“Puxar este homem para fora do carro, pelos cabelos — um paraplégico — é desumano”, disse Derrick Foward, da NAACP

Vídeo em que um negro paraplégico é arrancado pelos cabelos e pelo braço de seu carro em uma batida policial reitera o racismo entranhado na vida dos EUA. “Eles me arrastaram para sua viatura como um cachorro, como um lixo. Foi humilhação total”, denunciou Clifford Owensby, 39, em uma entrevista coletiva no domingo (10).

O vídeo mostra que ele grita repetidamente: “sou paraplégico”. A agressão racista ocorreu no dia 30 de setembro em Dayton, no estado de Ohio.

“Puxar este homem para fora do carro, pelos cabelos — um paraplégico — é totalmente inaceitável, desumano e coloca uma luz negativa em nossa grande cidade de Dayton, Ohio”, disse Derrick Foward, da Associação Nacional para o Avanço de Pessoas de Cor (NAACP), ao jornal The Washington Post.

Owensby acusou o Departamento de Polícia de Dayton (DPD) de pará-lo por ser negro [“profiling”], prisão ilegal, busca e apreensão ilegais e não ler seus direitos antes de ser levado para a prisão, disse Foward, na entrevista. O advogado de Owensby, James Willis, disse irá abrir um processo civil.

A denúncia, endossada pela mais tradicional entidade de defesa dos direitos das pessoas de cor norte-americanas, forçou a polícia a divulgar o vídeo da câmara pessoal de policiais envolvidos na agressão.

É possível ouvir um policial dizendo para Clifford sair do carro e ele respondendo que é paraplégico e por isso não consegue. Ele pede a presença de um “camisa branca”, um supervisor de ações policiais e seu pedido é ignorado.

Um dos agentes insiste em exigir do paraplégico que “colabore e saia do carro” ou será “arrastado para fora”, suas “duas opções aqui”.

Clifford é retirado à força, apesar de dizer que está sendo machucado. Ele pede por ajuda repetidamente, enquanto é arrastado pelos cabelos e pelo braço.

A prefeita de Dayton, Nan Whaley, descreveu a filmagem como “muito preocupante”. Grupos de direitos civis repudiaram o ocorrido e exigiram que a agressão fosse devidamente investigada.

A alegação dos policiais envolvidos é de que Owensby foi parado porque saíra de uma casa “onde haveria pessoas suspeitas de tráfico de drogas”. Uma bolsa com 22 mil dólares foi achada no carro. O paraplégico não foi acusado de nenhum crime relacionado às drogas.

Numa manifestação das raízes profundas do problema, o presidente da associação policial local, Jerome Dix, buscou justificar a agressão em declaração ao Dayton Daily News, dizendo que a prisão de “indivíduos desobedientes não é bonita”, mas é necessária “para manter a ordem pública”. Ele asseverou ainda que os policiais “seguiram a lei, seu treinamento e políticas departamentais”.