Blinken, secretário de Estado dos EUA, no encontro com Lavrov, chanceler da Rússia, em Genebra

Já são centenas os ‘conselheiros militares’ norte-americanos, canadenses e ingleses na Ucrânia, os ingleses estão ‘assessorando’ a instalação de bases no Mar de Azov e entregando toneladas de armamentos diariamente, e o mais recente orçamento aprovado do Pentágono inclui US$ 300 milhões de ‘ajuda’, além dos US$ 200 milhões em armamentos já em fase de fornecimento, segundo informa o ministro do Exterior da Rússia, Sergei Lavrov.

Mais ainda: a CIA está adestrando neonazis ucranianos – há uma penca deles – para uma “suposta resistência” e os treinando em atentados e atrocidades, o que aumenta o risco para os civis.

Dirigindo-se ao secretário de Estado norte-amerciano, Antonu Blinken, Lavrov enfatizou que “a Rússia não tem a intenção de atacar a Ucrânia”. A declaração foi formulada durante reunião entre os dois em Genebra nesta sexta-feira (21).

“Vocês afirmam que nós temos a intenção de atacar a Ucrânia, por mais que já tenhamos explicado que isso não é verdade”, destacou Lavrov.

O chanceler russo anunciou que Washington assumiu o compromisso de apresentar até 30 de janeiro uma resposta por escrito às propostas russas para restauração da segurança “coletiva e indivisível” na Europa. As duas partes consideraram as discussões úteis e abertas.

“Nossos parceiros dos EUA tentaram novamente hoje trazer a Ucrânia para a vanguarda deste processo de negociação”, disse Lavrov. Na opinião dele, a questão da Ucrânia requer “atenção cuidadosa”, mas todo o problema da arquitetura de segurança europeia não deve ser reduzido a ela.

Lavrov disse, ainda, ter exortado Blinken “a influenciar o regime de Kiev para forçá-lo a cair em si e parar de sabotar os acordos de Minsk” – pelos quais o governo ucraniano deveria prover garantias constitucionais e autonomia ao Donbass, sob negociações diretas inter-ucranianas, seguido de eleições.

“É hora de parar de tolerar o que o regime de Kiev está fazendo, e forçá-lo a cumprir o que não foi apenas prometido, mas foi aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU”, reiterou.

Anteriormente, o chefe da diplomacia russa já tinha dito que os EUA e seus aliados estavam “entupindo de armas a Ucrânia”, o que o atual governo de Kiev “vê como carta branca para continuar sua operação militar no Donbass e seus bombardeios à população civil no leste do país”.

A histeria no Ocidente sobre a situação na Ucrânia também é, para Lavrov, uma forma de encobrimento da sabotagem aos acordos de de Minsk.

Quanto à segurança coletiva na Europa, segundo Lavrov ainda não é possível dizer se as negociações chegarão a bom termo, o que só se saberá após os EUA apresentarem por escrito suas respostas sobre todos os pontos das proposições russas – a principal delas, a de que seja encerrada a expansão ainda mais a leste da aliança bélica EUA/Otan, e que jamais inclua a Ucrânia e a Geórgia, repúblicas vizinhas ex-soviéticas, assim como sejam retirados todas as tropas e sistemas de armas ofensivos que não existiam a leste do Oder em 1997, ano da assinatura da declaração de relações Otan-Rússia.

O que a Rússia quer são “garantias legais e juridicamente vinculantes” sobre a segurança na Europa. Afinal, como já apontou o presidente Vladimir Putin, não são os russos que estão colocando suas armas na fronteira dos EUA, mas os americanos que estão prontos a posicionarem sistemas de ataque hipersônicos a 4-5 minutos de voo a Moscou. “Não temos como recuar”.

O chefe da diplomacia russo defendeu que, como fez a Rússia, a resposta de Washington deve ser tornada pública, para permitir uma compreensão transparente aos olhos do mundo.

“Acho que seria certo tornar esta resposta pública e pedirei a Antony Blinken que não se oponha”, disse Lavrov. Após receber a resposta, estão previstos novos contatos a nível de chanceleres.

De sua parte, Blinken havia alertado antes da discussão que as chances de progresso significativo eram pequenas. “Eu não estou esperando um avanço”, disse ele.

Após a reunião, o diplomata norte-americano disse que as conversações não eram propriamente uma negociação, mas “uma troca aberta de ideias e preocupações”.

Segundo o secretário de Estado, Washington nunca concordará com a proposta de Moscou de dar fim à expansão da OTAN até às fronteiras da Rússia, e de exclusão do ingresso da Ucrânia.

Aos jornalistas, Blinken voltou a colocar de ponta-cabeça a discussão, prometendo que os EUA reagiriam a uma suposta “reinvasão russa” da Ucrânia com uma resposta “rápida, severa e unida”. Em seu discurso de um ano desde a posse na Casa Branca, Biden havia ameaçado com “sanções que ele [Putin] jamais viu”.

Tais reiteradas ameaças dos EUA à Rússia levaram o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a advertir na véspera que elas podem instilar falsa esperanças em certos círculos de Kiev, empurrando-os para reacender a guerra civil no país.

“Todas essas declarações podem causar uma desestabilização, porque alguns cabeças quentes da liderança ucraniana podem desenvolver a ilusão de que podem tentar reiniciar a guerra civil em seu país ou tentar lidar com o problema do Sudeste usando a força”, disse o porta-voz do Kremlin.

A Rússia também tem denunciado que existe a ameaça concreta, de parte desses círculos ucranianos, de tentarem repetir a chamada Operação Tempestade, em que 200 mil sérvios foram expulsos de sua terra ancestral na Krajina em uma operação que a Otan coordenou com o exército croata, uma operação de limpeza étnica durante o esquartejamento da Iugoslávia. Em grande medida, a necessidade de dissuasão desse tipo de atrocidade é que explica que a Rússia se veja obrigada a manter, bem visível, sua tropa nas imediações.

Como revelou Lavrov, recentemente Kiev se dirigiu ao governo croata solicitando informações sobre a Operação Tempestade.