Intervenção dos EUA "foi catastrófica e prejudicial”, assinala o relatório “Criando Refugiados” |  Foto: Emilio Morenatti - AP

A “guerra ao terror” dos EUA deslocou 37 milhões de pessoas de seus lares em apenas oito países no Oriente Médio, África e Ásia desde 2001 – isto é, transformou-os em refugiados -, de acordo com um novo relatório publicado terça-feira (8) pelo Projeto Custos da Guerra, da Brown University.

Intitulado “Criando Refugiados: Deslocamento Causado pelas Guerras Pós-11 de Setembro dos Estados Unidos”, o novo relatório estima conservadoramente que pelo menos 37 milhões de pessoas “fugiram de suas casas nas oito guerras mais violentas que os militares dos EUA lançaram ou participaram desde 2001 (Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen, Somália, Filipinas, Líbia e Síria)”.

Como observou a colunista da RT, Caitlin Johnstone, esse número, “pelo menos 37 milhões”, acontece por pura coincidência “ser o mesmo número de americanos relatados como sofrendo de insegurança alimentar porque seu governo gasta sua riqueza e recursos matando e deslocando pessoas no exterior”.

O relatório também estima em 801 mil o total de mortos da chamada guerra ao terror, cujo custo avaliou em US $ 6,4 trilhões. O total de refugiados pode inclusive ser maior, de até 59 milhões de pessoas, registrou o Common Dreams.

O principal autor do novo relatório, David Vine, professor de antropologia da American University, disse ao New York Times que as descobertas mostram que o envolvimento dos EUA nesses países “foi terrivelmente catastrófico, terrivelmente prejudicial”, de uma forma que a maioria das pessoas nos EUA, incluindo ele próprio, desconheciam.

Como assinala o relatório “Criando Refugiados”, o deslocamento forçado em tempo de guerra, ao lado dos mortos e feridos, são “centrais para qualquer análise das guerras pós-11 de setembro e suas consequências de curto e longo prazo”.

Em última instância, o estudo levanta a questão de “quem é o responsável pela reparação dos danos infligidos aos deslocados”.

“Para colocar esses números em perspectiva, o deslocamento de 37 milhões de pessoas equivale a remover quase tanto quanto “a população do Canadá”, ou todos os residentes do estado da Califórnia ou todas as pessoas do Texas e da Virgínia juntas”, diz o relatório.

Sob outro ângulo, 37 milhões é mais do que os deslocados “por qualquer outra guerra ou desastre desde pelo menos o início do século 20, com a única exceção da Segunda Guerra Mundial.”

Ainda segundo o estudo, outros milhões de pessoas – que não estão incluído no total informado acima – foram deslocadas por “operações de combate menores” de tropas dos EUA na África, o que inclui República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Burkina Faso, Camarões, Mali, Níger e Tunísia.

Por sua vez, Johnstone questiona as próprias bases da chamada ‘guerra ao terrorismo’. Ela assinala que a ‘guerra ao terrorismo’ é apenas “terrorismo de alto orçamento e escala de massa, e também cria mais terrorismo do tipo comum”.

“Os atentados suicidas têm-se mostrado inequivocamente como resultado quase que inteiramente do intervencionismo ocidental; eles eram simplesmente um problema inexistente no Iraque e no Afeganistão antes das invasões dos EUA lá, por exemplo”, destacou.

A “guerra ao terror” – enfatiza – não é apenas o terrorismo em si, é um fato estabelecido que na verdade cria mais do tipo de terrorismo que pretende eliminar. “E por que não seria? Por que destruir e desestabilizar nações inteiras não levaria as pessoas a querer lutar contra você? É evidente que sim, apenas usando sua própria empatia e compreensão da natureza humana”. Outro estudo sobre o assunto, “Journey to Extremism in África”, de 2017, concluiu que muitos indivíduos são levados a aderir a grupos violentos após incidentes de violência patrocinada pelo governo, como “assassinato de um membro da família ou amigo ” ou“ prisão de um membro da família ou amigo ”.

Da mesma forma, a Stimson Task Force on US Drone Policy, composta por ex-altos funcionários da CIA, Departamento de Defesa e Departamento de Estado, alertou em 2014 que os ataques dos EUA fortaleceram grupos islâmicos radicais no Oriente Médio, África e Sul da Ásia. Ou seja, a “guerra ao terror” faz exatamente o oposto do que diz pretender fazer.

E por que atacar com drones casamentos e funerais, ou massacrar civis desarmados a partir de um helicóptero de guerra norte-americano, como visto no famoso vídeo do “Assassinato Colateral”, exposto pelo WikiLeaks, ou explodir portas de casas de família em operações aleatórias teriam outro desfecho?

Então – indaga Johnstone -, “por que isso continua? Por que esse projeto de intervenção e ocupação em grande escala não apenas continua, mas na verdade está aumentando, apesar do fato de sabermos, sem sombra de dúvida, que tudo o que ele faz é criar mais miséria, deslocamento e terrorismo?”

Sua conclusão: foi “exatamente para isso que foi projetado”. Os EUA matam e deslocam pessoas em regiões geoestrategicamente cruciais e ricas em recursos sob o pretexto de combate ao terrorismo, desencadeando resistência e extremismo, e depois usam isso para para justificar “ainda mais intervencionismo” e o sufocamento das nações que ousaram desobedecer. “O óleo continua fluindo. O dinheiro continua acumulando. E o ritmo continua”, sublinhou.

A maior dessas operações, a Guerra do Iraque, conforme o escritor John Le Carré, autor de clássicos da literatura da espionagem na Guerra Fria, não passou de “uma velha guerra colonial travestida de cruzada pela vida e pela liberdade do Ocidente”.

“Uma conspiração criminosa e imoral. Nenhuma provocação, nenhuma ligação com Al-Qaeda, nenhuma arma do Armagedon. Histórias de cumplicidade entre Saddam e Osama foram baboseiras para fins utilitários”, denunciou.

“Foi lançada por um bando de fantasistas geopolíticos judaico-cristãos, famintos de guerra que sequestraram a mídia e exploraram a psicopatia norte-americana pós 11 de setembro”, acrescentou o escritor.

“Estamos olhando é para a mais velha América. Puritanos fanáticos chacinando selvagens em nome do Senhor – é possível ser mais velho do que isso? Foi genocídio então, é genocídio agora”.

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