O chanceler Lavrov destacou a obrigação de cada Estado de não fortalecer sua segurança em detrimento da segurança de outros”

“A questão principal é nossa posição clara sobre a inadmissibilidade de uma maior expansão da Otan para o leste e a implantação de armas de ataque que possam ameaçar o território da Federação Russa”, afirmou Lavrov, assinalando que não houve uma resposta escrita positiva dos EUA às propostas russas de garantias vinculativas e restauração na Europa do princípio da segurança coletiva e indivisível.

Apenas em relação a “assuntos secundários” há ali uma reação que permita contar com o início de uma conversa séria, acrescentou o chefe da diplomacia russa.

Segundo Lavrov, após a coordenação com outros ministérios envolvidos o Ministério das Relações Exteriores fará um relatório ao presidente Vladimir Putin, que decidirá sobre “os próximos passos”. O Kremlin informou que o presidente Putin já está a par das respostas dos EUA e da Otan.

Para Lavrov o conteúdo da resposta de Washington se tornará conhecido do público em geral em um futuro muito próximo. “Como nossos colegas americanos nos disseram (embora prefiram manter o documento para um diálogo diplomático confidencial), foi acordado com todos os aliados dos EUA e o lado ucraniano. Não há dúvida de que em um futuro muito próximo ‘vazará’”, enfatizou.

Lavrov lembrou que as propostas russas têm como ponto de partida compromissos assumidos pelos EUA e outros estados membros da Otan, as declarações de Istambul e de Astana sobre segurança europeia, da década de 1990.

“Se nos explicaram a década de 1990 pela ausência de compromissos escritos sobre a não expansão da Otan, agora temos esses compromissos escritos. Eles foram confirmados na Organização pela Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) mais de uma vez, inclusive no mais alto nível”.

Como observou Lavrov, as declarações de Istambul e Astana foram assinadas pelos líderes de todos os países membros da OSCE, incluindo o presidente dos EUA. “Os documentos articulam claramente o princípio da indivisibilidade da segurança, que todos os signatários se comprometem a observar sagradamente”.

“Tem duas abordagens principais interrelacionadas. Em primeiro lugar, é reconhecido o direito de cada Estado de escolher livremente alianças militares. Segundo: a obrigação de cada Estado de não fortalecer sua segurança em detrimento da segurança de outros”, destacou Lavrov.

“Em outras palavras, o direito de escolher alianças é claramente condicionado pela necessidade de levar em consideração os interesses de segurança de qualquer outro estado da OSCE, incluindo a Federação Russa”, assinalou.

Ele afirmou que os parceiros ocidentais não mencionam, “ignoram cuidadosamente” as disposições consagradas nas declarações de Istambul e Astana, mas pedem a implementação dos princípios acordados sobre a arquitetura de segurança na região euroatlântica, que falam do direito da OTAN de expandir.

Menu de Blinken

Lavrov disse que pediu ao seu homólogo Anthony Blinken para que explicasse a posição em que o Ocidente “considera os compromissos adotados no âmbito da OSCE, apenas como um ‘menu’, escolhendo apenas o que é “saboroso” para eles”.

“Eu avisei a ele, assim como a nossos outros colegas, que em um futuro muito próximo nós enviaríamos a eles um pedido formal para explicar por que eles estavam retirando apenas uma cláusula de suas próprias obrigações, e eles estavam tentando ignorar as condições de cumprimento desta cláusula favorita para eles. Este será um pedido oficial a todos os países cujos líderes assinaram as declarações de Istambul e Astana”, concluiu Lavrov.

Durante a reunificação alemã, os EUA prometeram ao então presidente da URSS, Mikhail Gorbachov, que a Otan não se expandiria para leste “uma polegada” sequer, e desde então a Otan já fez cinco ondas de anexação de países da Europa Oriental.

Como parte da questão, a Rússia exigiu que “nunca, jamais” a Ucrânia, a Geórgia e outras ex-repúblicas soviéticas sejam anexadas à Otan, e cobrou que os sistemas de armas da Otan e tropas voltem às fronteiras em que estavam quando da assinatura do Ato Rússia-Otan de 1997.

Armas dos EUA às portas da Rússia

A Rússia apresentou suas propostas em 15 de dezembro e as tornou públicas dois dias depois, em que a questão chave, como Putin disse, é que são os EUA que estão colocando seus sistemas de armas na nossa porta, não nós que estamos instalando sistemas de armas nas fronteiras americanas.

