O resultado da política Salles-Bolsonaro de 'passar a boiada" na Floresta Amazônica

Uma semana antes da Cúpula sobre o Clima, patrocinada pelos EUA, e para a qual estão convidados 40 países, na quinta-feira (22), mais de uma dezena de senadores democratas enviaram uma carta ao presidente Joe Biden, alertando sobre o desmatamento recorde na Amazônia cometido sob auspícios do governo Bolsonaro, e instando-o a condicionar qualquer acordo ao cumprimento a sério dos “compromissos climáticos do Brasil”.

“A retórica e as políticas do presidente Bolsonaro efetivamente deram luz verde aos perigosos criminosos que operam na Amazônia, permitindo-lhes expandir dramaticamente suas atividades”, escreveram os 15 senadores na carta obtida pela Associated Press.

Para esses senadores, é imperioso “um progresso significativo e sustentado do governo brasileiro em duas áreas críticas: redução do desmatamento e fim da impunidade por crimes ambientais e atos de intimidação e violência contra os defensores da floresta”.

Em suma, os senadores desaconselham a indulgência com a “política de passar a boiada”, como resumiu sem o menor escrúpulo o ministro do Meio-ambiente, Ricardo Salles, em uma reunião ampliada no palácio, a diretriz de desmantelar a fiscalização e deixar desmatar a rodo, sucatear o INPE e a pesquisa sobre a Amazônia, liberar geral incêndios, garimpo e extermínio de indígenas, envenenar e empobrecer o solo e transformar tudo em pasto, ao som de uma motoserra.

Os signatários da carta incluem os ex-pré-candidatos Bernie Sanders e Elizabeth Warren e, ainda, Bob Fernandez, presidente do Comitê de Relações Exteriores, e Patrick Leahy, presidente do Comitê de Apropriações.

Os senadores manifestaram sua anuência ao apoio multilateral pela conservação da Floresta Amazônica, mas expressaram seu descrédito de que o governo Bolsonaro haja mudado em relação à questão, como tenta impingir recente carta do presidente brasileiro enviada a Washington, em que a redução do desmatamento é apontada como possível, desde que haja um aporte externo de US$ 1 bilhão.

Na verdade, Bolsonaro não se compromete propriamente a nada, já que a meta de zerar até 2030 o desmatamento ilegal na Amazônia já havia sido feita pelo governo brasileiro ao endossar o Acordo de Paris em 2015.

A política criminosa do governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente também já foi repelida por outros governos, como o da Noruega, que contribuíam para o Fundo Amazônico e deixaram de fazê-lo, em decorrência dos crimes ambientais estimulados desde Brasília.

Segundo o ministro do meio ambiente da Noruega, Sveinung Rotevatn, a condição para a retomada das doações para o Fundo continua sendo a mesma: resultados substanciais e concretos no combate ao desmatamento. “Diminuir o desmatamento no curto prazo é uma questão de vontade política, não de falta de financiamento adiantado”, ele enfatizou à BBC Brasil.

Com a cúpula desta quinta e sexta-feira, no formato virtual, devido à pandemia, Biden busca destacar o retorno dos EUA ao Acordo do Clima de Paris de 2015, repudiado por seu antecessor Trump, tido por Bolsonaro como modelo de pessoa e de estadista.

O desmatamento na porção brasileira da floresta amazônica disparou sob Bolsonaro, atingindo um pico em 12 anos em 2020, com uma área equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo, e 30% maior do que em 2019 – a maior devastação dos últimos dez anos.