Mais manifestações contra a presença de Bolsonaro na Cúpula estão agendadas

Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, não vai ter sossego na Cúpula das Américas. Ativistas brasileiros prepararam uma “recepção” para o chefe do Executivo nas ruas de Los Angeles (EUA), cidade que nesta semana recebe a 9ª Cúpula das Américas. Bolsonaro deve participar do evento a partir da quinta-feira (9).

Na tarde da terça-feira (7), um caminhão com três telas de LED circulou pelas ruas da cidade da Califórnia com mensagens como “Fuera, Bolsonaro”, “Don’t trust Bolsonaro” (não confie em Bolsonaro) e “Bolsonaro loves Trump” (Bolsonaro ama Trump).

Todas as mensagens vinham acompanhadas de imagens do ex-capitão.

A ação foi promovida por uma articulação de organizações brasileiras e internacionais, que preferem não se declarar por motivos de segurança para os integrantes. O grupo diz temer represálias e violências a que ativistas estão sujeitos no Brasil.

O ato é parecido com o que aconteceu em Nova Iorque em setembro do ano passado, por ocasião da viagem do presidente para a Assembleia Geral da ONU. Foi em confusão que envolveu o veículo que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, perdeu as estribeiras e mostrou o dedo do meio para manifestantes.

Em nota divulgada na terça-feira, a articulação de entidades escreveu que Bolsonaro leva para Los Angeles e para a Cúpula das Américas a “péssima reputação ambiental e seu desprezo pelas instituições democráticas”.

Segundo eles, a intenção da intervenção é alertar os norte-americanos e o presidente Joe Biden sobre o tipo de líder que será prestigiado com reunião bilateral. “É um erro confiar em qualquer tipo de compromisso que ele venha a assumir nesse encontro”, está escrito no texto.

Bolsonaro só decidiu viajar aos EUA para a Cúpula das Américas após receber um emissário de Biden em Brasília. Além de afirmar que o presidente norte-americano aceitaria se reunir com o brasileiro à margem da cúpula, o ex-senador Christopher Dodd disse que o governo norte-americano não pretende criar constrangimentos para o líder brasileiro durante o evento.

A mensagem dos ativistas ainda está na carta em que 71 organizações da sociedade civil brasileira protocolaram, também na terça-feira, na Casa Branca. Entre as ONG estão a Apib (Associação dos Povos Indígenas Brasileiros), a Comissão Arns, o Greenpeace Brasil e o Instituto Vladimir Herzog.

O texto expõe a preocupação com o uso do encontro com Biden por Bolsonaro, de tal forma que o brasileiro possa alegar “falsamente que seu governo [de Biden] endossa seus ataques [de Bolsonaro] à democracia, às eleições livres e justas, ao meio ambiente, à ciência, aos direitos humanos básicos e à Amazônia”.

O documento menciona ainda que “se a democracia brasileira cair, sr. presidente [Biden], todos os seus esforços para ‘Construir um Futuro Sustentável, Resiliente e Equitativo’ na Cúpula das Américas terão sido em vão” e que a continuação do governo de Bolsonaro condenaria a Floresta Amazônica e os povos da floresta.

Protesto contra o líder brasileiro, organizado por ativistas ambientais, foi marcado para esta quarta-feira (8) em Los Angeles, em frente à prefeitura. O desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira pode servir para aumentar a pressão.

A 9ª edição da Cúpula das Américas vai ter abertura oficial nesta quarta-feira. Essa foi pensada por Washington para simbolizar a continuação da política de intromissão dos EUA em assuntos da América Latina, após a Presidência de Donald Trump, durante a qual temas da região ficaram em segundo plano — na última cúpula, em 2018, o republicano não foi a Lima (Peru) e se tornou o primeiro líder dos EUA a faltar ao encontro.

Realizado desde 1994, o evento é o maior fórum internacional do continente. Os EUA sediam o evento pela segunda vez. De 34 países, 8 decidiram não mandar os respectivos chefes de Estado e 3 não foram convidados, em sinal do distanciamento com Washington.

Há casos como o do uruguaio Luis Lacalle Pou, que cancelou a viagem por ter contraído covid, mas outros usaram a decisão norte-americana de não chamar os líderes de Cuba, Nicarágua e Venezuela, regimes considerados inimigos pelos EUA, em razão da orientação ideológica desses, como forma de marcar posição.

É o que fizeram o boliviano Luis Arce e o mexicano Andrés Manuel Lopez Obrador. Este deve ser a ausência mais sentida, tanto pelo peso econômico do país na América Latina quanto pela relevância na questão da migração, um dos temas que os anfitriões querem debater no encontro.