A moeda europeia vem se desvalorizando frente ao dólar desde o início das sanções russofóbicas

O euro caiu abaixo da paridade com o dólar nesta quarta-feira (13), sendo negociado a US$ 0,998 (cerca de R$ 5,37). Embora com leve recuperação nos dias 14 e 15, foi a primeira vez, em 20 anos, que a moeda europeia fica abaixo do dólar.

A condição está sendo vista por especialistas que relacionam a forte queda à submissão da União Europeia (UE), em impor sanções ditadas pela Casa Branca à Rússia. É o já conhecido como efeito bumerangue: o intuito manifesto por Washington – em retomada da mentalidade e ações típicas da Guerra Fria – de “enfraquecer a Rússia.

Junto à desvalorização do euro, há também a inflação mais alta desde que o euro entrou em circulação e ainda uma estagnação econômica como resultado da combinação dos fatores pandemia e a crise energética.

Esta última se deve essencialmente às sanções contra a Rússia sob pretexto do conflito que a Otan provocou na Ucrânia.

O euro é a moeda oficial de 19 dos 28 países europeus que formam a chamada “Zona do Euro”, parte da União Europeia. São eles: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta e Portugal.

Nesta semana, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, ao observar a desvalorização do euro, ironizou: “Os europeus atiraram na própria cabeça com uma pistola de sanções”, frisou.

O valor de uma moeda é determinado por vários fatores. Um deles é a balança comercial, ou seja, as exportações versus importações de um país ou conjunto de países que adotam determinada moeda, assinalou Víctor Aramburu, especialista mexicano em desenvolvimento econômico pela London School of Economics, observando que esta movimentação de mercadorias está em queda desde a aplicação das sanções russofóbicas.

Neste sentido, a crise energética europeia acabou se tornando um fator decisivo no comportamento da taxa de câmbio das moedas internacionais. As sanções econômicas a Moscou causaram uma elevação nos preços do petróleo bruto e seus derivados. Por essa razão, a maioria dos países da União Europeia (UE) teve que pagar mais euros para comprar gás e energia em outros mercados a preços mais elevados. “É isso que está atingindo o euro, vemos isso no câmbio em relação ao dólar”, mostrou Aramburu.

Em maio, a Alemanha, maior economia nacional da UE, registrou uma taxa de inflação interanual de 7,9%, a mais alta em quase meio século. “Os principais motivos para a alta da inflação continuam sendo os aumentos nos preços dos produtos energéticos”, reconheceu na época Georg Thiel, presidente do Escritório Federal de Estatística do país.

Nos últimos dias, o governo alemão anunciou ter conseguido baixar um pouco a pressão inflacionária de 7,9% para 7,6%, graças ao fato das autoridades terem cobrado menos impostos sobre os combustíveis e baixado os preços do transporte público.

Mas mesmo essas medidas não impedirão o Banco Central Europeu de aumentar as taxas de juros pela primeira vez em mais de 10 anos, segundo a Bloomberg, o que significa que os problemas de estagflação (estagnação combinada com inflação) podem estar longe de serem resolvidos.

Além disso, em junho, a Rússia foi forçada a reduzir drasticamente o fornecimento de gás da Gazprom pelo gasoduto Nord Stream 1, principal rota de fornecimento do gás russo à Europa. Isso porque duas estações de compressão foram fechadas para reparos em suas turbinas de bombeamento de gás.

Essas turbinas precisam passar por revisões regulares, feitas pela empresa alemã Siemens. Uma das turbinas passou por revisão no Canadá, mas, por conta das sanções aplicadas à Rússia, ficou retida no país até recentemente. Por isso, o gasoduto passou a funcionar com apenas 40% de sua capacidade. O governo do Canadá informou no domingo (10) que finalmente decidiu entregar à Alemanha a turbina necessária para transportar gás da Rússia.