Protesto contra o ataque com fuzil que deixou 10 mortos num supermercado em Boulder, Colorado

O senador democrata Richard Blumenthal classificou a bancada republicana de cúmplice de assassinato em massa, após duas chacinas em uma semana por atiradores ensandecidos, com 18 mortos ao todo, trazerem à tona a chaga da violência armada no país.

Blumenthal disse que os republicanos são “cúmplices” da violência armada nos EUA porque “eles não apoiarão os projetos de controle de armas dos democratas”. “São eles que estão esquivando-se dessa responsabilidade e se tornam cúmplices de todos esses tiroteios”, disse Blumenthal em uma entrevista.

“Não é apenas Boulder”, acrescentou ele, se referindo ao mortífero ataque em um supermercado do Colorado na segunda-feira. “São 100 mortes por dia, sem falar nos traumas emocionais e lesões resultantes, as oito crianças perdidas todos os dias de armas que são armazenadas de forma insegura.”

Novas conclamações foram feitas para endurecer as leis de armas dos EUA após o tiroteio mortal de oito pessoas em três salões de massagem na área de Atlanta, na Geórgia, em 16 de março e a violência que matou 10 pessoas em um supermercado em Boulder, Colorado na segunda-feira.

Blumenthal também teve um confronto verbal com o senador republicano Ted Cruz que, em defesa dos maníacos dos rifles de assalto de alta potência, minimizou as duas chacinas e os 18 cadáveres alegando que “sempre que há um tiroteio, nós tocamos neste teatro ridículo, onde este comitê se reúne e propõe um monte de leis que não fariam nada para impedir esses assassinatos”. “Depois de cada tiroteio em massa”, acrescentou o republicano “os democratas propuseram tirar as armas dos cidadãos cumpridores da lei, porque esse é seu objetivo político.”

Blumenthal retrucou que os republicanos oferecem “pensamentos e orações” após cada tiroteio em massa – forma anódina de tratar as chacinas que se repetem -, “mas então se opõem ao bom senso, às medidas constitucionais para separar as pessoas das armas quando essas pessoas são perigosas”.

23 milhões de armas foram compradas nos EUA em 2020, quando o país foi atingido por duas crises, a pandemia de coronavírus que matou 545 mil, o pior número absoluto do mundo, e um histórico movimento de massa contra a violência policial, deflagrado após o afroamericano George Floyd ser asfixiado sob o joelho de um policial branco.

As cidades americanas também registraram aumentos preocupantes nas mortes por armas de fogo no ano passado. Armas de fogo foram usadas para matar 43.535 pessoas em 2020, incluindo 19.379 homicídios – um aumento de 25% nos homicídios em relação a 2019.

US Gun Violence Archive contou 611 “tiroteios em massa”, definidos como quatro pessoas feridas ou mortas em um incidente, em 2020, contra 417 no ano anterior nos Estados Unidos. Desde 3 de março, além dos massacres de Atlanta e Boulder, houve pelo menos 30 outros tiroteios em massa – nos quais quatro ou mais pessoas foram baleadas – nos Estados Unidos.

Em paralelo, uma corte federal de apelação decidiu por 7-4 na quarta-feira que “não existe o direito irrestrito de portar armas em espaços públicos e que os Estados tem o direito de estabelecer regulamentações de bom senso sobre a questão”, decidindo o caso em favor do estado do Havaí, que exige licença de porte de arma. A decisão do nono circuito federal se aplica também aos Estados da Califórnia, Oregon, Washington, Arizona e Montana. O querelante, George Young, já anunciou que levará o caso à Suprema Corte.

“Não existe o direito de portar armas abertamente em público; nem tal direito está dentro do escopo da Segunda Emenda”, declara a opinião do tribunal, de autoria do juiz Jay Bybee, nomeado por George W. Bush.

“Nossa análise de mais de 700 anos de história jurídica inglesa e americana revela um tema forte: o governo tem o poder de regular as armas em praça pública”, continuou ele. “A história é confusa e, como antecipamos, o registro não é uniforme, mas a evidência esmagadora das constituições e estatutos dos Estados, os casos e os comentários confirmam que nunca assumimos que os indivíduos têm o direito irrestrito de portar armas em espaços públicos.”

Young havia perdido inicialmente, mas em 2018 um painel de três juízes federais decidiu a seu favor, declarando a lei do Havaí “inconstitucional”. O estado então apelou dessa sentença.

A procuradora-geral do Havaí, Clare Connors, acolheu a decisão de quarta-feira, dizendo que o tribunal “sustentou adequadamente a constitucionalidade da antiga lei de nosso estado, que permite que as pessoas portem armas de fogo abertamente em público quando licenciadas”.