Trump disse não se importar que invasores tivessem armas, declara testemunha

Em audiência pública do comitê da Câmara dos EUA de investigação do ‘6 de janeiro’, a testemunha-bomba Cassidy Hutchinson, ex-assessora principal do chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, relatou a os esforços do então presidente para ir em pessoa ao assalto ao Capitólio – que ele açulara – e como ele estava ciente de que as milícias que convocara para a ‘marcha’ carregavam armas, entre outros detalhes tenebrosos de até onde Trump chegou na tentativa de virar a mesa e impedir a proclamação do resultado das urnas.

Uma das revelações de maior impacto foi a descrição da cena em que, após ter dado a ordem da marcha ao Capitólio, Trump entrou na limusine presidencial, querendo seguir com seus mínions e, diante da recusa dos agentes do serviço secreto, decididos a levá-lo de volta à Casa Branca, chegou a se agarrar ao volante, gritou que “eu sou a p* do presidente, me levem até o Capitólio agora”, e furioso até pegou um deles pelo pescoço.

Antes, durante o comício, Trump interviera para que o serviço secreto pusesse de lado os detectores de metal, por saber que na multidão de supremacistas e negacionistas havia muita gente armada, que ficavam ao largo para não terem as armas apreendidas. “Deixe meu povo entrar”, disse Trump naquele dia. “Eles podem marchar para o Capitólio daqui”.

Hutchinson testemunhou que Trump disse: “Eu não me importo que eles tenham armas. Eles não estão aqui para me machucar. Leve os malditos mags [magnetômetros] embora”.

A audiência com Hutchinson foi realizada em condições extraordinárias, tendo sido anunciada de surpresa na segunda-feira depois da ‘CPI’ declarar que só haveria outra audiência em meados de julho. O assunto foi mantido em segredo, assim como a identidade da testemunha, e o comitê tomou precauções extremas, segundo a mídia norte-americana. Seu depoimento a portas fechadas havia durado 20 horas.

Trump asseverou em um post em sua plataforma de mídia social Truth Social que “mal” conhece Hutchinson, a quem chamou de “totalmente falsa” e “vazadora”.

Na audiência ao vivo, Hutchinson forneceu mais indícios de que os planos para um ataque ao Capitólio estavam em andamento bem antes do 6 de janeiro. Ela relatou que depois de uma reunião na Casa Branca com Meadows em 2 de janeiro, o advogado de Trump, Rudy Giuliani, lhe perguntou se estava animada com o que estava programado para 6 de janeiro. “Nós vamos ao Capitólio. O presidente vai estar lá. Ele vai parecer poderoso”, disse-lhe Giuliani.

Sobre a invasão do Capitólio, a ex-assessora disse que ouviu Meadows dizer em relação aos gritos de “enforquem Mike Pence” e ao laço de forca montado do lado de fora do Capitólio: “Ele [Trump] acha que Mike merece. Ele não acha que eles estão fazendo nada de errado”.

Questionado pela vice-presidente da ‘CPI’, Liz Cheney, se Meadows alguma vez indicou que estava interessado em receber um perdão relacionado a 6 de janeiro, Hutchinson respondeu que “buscou esse perdão, sim senhora”.

Antes ela já testemunhara que também o advogado de Trump, Rudy Giuliani, pediu perdão. Depoimentos anteriores já identificaram seis deputados que buscaram indultos preventivos de Trump, os republicanos Andy Biggs, Mo Brooks, Matt Gaetz, Louie Gohmert, Marjorie Taylor Greene e Scott Perry.

O depoimento causou uma enorme repercussão. O presidente do Public Citizen, Robert Weissman, tuitou que “esta foi uma tentativa clássica de golpe”. “Trump queria liderar uma multidão armada e raivosa para o Capitólio”, escreveu Weissman. “Pior do que sabíamos.”

Ainda segundo Public Citizen, “o testemunho de Hutchinson elimina qualquer noção de negação plausível em torno de 6 de janeiro”.

“Justamente quando pensamos que os relatos das ações do ex-presidente e de seu círculo íntimo não podem piorar, aprendemos que de fato podem”, afirmou a presidente da Common Cause, Karen Hobert Flynn, que lembrou que Trump incitou a multidão fortemente armada a marchar sobre o Capitólio e a ‘lutar como o inferno’.

“O testemunho arrepiante de Hutchinson não deixa dúvidas: o presidente Trump liderou uma conspiração criminosa para derrubar a eleição de 2020”, disse Sean Eldridge, fundador e presidente da Stand Up America em comunicado, em que pediu que Trump e seus facilitadores sejam responsabilizados criminalmente.

O testemunho – concluiu – “deixa claro o quão chocantemente chegamos perto de perder nossa democracia e como fomos traídos por aqueles que juraram defender nossa Constituição. Ninguém está acima da lei”.