EUA: congresso aprova pacote de infraestrutura de Biden após impasses
O Congresso dos EUA aprovou, na sexta (5), o pacote de US$ 1,2 trilhão (R$ 6,65 trilhões) para infraestrutura proposto pelo governo de Joe Biden, após meses de impasses e discussões dentro do Partido Democrata. Um dos maiores planos de investimentos públicos no país em décadas, a iniciativa vai destinar recursos para modernizar estradas, pontes, transportes, aeroportos, ferrovias e redes de abastecimento de água, energia e internet.
Foram 228 votos a favor e 206 contra, sendo que 13 republicanos votaram a favor da medida e 6 democratas, contra.
Um dos fatores – se não o principal – que motivaram Biden a aumentar a pressão em prol dos projetos de investimento foi o resultado pífio nas eleições estaduais da terça (2). Fruto da incapacidade dos democratas de cumprir suas promessas assumidas em nível nacional, o partido perdeu o comando do estado da Virgínia para os republicanos e conseguiu uma vitória apertada em Nova Jersey, onde o governador Phill Murphy se reelegeu com vantagem de pouco mais de 60 mil votos.
O plano havia passado no Senado em agosto com apoio de alguns republicanos, mas ficou três meses sem avançar na Câmara por polêmicas entre os próprios democratas que têm maioria na Casa, mas levaram semanas para obter um acordo entre as alas progressista e moderada.
É “o projeto de lei mais importante para os trabalhadores, os idosos, os doentes e os pobres desde FDR (o presidente Franklin Delano Roosevelt) e o New Deal dos anos 30”, disse o senador independente Bernie Sanders, presidente da Comissão de Orçamentos, registrando que o setor mais progressista do partido que defendia que o pacote de infraestrutura só fosse aprovado caso se votasse também o plano de investimentos sociais, batizado de BBB (Build Back Better, reconstruir melhor), tinha anotado um ponto.
Esse pacote de investimentos sociais e ambientais estimado em US$ 1,75 trilhão (R$ 9,7 trilhões), ainda está em análise. Biden disse que ele poderá ser aprovado ainda em novembro.
O plano de infraestrutura prevê US$ 110 bilhões em novos investimentos em estradas, pontes e outras obras, inclui US$ 50 bilhões para renovar e ampliar as redes de água, combate e prevenção de secas e enchentes, US$ 7,5 bilhões para ampliar a rede de recarga de veículos elétricos e mais US$ 5 bilhões para a compra de ônibus escolares elétricos e híbridos, e propõe investimentos de US$ 66 bilhões no setor ferroviário e de US$ 39 bilhões no transporte público, na expectativa de que isso ajude a reduzir o uso de veículos a combustão, que são mais poluentes.
O pacote também pretende renovar e ampliar as redes de energia e internet rápida, para evitar falhas no fornecimento.
Para custear os novos gastos, o governo propôs adotar um imposto mínimo de 15% sobre lucros de grandes corporações, uma taxa de 1% sobre a recompra de ações feitas pela própria empresa que as emitiu e penalidades para multinacionais americanas que moveram suas sedes para paraísos fiscais.
O plano também prevê aumentar em cinco pontos percentuais o imposto sobre rendimentos pessoais acima de US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) por ano, e em mais três pontos percentuais para quem ganha acima de US$ 25 milhões (R$ 140 milhões).
Com isso, a expectativa é arrecadar US$ 640 bilhões a mais dos indivíduos muito ricos, e US$ 814 bilhões das corporações, entre 2022 e 2031, segundo estimativa da Comissão de Impostos do Congresso.
Se aprovados por completo, os pacotes poderão impulsionar os candidatos democratas nas eleições de meio de mandato, marcadas para novembro de 2022.
China
Sem conseguir esconder seu desconforto quanto ao crescimento da China, o líder democrata comentou que esse plano é “um investimento único em uma geração que criará milhões de empregos com a modernização da infraestrutura […] para transformar a crise climática em uma oportunidade”. “E isso nos coloca no caminho para vencer a competição econômica do século 21 que enfrentamos com a China e outros grandes países e o resto do mundo”, disse.
Recentemente, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, garantiu que seu país busca a cooperação e não a competição com os EUA. “Como dois países importantes, China e EUA têm amplos interesses comuns e assumem responsabilidades especiais e de peso na salvaguarda da paz e da estabilidade mundiais”, disse o porta-voz, acrescentando que “ambos os países podem ganhar com a cooperação e perder com o confronto”. “A cooperação é a única opção certa para ambos”, sublinhou.
O presidente chinês, Xi Jinping, expressando essa posição, enfatizou em 21 de setembro, perante a Assembleia Geral da ONU, a importância no mundo de hoje de “escolher a cooperação ao invés do confronto, a abertura ao invés do isolamento e o benefício mútuo ao invés dos jogos de soma zero nos quais ninguém ganha”.