Míssil lançado da Califórnia percorreu mais de 500 quilômetros antes de cair no mar

Diante do teste, pelos EUA, de um míssil que estava banido até o dia 1º deste mês sob o Tratado INF (Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário), o presidente russo Vladimir Putin salientou que os norte-americanos “testaram esse míssil muito rapidamente – muito rapidamente depois de anunciarem que estão deixando o acordo”. A declaração foi feita durante sua visita a Helsinque, Finlândia, na quarta-feira (21).

O teste, que segundo o Pentágono obteve êxito, aconteceu no domingo no litoral da Califórnia e o míssil, que foi disparado a partir de um lançador vertical MK41, percorreu mais de 500 km.

Putin acrescentou que, dado isso, “temos todas as razões para acreditar que o desenvolvimento para torná-lo um míssil lançado no solo – é um projétil marítimo – começou muito antes de os EUA começarem a procurar razões para deixar o acordo”.

A observação de Putin reforça a declaração oficial da diplomacia russa no dia anterior de que a realização de um teste de míssil terrestre intermediário pelos EUA “em prazo extremamente apertado” – duas semanas após o fim do Tratado que proibia o uso, fabricação e pesquisa desse tipo de arma – “é a mais clara e explícita confirmação” de que Washington esteve violando o Tratado INF desde muito antes.

ESCALADA

“O governo dos Estados Unidos toma de maneira flagrante o caminho de uma escalada de tensões militares, mas não cederemos à provocação”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov.

O Tratado INF, que proibia a EUA e Rússia mísseis terrestres de alcance entre 500 e 5500 quilômetros, assinado em 1987 por Reagan e Gorbachev, detendo o premente risco de guerra nuclear no teatro europeu na época, foi oficialmente encerrado em 1º de agosto, após em fevereiro Washington ter oficializado sua saída, o que, reciprocamente, forçou Moscou a fazer o mesmo.

Cinicamente, o Pentágono asseverou ter iniciado o desenvolvimento “conceitual” do novo míssil de cruzeiro só depois de os EUA terem abandonado o Tratado INF “em fevereiro”.

Antes de se retirar unilateralmente do Tratado INF, o regime Trump buscou jogar a culpa sobre a Rússia, dizendo que eram os russos que teriam violado o acordo, com o desenvolvimento de um novo míssil.

O que foi contestado por Moscou, que inclusive realizou uma apresentação do míssil em público – a que os representantes norte-americanos se recusaram a ir – e ofereceu a realização de inspeção internacional. Com alcance de 480 km, o míssil russo está dentro dos parâmetros do tratado.

MORATÓRIA

Durante coletiva conjunta de imprensa, após reunião com o anfitrião Sauli Niinistö, presidente finlandês, Putin se declarou preocupado de que “o míssil recentemente testado possa ser disparado de locais de lançamento localizados na Romênia e que, em breve, esteja previsto para ser instalado na Polônia”. “Só requer uma mudança no software”, advertiu.

Um “claro perigo” para a Rússia, sublinhou Putin, ao qual Moscou terá de responder com “contramedidas”. O lançador usado no teste dos EUA foi um MK41, o mesmo já instalado na Romênia.

Em seu encontro com o presidente francês Emmanuel Macron, na segunda-feira(19), Putin reiterou o compromisso da Rússia com uma moratória na instalação dos mísseis terrestres de curto e médio alcance (aqueles que eram banidos pelo Tratado INF).

“Não colocaremos os mísseis de alcance intermediário em nenhuma região do mundo enquanto não aparecerem ali os sistemas norte-americanos”, afirmou o líder russo, depois de dizer que “se os EUA produzirem tais sistemas de ataque, também o faremos”.

ESCASSO INTERESSE DA CASA BRANCA

Durante a reunião em Fort Breganson, Putin alertou sobre o escasso interesse demonstrado por Washington quanto à prorrogação do único tratado estratégico de limitação de armas nucleares que ainda resta, o START III, que expira em 2021.

“Gostaria de recordar que não foi a Rússia que retirou unilateralmente do Tratado ABM. Também não nos afastamos do Tratado INF”, salientou Putin.

“Agora, a prorrogação do Tratado sobre Armas Estratégicas Ofensivas (START III) está na agenda. Ainda não vimos nenhuma iniciativa de nossos parceiros americanos, embora nossas propostas estejam na mesa”, destacou o líder russo.

Putin também expressou sua preocupação quanto ao risco de “militarização do espaço” e à falta de ratificação do Tratado de Proibição Total de Testes nucleares (TPCE) por parte de Washington.

VIOLAÇÕES DO INF

As violações por parte de Washington do Tratado INF ocorrem desde 1999, quando os EUA começaram a testar drones – que, objetivamente, se enquadram nas proibições. Em 2014, se agravaram com a implantação na Europa de lançadores terrestres MK41, supostamente para antimísseis, mas que podem em horas ser ajustados para disparar mísseis de cruzeiro banidos. Os MK-41 são usados para disparar os mísseis marítimos de cruzeiro Tomahawk há anos.

Como provou o Ministério da Defesa russo, Washington iniciou os preparativos para a produção de mísseis de médio e curto alcance proibidos pelo Tratado INF dois anos antes de acusar Moscou de violar o acordo.

Como mostrado por fotos de satélite de uma fábrica da Raytheon em Tucson, no Arizona, em ampliação desde junho de 2017 para produzir os mísseis proibidos.

Em novembro do mesmo ano, o Congresso alocou no orçamento do Pentágono a verba de US$ 58 milhões explicitamente para “desenvolvimento de um míssil lançado no solo de médio alcance”.

Como assinalou então a Rússia, são “provas irrefutáveis” de que o governo dos EUA decidiu se retirar do Tratado INF “anos ante de tornar públicas acusações infundadas contra a Rússia”.