Putin disse, ainda, que não se trata de querer colocar aleatoriamente uma ‘linha vermelha’, se trata de que a Otan avançou tanto até às fronteiras russas que agora “não temos para onde recuar”.

Com os novos mísseis hipersônicos em desenvolvimento, Moscou ficaria a cinco minutos de um disparo de arma nuclear desde a Ucrânia. Os EUA destruíram a arquitetura de segurança estratégica europeia durante o governo Trump ao se retirarem dos tratados INF e Open Skies, que evitaram por mais de três décadas a guerra nuclear na Europa, medidas mantidas pelo governo Biden.

Então a Rússia está agindo no seu interesse de segurança e da segurança dos outros países do teatro europeu já que, com um intervalo de decisão de menos de cinco minutos, o fantasma da hecatombe nuclear está de volta ao dia a dia da Europa.

Em busca de um caminho de diálogo, entre os dias 10 e 13 de janeiro, delegações russas conversaram com representantes dos EUA, da Otan e da OSCE.

Ecos de Maidan

Washington vem tentando rebaixar a discussão à questão da “escalada na Ucrânia”, conflito que só existe por causa de o golpe de Estado CIA-neonazis-oligarcas ladrões (a ‘revolução’ de Maidan) em 2014 ter alienado a população de ascendência e fala russa, ao impor leis xenófobas, promover a caça às bruxas a comunistas e a russos em geral, perseguir a oposição e até queimar vivos dezenas de antifascistas no prédio da central sindical em Odessa em 2 de maio de 2014.

O que levou ao plebiscito na Crimeia, que decidiu pela restauração do vínculo de três séculos com a Rússia, a reunificação, e ao levante antifascista no Donbass, a região mais industrializada da Ucrânia.

A Rússia tem repetido que não invadirá a Ucrânia e que apenas uma tentativa de promover uma limpeza étnica no Donbass forçaria Moscou a impedir.

E exige que a Ucrânia cumpra os compromissos que assumiu nos acordos de Minsk, cujos garantidores são Moscou, Paris e Berlim, e negocie diretamente com o Donbass a anistia, a autonomia e o fim da russofobia.

Nos últimos dias, as próprias autoridades de Kiev desmentiram o alarmismo da mídia ocidental e do Departamento de Estado sobre uma “invasão iminente” da Ucrânia pelos russos.

Lavrov também revelou que o conteúdo da resposta dos EUA “provavelmente se tornará conhecido do público em geral em um futuro muito próximo”. No entanto, acrescentou, “como nossos colegas americanos nos disseram, embora prefiram mantê-lo confidencial, foi acordado com todos os aliados dos EUA, bem como com o lado ucraniano. Não há dúvida de que será vazado em um futuro muito próximo.”

Na quarta-feira, o embaixador dos EUA em Moscou, John Sullivan, entregou ao vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, a resposta por escrito de Washington ao esboço do tratado bilateral sobre garantias de segurança apresentado pela Rússia.

Ao mesmo tempo, o embaixador russo em Bruxelas recebeu uma resposta dos representantes da OTAN.

Como observou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, Moscou não se apressará em avaliar os documentos.

“Se necessário, o presidente consultará membros da liderança, membros do Conselho de Segurança, seus assistentes. Não posso dizer uma data exata, mas é claro que ninguém atrasará muito a reação. Mas provavelmente também seria estúpido esperá-la no dia seguinte”, acrescentou, lembrando que os EUA e a Europa levaram mais de um mês para estudar a iniciativa russa.

Na véspera, no parlamento russo, Lavrov se referira às altissonantes declarações do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, sobre o suposto ‘direito’ da aliança bélica de ir aonde quiser, dizendo que “do meu ponto de vista ele perdeu o contato com a realidade” há muito tempo.

Quanto à escalada de ameaças de sanções contra a Rússia, Lavrov observou que “nossos colegas ocidentais estão em histeria militar. Eles continuam falando sobre isso. ‘Nós vamos puni-lo’, ‘vamos salvar a Ucrânia’. Todos conhecemos esses comentários histéricos e estamos prontos para qualquer evolução”.

“Nunca atacamos ninguém e cada vez que fomos atacados, o agressor recebeu a resposta”, destacou o chefe da diplomacia russa, em um aviso aos cabeças quentes.

Para Lavrov, a raiz dos atuais problemas é a recusa dos países do Ocidente histórico em “aceitar a realidade de um mundo multipolar”. Ele acrescentou que os países “que tentam seguir uma política independente, como nosso país e a China, são punidos com todos os tipos de ferramentas: sanções, demonização na mídia, provocação dos serviços secretos e assim por diante”.