A imagem é reprodução de aviso de confisco do portal de notícias PressTV

O porta-voz da missão do Irã nas Nações Unidas, Shahrokh Nazemi, repudiou a pirataria e censura cometidas pelo governo Biden contra o portal de notícias PressTV e outros canais de informação na internet, arbitrariamente derrubados e confiscados na terça-feira (22), acrescentando que os Estados Unidos estão tentando amordaçar a liberdade de expressão e impedir a circulação de informações.

“Ao rejeitar essa ação ilegal e intimidadora, que é uma tentativa de limitar a liberdade de expressão, a questão será tratada por meio de canais legais”, disse Nazemi.

Além do PressTV, também foram pirateados, com o selo do FBI e do Departamento do Comércio, os portais Al Alam (este, em árabe, persa e inglês), Al Masirah, sediado em Beirute e ligado às forças revolucionárias que combatem a invasão saudita no Iêmen, a agência de notícias iraquiana Al Maluma, mais os canais de televisão iraquianos Al Karbala, Afaq TV, Al Naeem e Asia TV.

Segundo o New York Times, os portais bloqueados são “várias dezenas”, acrescentando que isso acontece “exatamente quando as negociações para trazer os Estados Unidos e Teerã de volta a um acordo nuclear internacional pareciam estar se aproximando de uma decisão final”.

A líder da entidade pacifista Code Pink, a norte-americana Medea Benjamin, pelo Twitter, ironizou a medida, comentando que “eu pensava que o governo Biden estava fazendo a paz com o Irã”.

Mick Wallace, membro do Parlamento Europeu (PE) pela Irlanda, afirmou que a medida dos EUA para fechar uma longa lista de meios de comunicação que desafiam a narrativa do establishment norte-americano “é um exemplo flagrante de que Washington não pode mais se gabar de que promove a democracia em todo o mundo”.

Washington ainda não se pronunciou oficialmente a respeito, mas uma fonte, sob anonimato, asseverou que a decisão partiu das autoridades norte-americanas como retaliação a sites que “espalham desinformação”.

Por meio de nota divulgada nesta quarta-feira, a Organização de Rádio e Televisão da República Islâmica do Irã (IRIB), à qual são ligados a Press TV e Al Alam, denunciou “a violação flagrante da liberdade de expressão e o ataque aos meios de comunicação livres e independentes”, que condenou categoricamente.

A instituição iraniana classificou de “vergonhosos” os duplos padrões dos EUA que, enquanto alega defender a liberdade de expressão, ao mesmo tempo bloqueia a mídia que expressa pontos de vista diferentes.

O IRIB anunciou que irá mobilizar todas as capacidades técnicas e jurídicas disponíveis contra a desprezível medida norte-americana para evitar que seu público perca o acesso aos domínios que Washington confiscou arbitrariamente.

Além disso, prometeu perseguir pelos canais legais e pelas autoridades nacionais e internacionais competentes as tentativas de Washington de obstruir o livre acesso à informação e defender os direitos desta mídia que representa a nação iraniana.

O Conselho de Solidariedade ao Iêmen (YSC) rechaçou “o silenciamento deliberado da voz iemenita pelo regime americano”.

Por sua vez, em comunicado, a Al Masirah denunciou que a ação foi realizada “sem qualquer justificativa ou mesmo aviso prévio” e condenou “a pirataria norte-americana e o confisco de direitos autorais”.

Ainda segundo a nota, Al Masirah “não ficou surpresa” com a arbitrariedade, por vir “daqueles que supervisionaram os crimes mais hediondos contra nosso povo”.

O portal iemenita acrescentou que essa proibição “revela, mais uma vez, a falsidade dos slogans da liberdade de expressão e de todas as outras manchetes promovidas pelos Estados Unidos da América, inclusive sua incapacidade de enfrentar a verdade”.

Através de seu canal no Telegram, a Al Masirah, que anteriormente tinha seu site sob o domínio .net, anunciou que mudou para .com. Mesmo procedimento que deverá ser adotado pelos demais portais e inclusive alguns já voltaram ao ar após reabrir novas páginas em outros domínios.

Em 2018, Trump fizera o mesmo com a agência iraniana FARS, que mudou de domínio e voltou ao ar. Amir Rashidi, diretor de direitos digitais e segurança do Miaan Group e especialista em tecnologia iraniana, comparou a ação de

Washington a “um jogo de caça-toupeira – você fecha este domínio, eles abrem outro e não há nada que se possa fazer.”

Na semana passada, o juiz Ebrahim Raisi, considerado por Washington ‘linha-dura’, foi eleito por ampla margem o novo presidente iraniano. Em Viena, onde estão ocorrendo as negociações para a restauração plena do Acordo JCPOA (mais conhecido como ‘acordo nuclear’ com o Irã), rompido pelo antecessor de Biden, as avaliações eram principalmente positivas. O principal negociador russo, Mikhail Ulyanov, chegou a prever até um possível avanço em meados de julho, Agora, não se sabe quais as consequências dessas e outras atitudes provocativas dos EUA sobre o avanço dos entendimentos.