EUA: Cuba denuncia conferência com repassadores de fake news na llha
O governo de Havana, que denunciara na semana passada que o presidente norte-americano, Joe Biden, não havia movido “um milímetro” a política de Trump contra Cuba nem revertido o recrudescimento de sanções aplicado por ele, condenou a ingerência do Departamento de Estado nos assuntos internos do país, chegando ao ponto de realizar uma videoconferência com opositores, desde Washington, no dia 25.
A videoconferência foi capitaneada pela chefe do “Programa Cuba” do National Endowerment for Democracy (NED), Karla Velásquez, e montada com a ajuda da ‘ativista’ Tania Bruguera, que repassou os links de convite.
A NED funciona como uma fachada para repassar dinheiro do governo norte-americano a adeptos do neoliberalismo e da ‘democracia made in USA’, e seu mais estrondoso sucesso recente foi a cooptação dos neonazis ucranianos para o golpe de Maidan em 2014.
Na famosa frase de Allen Weinstein, que fundou a NED em 1983, proferida em 1991: “Muito do que fazemos hoje era feito secretamente há 25 anos pela CIA.”
De acordo com informações obtidas judicialmente por cidadãos norte-americanos progressistas sobre a ingerência do governo norte-americano nos assuntos internos de Cuba, só através da USAID Washington pagou US$ 261 milhões desde 1990 a grupos e ‘ongs’ por repercutirem internamente suas diatribes contra o socialismo, cometerem provocações e espalharem fake news.
A tevê estatal cubana apresentou mais pontas dessa ingerência e reproduziu um diálogo entre Bruguera e Gabriel Constancio Salvia, o chefão de outra fachada pró-americana e anticubana, que opera desde a Argentina, o Centro para a Abertura e o Desenvolvimento da América Latina (Cadal). Fachada que o jornal argentino Página12 chamou de “base de operações anticastrista, que recebe financiamento de entidades vinculadas à CIA”.
Bruguera se mostrava amuada que outro encenador do assim chamado ‘Movimento San Isidro’ estivesse obtendo mais atenção de parte dos patronos de Washington do que ela mesmo. Quando a cúpula da CELAC (a organização de unidade das nações latino-americanas e do Caribe) foi realizada em Havana em 2014, Salvia esteve no centro das articulações para difamar Cuba e causar mal estar no evento.
Movido a dólar
Por sua vez o principal jornal cubano, Granma, enumerou alguns dos mafuás contemplados em 2020 com dinheiro de Washington para sua ação deletéria. Como o ‘Centro Latino-Americano de Não Violência’, com sede nos EUA, que recebeu quase US$ 49.000 para divulgar as ações de uma suposta ‘Coalizão de Trabalhadores Autônomos de Cuba’.
A ‘Factual Research and Innovation AC’, sediada no México, foi contemplada com US$ 74.000, para selecionar, treinar, aconselhar e treinar “jornalistas cubanos independentes”. A ‘Cubalex’ recebeu US$ 150.000 por documentar e denunciar falsas violações dos direitos humanos em Cuba. US$ 110.000 foram para a ‘Urban Cartel Foundation’ para “capacitar” artistas cubanos e “aumentar a conscientização sobre o papel dos representantes do hip-hop no fortalecimento da democracia na região”. Claro que há muito mais dinheiro para “social influencers” e operativos de redes digitais.
A chefe do ‘Programa Cuba’ do NED, Karla Velazques, foi considerada amplamente como a “madrinha” do MSI (Movimento San Isidro). No auge do embate com os integrantes da rede de influencers no final do ano passado, o Ministério da Cultura de Cuba divulgou comunicado afirmando que não iria se reunir “com pessoas que tenham contato direto e recebam financiamento, apoio logístico e respaldo propagandístico do governo dos Estados Unidos e de seus funcionários”.
“Não somos um governo na clandestinidade. Somos uma revolução no poder, que tem, entre suas forças mais formidáveis, a cultura, uma cultura soberana, independente e anti-imperialista desde a raiz. Com mercenários, não nos entendemos”, sublinha o comunicado. “Permanecem abertas as oportunidades de diálogo” com todos aqueles “que não comprometeram seu trabalho com os inimigos da nação cubana”, acrescentou. Naquele momento, Trump ainda era o presidente dos EUA.
Biden
Quanto às promessas de campanha de Biden de reverter as 250 sanções impostas por Trump, até agora isso não aconteceu. “Não há um milímetro de movimento quanto à persistência dessa política de agressão”, disse o ministro da economia, Alejandro Gil Fernández, em coletiva de imprensa.
“Joe Biden mantém intactas as medidas da administração Trump com relação a #Cuba”, informou no Twitter o ministério de Relações Exteriores, criticando-o por não escutar “os pedidos da comunidade internacional e de seus próprios cidadãos”.
Biden era vice de Obama quando EUA e Cuba reataram relações em 2015 e o primeiro presidente norte-americano negro chegou a fazer uma visita à maior das Antilhas. Há quase 30 anos a Assembleia Geral da ONU aprova por esmagadora maioria resolução pelo fim do bloqueio dos EUA a Cuba.