Nos EUA moradores protestam contra o fim da moratória dos despejos e por moradia digna.

Mais de sete milhões de estadunidenses que estão há meses sem poder pagar o aluguel por conta da crise correm o risco de ser despejadas a partir do sábado (31), quando expirou a moratória federal que desde setembro do ano passado as protegia. Se naquela oportunidade os Centros para o Controle e a Prevenção de Enfermidades (CDC) já ordenava a suspensão dos despejos, imagine-se agora, em meio ao avanço da variante Delta do coronavírus.

Os congressistas da Câmara não chegaram a um acordo na sexta-feira (30) e se negaram a dar um tempo adicional aos inquilinos em dificuldades. Não levaram em conta nem mesmo o novo surto de casos da pandemia de Covid-19, que ceifou mais de 613 mil vidas e contaminou 35 milhões no país que perdeu mais de 20 milhões de empregos.

A situação é extremamente crítica, uma vez que os legisladores da Câmara dos Deputados entraram em férias no sábado até o final de agosto, e serão seguidos pelos senadores daqui a uma semana, descartando qualquer perspectiva de um acordo rápido. “Isto é um problema de saúde pública”, reconheceu o porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

O fato é que a crise humanitária está instalada e a Casa Branca não bancou renovar a moratória dos despejos e pediu aos governos estaduais para resolver o problema. A bancada democrata, partido de Biden, tampouco se mobilizou para manter a moratória.

“Infelizmente, nem um só republicano apoia esta medida. É muito decepcionante que os republicanos na Câmara e no Senado tenham se negado a trabalhar conosco este tema”, lamentou a presidenta democrata da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, sem falar dos problemas na própria trincheira.

O fato é que ativistas e legisladores projetam para os próximos meses uma onda de despejos sem precedentes, que deve afetar particularmente Ohio, Texas e parcelas do sudeste dos EUA, onde os custos da moradia são elevados e os problemas econômicos foram agravados pela pandemia. A cidade de Nova Iorque também preocupa, já que é lenta para desembolsar fundos de assistência de aluguel e abriga centenas de milhares de inquilinos inadimplentes.

Conforme estudos dos parlamentares, a rede de segurança social para inquilinos foi seriamente comprometida e os governos regionais e municipais pagaram uma ínfima parcela dos recursos em assistência ao aluguel autorizados pelo Congresso no ano passado. Mais precisamente, dos US$ 46,5 bilhões previstos, incluídos os US$ 25 bilhões desembolsados no começo de fevereiro, somente US$ 3 bilhões chegaram ao seu destino. “Todos os governos estaduais e locais devem retirar esses fundos para garantir que evitemos todos os despejos que pudermos”, disse Biden em um comunicado na sexta-feira.

A proibição de despejo, introduzida pela primeira vez pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em setembro como medida de segurança após a pandemia Covid-19, expirou depois que os proprietários avisaram que estavam custando bilhões de dólares todos os meses. Grupos de lobby, incluindo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, se opuseram à extensão da moratória e pressionaram os legisladores.

Aproximadamente 7,4 milhões de inquilinos americanos relataram que estavam atrasando seu aluguel, de acordo com a última pesquisa realizada pelo US Census Bureau na última semana de junho e na primeira semana de julho. Cerca de 3,6 milhões de inquilinos disseram que enfrentariam despejo nos próximos dois meses. A situação, dizem os especialistas, varia de estado para estado. Em seis estados e 31 cidades monitorados pelo Laboratório de Despejo da Universidade de Princeton, os proprietários registraram mais de 451.000 solicitações de despejo desde 15 de março de 2020. Os proprietários registram cerca de 3,7 milhões de casos de despejo por ano.

No Texas, 31% dos 4,7 milhões de locatários adultos disseram ter “pouca” ou nenhuma confiança em sua capacidade de pagar o aluguel do próximo mês. Outros analistas acreditam que há muito mais inquilinos em risco. O Center for Budget and Policy Priorities estima que 11,4 milhões de pessoas, 16% da população adulta americana que vive em casas e apartamentos alugados, não pagam aluguel.