Lejuana Walker (centro) fala em coletiva de imprensa com a família de Jayland Walker

O motorista negro Jayland Walker, morador da cidade norte-americana de Akron, Ohio, foi assassinado a tiros por policiais em uma perseguição por cometer uma infração de trânsito, informou o advogado da família da vítima, citado pelo The New York Times,

O advogado Bobby DiCello viu as imagens do vídeo da câmera corporal de um policial que mostra agentes da cidade disparando mais de 90 tiros nas costas de Jayland, de 25 anos, quando ele estava saindo de seu carro e fugindo a pé de um estacionamento, na segunda-feira (27), e denunciou que mais de 60 das balas o atingiram.

“Em meus 22 anos de trabalho em julgamentos, tanto como ex-promotor do condado de Cuyahoga quanto como advogado de direitos civis em muitos casos graves de uso letal da força, nunca na minha vida vi algo assim. É muito, muito perturbador”, disse DiCello ao Jornal Akron Beacon.

“Parece quase uma prática de tiro ao alvo, uma execução”, reforçou Stacey Jenkins, pastor da igreja da comunidade, de acordo com o jornal mencionado.

Na tentativa de justificar o crime, as autoridades disseram que Walker disparou uma arma enquanto dirigia, mas sem mostrar nenhuma evidência nem especificar como souberam disso. Cobrados pela comunidade, a Unidade de Crimes Graves do Departamento de Polícia de Akron e o Departamento de Investigação Criminal de Ohio iniciaram uma investigação.

Na tarde de sábado (2), uma multidão de manifestantes com cartazes e megafones se reuniu do lado de fora do tribunal da cidade depois das 15h. Alguns gritavam: “Sem justiça, sem paz, processe a polícia”. Os manifestantes estão se reunindo durante quatro dias consecutivos nesta semana, exigindo a responsabilização da polícia.

O prefeito da cidade, Dan Horrigan, anunciou o cancelamento das comemorações previstas entre 1 e 4 de julho para comemorar o dia da independência dos EUA. “Acredito firmemente que este não é o momento para uma comemoração organizada pela cidade”, disse Horrigan, que descreveu os fatos como “um dia sombrio”.

Bobby DiCello pediu aos membros da comunidade que atendessem aos pedidos da família de Walker para manter pacíficos os protestos em andamento.

“Estamos todos nos preparando para a resposta da comunidade e a única mensagem que temos é que a família não precisa de mais violência”, disse ele. “… Precisa de paz, e quer paz, e quer que o processo se desenrole.”

A agressão ao motorista negro é mais uma evidência de que nada mudou depois da ‘reforma policial’ cosmética feita há dois anos por ordem executiva do presidente Biden, depois que o mundo ficou chocado ao ver o assassinato, por asfixia, no meio da rua, do negro George Floyd, desarmado e algemado, com o pescoço sob o joelho de um policial branco racista em Minneapolis. Flagrada por um celular, a agonia ao vivo de 9 minutos de Floyd levou milhões de norte-americanos às ruas exigindo “sem justiça, sem paz” e clamando que “vidas negras importam”.

Essa ordem executiva só tem efeito sobre os 100 mil policiais federais, não atua sobre as polícias estaduais e municipais, cujo contingente é sete vezes maior, e são quem em geral se envolve nas ações policiais que viram tristes manchetes no país inteiro.