Peskov: Washington e subalternos apostam na continuação da guerra

O Ocidente está atualmente apostando na continuação da guerra, Washington não permite que Kiev pense ou fale sobre paz, disse o porta-voz presidencial russo Dmitry Peskov no domingo (3).

“Agora é o momento em que os países ocidentais estão apostando na continuação da guerra. Isso significa que os países ocidentais, sob a liderança de Washington, não permitem que os ucranianos pensem ou falem sobre paz”, disse Peskov em entrevista ao canal de TV Rossiya-1 .

Ele se disse convencido de que, mais cedo ou mais tarde, o bom senso prevalecerá e as negociações sobre a Ucrânia serão retomadas.

“Agora a demanda por iniciativas para pacificar a situação diminuiu. Mas não temos dúvidas de que mais cedo ou mais tarde o bom senso prevalecerá e mais uma vez chegará a vez das negociações”, acrescentou Peskov.

Ele também observou que antes que o processo de negociação seja retomado, a Ucrânia terá que “mais uma vez entender as condições de Moscou”. “Concorde com elas. Sente-se à mesa. E apenas formalize o documento que já foi acordado em muitos aspectos”, concluiu Peskov.

Peskov registrou, ainda, que os líderes europeus “muitas vezes não têm força para serem guiados apenas pelos interesses de seus países, eles precisam seguir o Ocidente coletivo”.

“Os líderes europeus ainda têm seus próprios países com seus próprios interesses. E na verdade podem ter pontos de vista variados. Vemos isso muito bem”, disse o porta-voz, comentando as diferenças entre os países do G20.

Moscou e Kiev iniciaram negociações de paz apenas quatro dias após o início da operação militar russa na Ucrânia no final de fevereiro. As partes realizaram várias rodadas presencialmente na Bielorrússia e por meio de um link de vídeo.

No final de março, as delegações se reuniram novamente em Istambul, quando Kiev admitiu a preservação do status neutro e não-nuclear. Com base nessas negociações, a Rússia apresentou à Ucrânia um esboço de acordo e ficou aguardando uma resposta.

Então, as negociações pararam completamente, com o lado ucraniano insistindo em que só voltaria à mesa quando estivesse em uma “posição mais forte”. Em abril, Putin acusou Kiev de levar o processo a um impasse.

Para Moscou, a enxurrada de armas pesadas e dinheiro dos EUA e subalternos para o regime de Kiev, assim como declarações do presidente Biden e do primeiro-ministro inglês Boris Johnson, empurram à continuação dos confrontos.

Esses atrasos apenas prolongam o conflito e causam baixas desnecessárias e danos às partes envolvidas, a Rússia advertiu. Em junho, o principal negociador da Ucrânia, David Arakhamia, previu que “até agosto” Kiev poderia alcançar essa “posição favorável”, após “operações contra-ofensivas”.

No domingo (3), as tropas russas e as forças antifascistas anunciaram a libertação da última cidade da antiga província de Lugansk em posse das tropas ucranianas e seus neonazis, Lisichanks, o que significa que a metade norte do Donbass está livre da ocupação pelo regime de Kiev. A luta prosseguirá agora em Donetsk, na direção de Slaviansk e Kramatorsk.

A Rússia enviou tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro, após o reconhecimento das repúblicas populares do Donbass, depois de oito anos esperando que Kiev cumprisse os Acordos de Minsk, que determinavam a reintegração na Ucrânia após a consagração, na constituição, da autonomia e direito ao uso da língua russa, acordo intermediado pela Alemanha e a França.

As repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk foram a reação das populações de fala russa da Ucrânia, diante do golpe CIA-nazis de 2014 que derrubou o presidente legítimo, amplamente votado exatamente nas “regiões” do leste e sul, historicamente russas, assim como na Crimeia, que rompeu com Kiev e em referendo aprovou a reunificação com a Rússia, e em Odessa, no sul, onde 42 antifascistas foram queimados vivos dentro da sede local dos sindicatos, após cercados por uma turba neonazista.

Durante os anos em que o cumprimento dos Acordos de Minsk ficou congelado, formações neonazistas como o Batalhão Azov foram treinados pelo Pentágono e, na prática, a Ucrânia foi sendo integrada de forma informal mas efetiva à estrutura de ataque da Otan.

A decisão do governo Biden de manter a quebra, pelo governo Trump, do Tratado de Proibição de Mísseis de Alcance Intermediária, com o significado de que estava rompido o principal acordo que impediu a guerra nuclear no teatro europeu por quatro décadas, fez com que a Rússia, em dezembro, exigisse dos EUA e da OTAN o fim da expansão da aliança até às fronteiras russas e a volta às linhas de 1997, ano de assinatura do acordo Rússia-OTAN.

A não expansão “um centímetro sequer” além da linha Oder-Neisse fora um compromisso feito à URSS para a reunificação da Alemanha. EUA e OTAN recusaram a proposta russa de restauração na Europa do princípio da segurança coletiva e indivisível.

Já o que desencadeou o reconhecimento, e início da operação militar especial, foi a multiplicação, em poucos dias, em fevereiro, dos bombardeios de civis em Donetsk e Lugansk, dando a perceber que o regime de Kiev tinha se decidido por resolver à força a questão e após, na Conferência de Segurança de Munique, o presidente Zelensky ameaçar abertamente em dotar a Ucrânia com armas nucleares.

Recentemente, o antecessor de Zelensky, Poroshenko, revelou que só assinou os acordos de Minsk para ganhar tempo para se rearmar e atacar o Donbass. Por sua vez, na cúpula anual da Otan, recém realizada, o secretário-geral Jens Stoltenberg confessou que a aliança esteve se preparando para a guerra na Ucrânia “desde 2014”.

A Rússia segue exigindo da Ucrânia o respeito às premissas fundamentais do Protocolo de Budapeste, após a dissolução da União Soviética: um país neutro, sem armas ofensivas e bases estrangeiras e sem armas nucleares.