Para manter a guerra, Estados Unidos jogam cada vez mais armas na Ucrânia

O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao Congresso mais US$ 33 bilhões para o que o chanceler russo Sergei Lavrov chamou de “guerra por procuração da OTAN contra a Rússia” na Ucrânia.

Praticamente secaram, segundo a Casa Branca, os US$ 3,5 bilhões já alocados para sustentar o regime de Kiev – frente à operação militar especial russa para proteger o Donbass da limpeza étnica, que já dura oito anos. Como especificou a Rússia, a operação também busca ‘desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia”.

O pedido de financiamento adicional da Casa Branca veio no dia em que o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, disse que a aliança estava se preparando para apoiar Kiev “por meses e anos”.

Na segunda-feira, o chefe da diplomacia russa, diante do volume do envio de armamento pesado letal à Ucrânia pelos países ocidentais, havia advertido que “a Otan, em essência, está engajada em uma guerra por procuração com a Rússia e está armando esse representante. Guerra significa guerra”.

Moscou tem admoestado insistentemente Washington e seus acólitos contra entupirem de armas a Ucrânia, o que só levaria ao estancamento das negociações de paz e prolongamento das ações militares. O Kremlin também deixou claro que qualquer entrega de equipamento militar será considerado um alvo legítimo assim que cruzar para a Ucrânia – o que já vem ocorrendo.

Após ida a Kiev do chefe do Pentágono, general Lloyd Austin, na semana passada, a OTAN realizou uma reunião na base aérea de Ramstein na Alemanha para acelerar a entrega de armas pesadas ao regime de Kiev, intensificando sua cínica concepção de “lutar até o último ucraniano” e de “enfraquecer a Rússia”.

Por sua vez o Congresso dos EUA aprovou uma lei bipartidária para estabelecer um esquema ‘land-lease’, um tipo de empréstimo para fornecimento de armas à Ucrânia. Note-se que o projeto foi apresentado em janeiro, antes do início da ação russa na Ucrânia.

“LENHA NA FOGUEIRA”, DIZ CHINA

A China repudiou a remessa de armas a granel a Kiev. “Enquanto a comunidade internacional pede o fim das hostilidades, os EUA continuam a colocar lenha na fogueira e mostram sua disposição de lutar até o último ucraniano”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, na sexta-feira (29).

O objetivo real não é criar a paz, mas garantir que o conflito “se prolongue”, disse Zhao. “Como eles mesmos dizem, eles querem enfraquecer a Rússia. Quanto à questão de se os EUA vão trazer paz ou guerra, segurança ou caos – suponho que todos nós sabemos as respostas para essas perguntas.”

Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin, em reunião com o Conselho de Legisladores, advertiu a quem quer que pretenda “intervir de fora e criar uma ameaça estratégica à Rússia que é inaceitável para nós”, que deve saber que “nossos ataques de retaliação serão rápidos como um raio”.

“Temos as ferramentas de que precisamos para isso, do tipo que ninguém mais pode reivindicar neste momento. Não vamos apenas nos gabar; vamos usá-los se necessário. E eu quero que todos saibam disso; tomamos todas as decisões sobre este assunto”, enfatizou.

Putin também se referiu à intervenção dos EUA e seus cúmplices na Ucrânia, desde o golpe de estado de 2014, em que “apostaram na russofobia e nos neonazistas e foram descaradamente, sem cerimônia, transformando nossa vizinha Ucrânia em uma ‘anti-Rússia’ ano após ano”.

A Rússia – acrescentou Putin – “teve uma atitude benevolente, diria eu, amistosa, camarada e fraterna em relação à criação de um Estado ucraniano independente, pensamos, naturalmente, que seria um Estado amigo, que poderíamos ir cada vez mais juntos, fortalecendo-se e desenvolvendo-se mutuamente e criando as condições mais competitivas para o progresso – sim, em condições novas e históricas”.

“Ninguém poderia imaginar a criação de um “anti-Rússia” em território russo histórico. Nós simplesmente não podemos permitir que isso aconteça, e então tudo se resume a um conflito, um conflito direto. A Ucrânia foi empurrada para um confronto direto com a Rússia, nosso país”, assinalou.

“Permitam-me lembrá-los que, infelizmente, tudo isso está estabelecido, incluindo um ataque armado à Crimeia e Donbass, nos documentos doutrinários da Ucrânia de hoje, enquanto, ao mesmo tempo, ao povo ucraniano foi atribuído o destino de ‘material descartável’. Acredito que uma grande parte do povo ucraniano está começando a perceber isso”.

“Todo o curso dos acontecimentos recentes, incluindo as alegações do regime de Kiev por armas nucleares, a implantação de uma rede de biolaboratórios ocidentais em território ucraniano, o fornecimento contínuo de armas de ponta para a Ucrânia, confirmou que nossa reação a esses planos cínicos foi correta e oportuna”.

Em 2008, o governo de W. Bush definiu a meta da anexação da Ucrânia na OTAN – o que foi cinicamente chamado de ‘convite’-, e passou a ser posta em prática com o golpe CIA-nazis de 2014 que derrubou o presidente legítimo, instalou nas entranhas do novo regime os neonazistas e transformou um colaborador da ocupação hitlerista, Stepan Bandera, em ‘patrono nacional’.

No golpe, teve notória presença a atual conselheira de Biden, então subsecretária de Estado, Victoria Nuland. Foi também o golpe que proibiu o partido comunista e cassou seus deputados, decretou a ‘descomunização’ do país, perseguiu e espancou oposicionistas e iniciou o banimento do idioma russo, em busca de uma Ucrânia ‘racialmente pura’.

O que levou ao rechaço pela população da Crimeia e do Donbass – que, aliás, majoritariamente haviam votado no presidente derrubado. Em maio de 2014, 42 antifascistas foram queimados vivos em um assalto de neonazis à sede da central sindical em Odessa.

Os levantes antifascistas levaram, na Crimeia, ao referendo pela volta à pátria histórica, a Rússia. No Donbass, à criação das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

Ao invés de negociar, por duas vezes o regime de Kiev tentou, pela força militar, esmagar os antifascistas mas foi derrotado. Forçado a assinar os Acordos de Minsk, co-garantidos por Paris e Berlim, para reintegração pacífica do Donbass na Ucrânia, sob garantia, inscrita na constituição, de autonomia e direito à língua russa, o regime de Kiev por oito anos se recusou a cumprir com o que assinara. Em janeiro formalizou que não iria cumprir os Acordos de Minsk.

Foi assim, na iminência de nova tentativa de limpeza étnica contra os russófonos do Donbass, que a Rússia reconheceu a independência das duas repúblicas antifascistas gêmeas e, fazendo uso do artigo 51 – direito de defesa – da Carta da ONU, iniciou sua operação militar especial, que visa também ‘desnazificar e desmilitarizar’ a Ucrânia, bem como garantir que continue, como estabelecido nos Memorandos de Budapeste, na condição de país neutro, sem bases estrangeiras e sem armas nucleares.