Edifício residencial e sede da Associated Press em Gaza ao ruir sob os mísseis de Israel

Um grupo de quase 30 senadores democratas – mais da metade da bancada – emitiu uma declaração conjunta pedindo um “cessar-fogo imediato”, enquanto o saldo de civis palestinos mortos pelos bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza ultrapassava a casa dos 200 e os desabrigados chegavam a 58 mil, em ataques que não pouparam sequer hospitais ou o prédio que abrigava a imprensa internacional.

“Para prevenir qualquer perda de vidas civis e para evitar uma nova escalada do conflito em Israel e nos territórios palestinos, pedimos um cessar-fogo imediato”, diz a declaração, que foi encabeçada pelo senador Jon Ossoff e assinada por 29 membros da bancada democrata do Senado, incluindo Bernie Sanders.

O documento foi divulgado quando o governo Biden, na ONU, pela terceira vez vetava uma declaração a favor de um cessar-fogo, endossada por todos os membros do Conselho de Segurança, menos Washington.

As consequências desse acobertamento dos EUA ao massacre de Israel em Gaza foram sintetizadas à TV Al Jazeera por um dirigente do Ministério da Saúde de Gaza, o doutor Midhat Abbas, após se referir aos 1.200 palestinos feridos, quase a metade, crianças e mulheres.

“Eles têm como alvo principalmente civis, essas são as vítimas dessa agressão”, disse Abbas. “Benjamin Netanyahu quer se salvar da prisão e então decidiu matar crianças palestinas”.

A representação dos EUA na ONU seguiu dando carta branca ao governo Netanyahu para o massacre de civis na superpopulada Gaza, alegando cinicamente que os pedidos de cessar-fogo “atrapalhavam” os esforços de “diplomacia”. O que levou o presidente turco, Recep Erdogan, a acusar Biden de ter as mãos manchadas com o sangue dos civis palestinos.

Apenas na terça-feira, Biden considerou conveniente sinalizar em telefonema a Netanyahu uma “redução” dos massacres “rumo ao cessar-fogo”.

Por sua vez, Netanyahu disse em Tel Aviv que o ataque continuaria “pelo tempo que for preciso, para restaurar o silêncio e a segurança”. Segundo fontes, teria pedido a Biden mais “dois a três dias” de horror para acabar o “serviço”.

Deputada Rashida

Nos Estados Unidos, tem crescido o clamor pelo fim do massacre de civis palestinos pelos bombardeios israelenses, cometidos com armas fornecidas por Washington, com novos protestos em Nova York, Seattle, Chicago e Washington na terça-feira.

Chamou a atenção a atitude da deputada democrata Rashida Tlaib, uma palestina-americana, que se ao se encontrar com Biden durante a visita do presidente a Detroit na terça-feira disse a ele que “os Estados Unidos não podem continuar a dar ao governo Netanyahu bilhões a cada ano para cometer crimes contra os palestinos”.

Ainda de acordo com testemunhas, Tlaib acrescentou que “atrocidades como bombardeio de escolas não podem ser toleradas, muito menos conduzidas com armas fornecidas pelos Estados Unidos”. Não há gravação da conversa, só os relatos que apareceram no New York Times e outros veículos de informação.

A deputada teria pedido, ainda, que a Casa Branca fizesse “muito mais para proteger a vida, a dignidade e os direitos humanos dos palestinos”.

A companheira de bancada Alexandria Ocasio-Cortez tem sido ainda mais direta sobre a questão, repudiando o “apartheid de Israel contra os palestinos”.

Depois do encontro, na pista do aeroporto, Biden, quando discursava em uma fábrica da Ford na região, elogiou Tlaib por sua “paixão e preocupação por tantas outras pessoas” e disse “rezar” para que a avó da deputada e a família da qual descende, que vivem na Cisjordânia, “estejam bem”.

“Vidas palestinas importam?”

No Senado, o senador Bernie Sanders apresentou na quarta-feira uma resolução a favor do cessar-fogo imediato, e se contrapôs a uma proposta republicana que endossava o morticínio cometido por Israel.

A resolução de Sanders, co-patrocinada por mais 10 senadores democratas, após dizer que “toda vida palestina é importante” e “toda vida israelense é importante”, pede “um cessar-fogo imediato” para evitar mortes adicionais e “uma nova escalada do conflito em Israel e nos territórios palestinos”.

A resolução de Sanders acrescenta que o Senado dos EUA apóia os esforços diplomáticos “para resolver o conflito israelense-palestino”, defender o direito internacional e proteger os direitos humanos. Ele observou ainda que líderes no mundo inteiro pediram o cessar-fogo, desde o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, até o papa Francisco.

Contestando a proposta republicana, Sanders destacou que esta só lamentava a perda de vidas israelenses, ignorando os palestinos mortos. A perda de 12 vidas israelenses, disse Sanders, “é de fato uma tragédia – mas e quanto à perda de 227 vidas palestinas, incluindo 64 crianças e 38 mulheres?”.

“O senador Scott não acredita que a perda de vidas palestinas … [é] uma tragédia?”, ele perguntou. “Acredito que devemos lamentar a perda de vidas israelenses, mas também devemos lamentar a perda de vidas palestinas – ou talvez algumas pessoas pensem que as vidas palestinas não importam. Espero que não”, concluiu.