gabinete para Queiroz e para o miliciano. O repasse de recursos de dois restaurantes de propriedade da mãe de Adriano para Queiroz levou o MP a desconfiar que o gabinete de Flávio também foi usado para lavar dinheiro da milícia.

A investigação, conduzida pelo Gaecc a partir de fevereiro de 2019, apontou que Queiroz recebia depósitos de ao menos 13 ex-assessores de Flávio e sacava os recursos logo em seguida. Foram identificados 21 depósitos, no valor total de R$ 72 mil, de Fabrício Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro.

Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, depositou mais R$ 17 mil na conta de Michelle, totalizando R$ 89 mil. Até hoje, nem ela e nem o presidente explicaram o motivo dos depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama.

O relatório que pediu a prisão de Queiroz revelou que, numa operação de busca e apreensão ocorrida durante as investigações, a Justiça captou conversas telefônicas entre Luiza Souza Paes, seu pai Fausto Antunes Paes, seu namorado Felipe e seu colega de trabalho, Rafael Zuma.

E mostraram que a dona do telefone, Luiza Souza Paes, demonstrava preocupação com reportagens que tratavam de Fabrício Queiroz e a adulteração de provas documentais na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) com intuito obstruir a atuação da Justiça.

Segundo relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Luiza Souza Paes teria feito depósitos na conta de Fabrício Queiroz.

Uma mensagem de Fausto para Luiza dizia: “deixa passar essa semana pra ver. Eu vou passar um áudio aqui pro Queiroz, perguntar pra ele ver lá com aquele advogado lá qual é a melhor atitude a tomar. Entendeu? Depois te falo”.

Em 14 de dezembro de 2018, Fausto pediu para que Luiza levasse seus extratos bancários com a finalidade de serem analisados de acordo com os valores dos depósitos efetuados na conta de Fabrício, combinando assim uma versão sobre os fatos.

Segundo Fausto, o advogado orienta Luiza a não comparecer ao MP, conforma a mensagem: “Luiza, o Gustavo (Luiz Gustavo Boto Maia) me ligou aqui agora. Se enrolou todo e ainda tá lá na Barra ainda (…). É para não ir amanhã! Eu perguntei a ele, Gustavo, não tem perigo esse negócio? Não, não, não. Não se preocupa não. Ninguém foi hoje e ninguém vai amanhã….”

As conversas revelaram também que foram providenciadas assinaturas retroativas de Luiza nos livros de ponto da Alerj.

Luiza teve medo, mas acabou concordando em assinar. Ela compareceu na Alerj em 24 de janeiro de 2019, encontrou-se com Matheus Azeredo Coutinho e a adulteração do livro de ponto foi efetuada de forma retroativa ao ano de 2017.