“EUA quer prender Assange por revelar seus crimes de guerra”
O governo dos EUA quer prender Julian Assange “o resto de sua vida por seu melhor trabalho, o realizado pelo seu site WikiLeaks: aquele que fez ao filtrar os registros de ações que são crimes de guerra explícitos e abusos de poder”, afirmou Edward Snowden, que, por sua vez, teve de buscar exílio na Rússia, após contribuir, de forma similar a Assange, com a revelação de extensos documentos cujo teor mostravam a interferência e espionagem global norte-americana que atenta contra soberania de países, ação independente de governos e privacidade dos indivíduos.
“Não há como condenar Julian Assange sob a Lei de Espionagem sem que as mesmas normas recaiam sobre o The New York Times e outros meios”, que divulgaram as informações sistematizadas pelo Wikeleaks, prosseguiu Snowden, que ao tomar consciência da magnitude dos crimes cometidos pelo governo norte-americano, partiu de sua condição de técnico a serviço da agência de espionagem CIA para tornar públicas as informações a que tivera acesso, aí, assim como na chamada Agência de Segurança Nacional dos EUA.
“Você pode compreender que condená-lo prejudica a todos. Isso prejudica tua sociedade. Prejudica o futuro de teus filhos”, acrescentou Snowden, dirigindo-se aos cidadãos norte-americanos.
A extradição aos Estados Unidos do jornalista e preso político Julian Assange, que está encarcerado na prisão de segurança máxima de Belsmarsh, na Inglaterra, por denunciar os crimes de guerra dos EUA, e sua perseguição pelas revelações que deixaram exposto o abuso de poder, representa um grande risco para todos os jornalistas e vai contra os interesses e a liberdade de imprensa, afirmou Snowden, em entrevista concedida ao jornalista Joe Rogan, em seu podcast, Joe Rogan Experience, na terça-feira (15).
Se extraditado, Assange pode ser condenado a 175 anos por “espionagem” – isto é, por divulgar documentos do Pentágono mostrando crimes de guerra cometidos no Iraque e Afeganistão, e a tortura em Guantánamo. No mundo inteiro, tem se multiplicado o clamor contra a extradição de Assange, de parte de um grande número de jornalistas, juristas, personalidades e entidades.
Já Snowden segue na Rússia mais de cinco anos após ter divulgado uma das maiores coleções de documentos secretos da história, que demonstraram que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos grampeia milhões de usuários na internet e nos telefones diariamente.
Entre outros feitos, Snowden divulgou através do jornal inglês “Guardian” a ordem secreta do tribunal secreto Fisa que ordenou o grampo geral de todos os 98,9 milhões de telefones da operadora Verizon por três meses, e também as 41 páginas de PowerPoint que revelam a existência do Programa Prisma, através do qual a NSA grampeia diretamente os usuários do Google, Microsoft, Facebook, Skype, Apple e mais quatro gigantes da internet, e ainda que o grampo atinge os EUA e o planeta inteiro.
“Esse caso marca um precedente legal nos EUA, onde a justiça tradicionalmente tem feito uma clara distinção entre os jornalistas e suas fontes. Se for condenado à cadeia perpetua, sua sentença poderia impactar toda a esfera midiática”, analisou Snowden.
“Por muito abusivas que tenham sido as ações sob a Lei de Espionagem, nos últimos 50 anos o governo tinha uma espécie de acordo tácito. Nunca apresentaram acusações contra os meios de comunicação… acusavam suas fontes”, explicou. “Estão rompendo esse acordo com o caso de Julian Assange. Assange não é a fonte, é simplesmente um editor. Dirige uma organização de imprensa”, enfatizou.
Já se passaram dez anos desde que o WikiLeaks, junto com alguns dos maiores jornais do mundo, divulgou o conhecido vídeo “Assassinato Colateral”, tirado de um helicóptero de guerra norte-americano em Bagdá que mostra o trucidamento de civis iraquianos desarmados, inclusive dois jornalistas. O documento sintetiza brutalmente os milhares e milhares de arquivos do Pentágono sobre a guerra.
A publicação não foi feita em solo norte-americano, Assange não é cidadão norte-americano e se prevalecer o precedente, enquanto se oficializa a extraterritorialidade de leis norte-americanas e a impunidade dos crimes de guerra, qualquer um, em qualquer lugar do mundo, que publique algo de que Washington não goste, pode virar o próximo alvo.
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