EUA: americanos vão às ruas contra restrições ao direito do voto
Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em Washington, Houston, Atlanta e outras cidades dos EUA para defender o direito ao voto dos negros, latinos, asiático-americanos, dos setores mais vulneráveis do país, e protestar contra leis aprovadas em vários estados liderados pelos republicanos.
Desde janeiro, pelo menos 18 estados adotaram um total de 30 leis eleitorais restritivas, com dezenas de outras sob consideração, de acordo com o Brennan Center for Justice, um instituto de políticas públicas sem fins lucrativos.
Nos EUA o voto não é obrigatório e as leis variam em cada estado e vão desde a obrigação de ter um endereço fixo para inscrição nas listas eleitorais, que muitas vezes é localizado muito distante da residência; até a proibição de votar desde o carro (drive-through) em plena pandemia. São “leis racistas e antidemocráticas de supressão de eleitores”, denunciam, exigindo que o Congresso tome providências sobre o assunto e aprovem uma lei federal que garanta o direito ao voto para todos.
Cerca de 20.000 pessoas se reuniram em Washington, com bandeiras do Black Lives Matter (“Vidas Negras Importam”), segurando faixas com dizeres como “Direito ao voto para todos” ou “O voto é sagrado”. Os manifestantes marcharam da Casa Branca ao Capitólio, sede do Congresso.
A data das mobilizações não foi escolhida ao acaso: foi em 28 de agosto de 1963 quando, diante de cerca de 250 mil pessoas, Martin Luther King proferiu seu discurso “Eu tenho um sonho”, que se tornou uma referência na luta pelos direitos civis da população negra dos EUA.
Na manifestação deste sábado, seu filho Martin Luther King III falou sobre a necessidade de salvaguardar a democracia norte-americana e garantir o direito de voto para todos.
“Como você impede que certas pessoas votem sem dizer explicitamente que não podem votar? Você reduz o voto pelo correio, reduz os centros de votação, as horas para votar. Aí você faz com que a votação seja em dias úteis”, listou Luther King III, acrescentando que isso afeta especialmente os trabalhadores afro-americanos e latinos.
“Faremos história carregando a tocha da justiça que meu pai e tantos outros carregaram 58 anos atrás”, disse, antes de pedir à multidão que “não abandonasse” a luta pela igualdade nas urnas. “São vocês que carregam esse sonho e chegou a hora de realizá-lo”, assinalou aos manifestantes.
Alertou que o momento atual é perigoso porque em questão de semanas os congressos estaduais vão desenhar o mapa dos distritos eleitorais e podem, em muitos casos, colocar obstáculos para o voto das minorias.
Em 2022, estão previstas para serem realizadas as eleições de meio mandato nos Estados Unidos, onde serão renovadas as duas casas do Congresso do país.
Em 1965, o Congresso dos Estados Unidos adotou a Lei de Direitos de Voto, destinada a proibir medidas eleitorais discriminatórias. Mas, alguns estados, principalmente no sul, aprovaram muitas mudanças aparentemente técnicas que tornam mais difícil para os afro-americanos – que tendem a ser eleitores mais progressistas – votarem.
Esse processo se acelerou recentemente quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez alegações mentirosas de que uma fraude maciça lhe custou a vitória na eleição presidencial de novembro de 2020. E nunca provou uma vírgula das falsas acusações de repetiu à exaustão.
A Câmara dos Deputados, de maioria democrata, aprovou neste ano dois projetos de reforma eleitoral que visam limitar essas restrições, mas os textos atualmente têm dificuldade de superar o bloqueio republicano no Senado.