Manifestantes ocuparam as ruas centrais de Atlanta

Os crimes motivados por racismo contra norte-americanos de origem asiática foram alvo de novo protesto na cidade Atlanta, neste sábado (20).

A manifestação ocorre dias depois que oito pessoas, incluindo seis mulheres de ascendência asiática, foram mortas em vários tiroteios na capital do Estado da Geórgia.

Com cartazes com os dizeres “Parem o ódio contra os asiáticos”, o protesto teve início no Parque Woodruff e se dirigiu ao Capitólio do Estado (equivalente a nossas Assembleias Legislativas) , exortando as pessoas a se unirem “para chorar, curar e apoiar umas às outras” no repúdio ao ódio e à discriminação racial nos Estados Unidos.

Entre outras palavras de ordem, a multidão entoou “Pare o ódio asiático!”. Os manifestantes também agitaram bandeiras norte-americanas e carregaram cartazes que diziam “Não somos o vírus”, entre outras mensagens.

Em frente ao Capitólio, dois senadores do Partido Democrata, eleitos recentemente pelo Estado da Geórgia, Raphael Warnock e Jon Ossoff, juntaram-se à multidão em um momento de silêncio.

“Eu só queria passar por aqui para dizer aos meus irmãos e irmãs asiáticos: ‘Vemos vocês e, mais importante, vamos apoiá-los”, disse Warnock, que pediu uma “reforma” da lei sobre armas.

Junto com Warnock, o primeiro senador afro-americano da Geórgia, esteve Ossoff, que exigiu: “Vamos construir um Estado e uma nação onde ninguém viva com medo por ser quem é ou por causa de sua origem ou de sua família.”

Três ataques armados a salões de massagem em Atlanta, na terça-feira (16), causaram o assassinato de seis mulheres de ascendência asiática no mais recente episódio da violência que só tem crescido desde que o governo Trump difundiu a falsidade do “vírus chinês” e empreendeu uma campanha para apresentar os chineses como ladrões da prosperidade norte-americana e espiões, o que acabou tornando todos os asiáticos em alvos potenciais.

A chancelaria sul-coreana disse que quatro das vítimas assassinadas eram mulheres de ascendência coreana, enquanto duas das outras vítimas tinham nomes chineses. Nos ataques, também foram mortos uma mulher e um homem brancos.

O autor dos tiroteios, Robert Aaron Long, um jovem branco fanático por armas, já foi preso, com a polícia alegando que o ataque não teve motivação racial e o alvo seria “o vício do sexo”.

“Independentemente das voltas que você possa dar, os fatos continuam os mesmos: foi um ataque à comunidade asiática “, disse Bee Nguyen, o primeiro vietnamita-americano a servir na Câmara dos Deputados estadual.

Ressaltando que o alvo do ataque eram empresas dirigidas por asiático-americanos, Nguyen pediu justiça “não apenas para essas vítimas, mas para todas as vítimas da supremacismo branco”.

O presidente Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris, pressionados pela grande repulsa que o crime despertou na sociedade, viajaram para Atlanta na sexta-feira (19) para se encontrar com líderes da comunidade asiático-americana e pedir à população que se levante contra o ódio a essa comunidade e se manifeste contra ele.

E não foi só na Geórgia que houve protestos contra o racismo. Em Nova York, segundo relatos locais, centenas de pessoas também se reuniram na praça Times Square e marcharam de lá para a Chinatown (área urbana em que reside uma grande população de origem chinesa) de Manhattan.

Na Chinatown, bairro de maioria de norte-americanos de origem asiática na cidade de San Francisco (Califórnia), na costa oeste, protestos semelhantes também ocorreram.

Em Pittsburgh (Pensilvânia), a atriz de ascendência sul-coreana Sandra Oh liderou uma manifestação contra o racismo que atinge a população de origem asiática. ‘Para muitos em nossa comunidade, esta é a primeira vez que conseguimos expressar nosso medo e raiva, e estou realmente grata por todos estarem dispostos a ouvir’, disse.

Entre 19 de março de 2020 e 28 de fevereiro de 2021, houve 3.795 relatos de incidentes que variam de comentários racistas a ataques violentos contra asiáticos. Segundo dados do Centro de Estudos do Extremismo da Universidade Estadual da Califórnia, no ano passado, os crimes de ódio contra asiáticos nas 16 das maiores cidades americanas

aumentaram 150% em relação ao ano anterior – ainda que o total de crimes de ódio denunciados à polícia tenha diminuído durante a pandemia.

Entre as grandes cidades, Nova York foi a que registrou o maior aumento. Em 2020, houve 28 incidentes. Em 2019, apenas 3, de acordo com dados do departamento de polícia da cidade. Só no mês passado, vários ataques a vítimas asiáticas foram denunciados à polícia, incluindo a violência contra uma idosa que foi empurrada para fora de uma padaria no Queens. Mas nenhum dos incidentes foi registrado como crime de ódio.

No sudeste dos EUA, onde fica Atlanta, as comunidades asiáticas vêm denunciando o aumento dos crimes de ódio. Esta semana, flores foram colocadas diante dos locais onde Robert Aaron Long matou oito pessoas na terça-feira (16). “A supremacia branca está literalmente nos matando”, disse Stephanie Cho, diretora da ONG Asian Americans Advancing Justice, de Atlanta. “A violência contra as comunidades asiáticas passou despercebida por muitos anos”, constatou.