EUA admite que seu último ataque em Cabul matou 10 civis
O general americano Frank McKenzie, comandante do Comando Central dos EUA (USCENTCOM), admitiu na sexta-feira (17) que eram civis os dez mortos pelo ataque de drone norte-americano na véspera da retirada final do Afeganistão, e não ‘terroristas do Estado Islâmico’, como o Pentágono tentou sustentar por mais de duas semanas. Na chacina, seis eram crianças entre 2 e 8 anos, e dois adolescentes.
“Uma análise abrangente de todas as imagens disponíveis e relatórios sobre o assunto nos levou a uma conclusão final de que até dez civis foram mortos no ataque, incluindo até sete crianças”, acrescentou o general dos EUA.
McKenzie disse que a decisão de ordenar o ataque aéreo “foi um erro” e assumiu total responsabilidade pelo “desfecho trágico” do ataque – uma forma cínica de chamar o que é, pela lei internacional, um crime de guerra.
Por mais de duas semanas, o Pentágono insistia em manter a fábula dos “terroristas do Estado Islâmico que ameaçavam o aeroporto de Cabul”, apesar de sete crianças mortas e dos sobreviventes relatarem com detalhes como o massacre ocorreu.
Como assinalou no dia seguinte à chacina a agência de notícias Al Jazeera, os dois adultos mortos inclusive tinham sido contemplados com o visto norte-americano para serem evacuados com a família. “As famílias Ahmadi e Nejrabi empacotaram todos os seus pertences, esperando ordem para serem escoltados até o aeroporto de Cabul e finalmente se mudarem para os Estados Unidos” – mas “a mensagem que Washington enviou foi um foguete em suas casas em um bairro de Cabul”.
Fotos do local demonstravam que era falsa a alegação, feita pelo Pentágono de que teria havido ‘explosões secundárias’ após o veículo ser atingido pelo míssil disparado pelo drone, o que seria a comprovação de que seria um carro-bomba em preparação.
Até mesmo grandes veículos de mídia dos EUA, como o New York Times e a CNN, já haviam desembarcado desse encobrimento, tornando inviável a insistência na mentira.
No dia 26 de agosto, um suicida do Estado Islâmico se explodira na aglomeração na entrada do aeroporto de Cabul, com um grande número de mortos, causando um enorme desgaste para o governo Biden, e havia um clima de pânico em Washington de que o caso se repetisse. Testemunhas inclusive afirmam que uma parte importante dos mortos do dia 26 não foi causada pela explosão, mas depois, por tiros na cabeça desferidos por soldados norte-americanos ensandecidos.
O motorista do carro destroçado pelo drone, Zemari Ahmadi, era funcionário da organização não governamental (ONG) norte-americana Nutrition and Education International. O outro irmão também tinha prestado serviços de intérprete aos norte-americanos. Zemari não estava carregando explosivos para o carro, mas recipientes para buscar água para sua casa.
O general comandante acrescentou que os EUA estão estudando a ideia de fazer pagamentos de indenização às vítimas do ataque do drone – uma prática comum nos 20 anos de ocupação.
Sobre a qual o cineasta e jornalista John Pilger relatou o caso de uma mulher cuja casa de lama, pedra e palha foi explodida por uma bomba despejada por um F-16, matando e despedaçando o marido e os filhos.
A viúva recebeu meses depois um envelope com quinze notas: um total de US$ 15. “Dois dólares para cada um de minha família morta”, disse ela. Segundo um estudo da Universidade Brown, mais de 70 mil civis foram mortos pela ocupação norte-americana.