A operação para trazer em segurança Evo foi uma “viagem pela diplomacia latino-americana”

“Estamos muito agradecidos porque o presidente do México e o povo boliviano salvaram minha vida”, disse o presidente Evo Morales assim que pisou em solo mexicano na terça-feira (12), onde foi calorosamente recebido pelo chanceler Marcelo Ebrard, após uma odisseia de 14 horas até chegar em segurança ao país que lhe concedeu asilo, após o golpe de estado que o depôs no domingo, depois de duas semanas de turbas fascistas terem livre trânsito para perseguir os legalistas e queimar suas casas.

Juntamente com ele, chegaram ao México seu vice-presidente, Álvaro García Linera, sua ministra da Saúde e ex-presidente do Senado, Gabriela Montaño, e a filha de Evo, Evaliz Morales Alvarado.

Após um abraço a Evo, Ebrard disse que era um dia de alegria, porque o asilo oferecido foi eficaz “e ele já está aqui em terras mexicanas, onde desfrutará de liberdade, segurança, integridade e proteção de sua vida, que são as causas que nos motivam. Sejam bem-vindos Evo e os que o acompanham; recebam as saudações do presidente López Obrador e de todo o povo do México”.

INDÍGENA

“Irmãs e irmãos, se eu tenho algum crime (…) é ser o indígena Evo. Se tivemos algum pecado, de mãos dadas com o vice-presidente, foi implementarmos programas sociais para os mais humildes, buscando a igualdade. Estou convencido de que só haverá paz quando a justiça social for garantida e nosso pior crime ou pecado é que somos ideologicamente anti-imperialistas”, afirmou o presidente deposto.

“Que o mundo inteiro saiba, não é por causa desse golpe (de Estado) que eu vou mudar ideologicamente. Não é por causa desse golpe que eu mudarei ou deixarei de trabalhar pelos setores mais humildes. Você sabe muito bem, nós reduzimos a pobreza em particular. É um mais uma lição a aprender, é mais uma lição para fortalecer a luta dos povos “, acrescentou.

“Pensei que tivéssemos acabado com a opressão, com a discriminação, com a humilhação, mas existem outros grupos que não respeitam a vida, o país”, assinalou Evo, que em uma de suas últimas declarações na Bolívia afirmara que [Carlos] Mesa e [Luis] Camacho passarão à história como “racistas e golpistas”.

ODISSEIA

Na descrição do ministro do Exterior do México, a operação para trazer em segurança Evo foi uma “viagem pela diplomacia latino-americana”.

Ele deixou a Bolívia no final da segunda-feira à tarde da base de Chimoré, uma pequena cidade no departamento de Cochabamba, em um avião da força aérea mexicana. Logo depois, Ebrard divulgou um foto de Evo dentro da aeronave, coberto com uma bandeira mexicana e tuitou que “de acordo com as convenções internacionais, está sob proteção do México, sua vida e integridade estão seguras”.

O avião primeiro pousou em Lima, reabasteceu, e ficou esperando autorização de La Paz, que concedeu depois de horas de espera e depois revogou, forçando a volta a Lima. Mais negociações, e o comando da Força Aérea boliviana autoriza. A volta deveria ser pela mesma rota, mas o Peru comunica que a permissão está suspensa.

O governo mexicano negocia com o Paraguai, com a ajuda do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández. O chanceler paraguaio diz que entende a situação no México e que o caso “pode ​​se tornar uma tragédia”. Nova intervenção do embaixador mexicano em La Paz para obter a permissão para o avião partir, já a Força Aérea Boliviana ameaçava impedir a decolagem, que finalmente ocorreu “por um espaço milimétrico.

Afinal, Lima volta a permitir passagem por seu espaço aéreo e o Equador permite eventual escala para reabastecimento em Guayaquil. Quando tudo parecia resolvido, a Bolívia relata que não autoriza mais a passagem do avião pelo espaço aéreo de volta de Assunção, a caminho do Peru. Com a ajuda do embaixador brasileiro em La Paz, Octavio Henrique Dias García Côrtes, é conseguida licença ao amanhecer para permitir que o avião sobrevoe a fronteira entre a Bolívia e o Brasil. A rota seguiria o Peru e o Equador a caminho da Cidade do México, agora sem paradas.

O avião decola de Assunção por volta das 02:00 da terça-feira (horário do México).

Já no espaço aéreo do Equador, o avião recebe o aviso de que não tem permissão para entrar no país. A aeronave inicia um desvio para alcançar águas internacionais. Afinal, Quito permite o sobrevoo sobre suas águas, e Evo está a salvo a caminho do exílio. Uma peripécia já conhecida de Evo, quando Washington fechou o espaço aéreo europeu na tentativa de capturar o denunciante Edward Snowden.